sábado, 24 de junho de 2023

HORAS MORTAS

 

(FOTO DA INTERNET)

HORAS MORTAS
Alberto de Oliveira (28/04/1857 a 19/01/1937)

Breve momento, após comprido dia
De incômodos, de penas, de cansaço
Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me entregar, doce Poesia.

Desta janela aberta à luz tardia
Do luar em cheio a clarear o espaço,
Vejo-te vir, ouço-te o leve passo
Na transparência azul da noite fria.

Chegas. O ósculo teu me vivifica.
Mas é tão tarde! Rápido flutuas
Tornando logo à etérea imensidade;

E na mesa a que escrevo apenas fica
Sobre o papel — rastro das asas tuas - 
Um verso, um pensamento, uma saudade.

(LIVRO GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA, PÁGINA 81)


Nenhum comentário:

Postar um comentário