sábado, 12 de julho de 2025

TROVAS DE VANDA F. QUEIROZ

 



        TROVAS DE VANDA F. QUEIROZ

 

O sol, carimbo dourado,

sobre um fundo azul, bonito,

é um traço de Deus, timbrado

nas páginas do infinito!

 

Conheço gente que adora

matizar, a seu contento,

o fulgor de um céu de aurora,

em tons de negro e cinzento...

 

Creio que Alguém nos conduz,

pela ponte compreendida

entre uma estrela e uma cruz,

sobre a passagem da Vida.

 

Muito do bem que se alcança

não vem ao acaso, a esmo,

mas depende da confiança

que o homem põe em si mesmo.

 

(DO LIVRO MOTIVOS E MATIZES-2012)

TROVAS DO FILEMON

 



TROVAS DO FILEMON

 

Não me queixo desta vida,

apesar da minha idade.

Queixo, sim, da despedida

que me trouxe esta saudade.

 

        Quando a amargura me assalta

        e a tristeza o peito invade,

        eu sinto que a tua falta

        vai me matar de saudade.

 

Nesta manhã reluzente

de sol aquecendo a terra,

vejo a beleza presente

no teu olhar cor de serra.

 

        Entre flores, no meu sonho

        estavas nos braços meus.

        Mas de repente, tristonho,

        acordei ouvindo “adeus”. 

UM APÓLOGO - MACHADO DE ASSIS

 



 UM APÓLOGO    (A agulha e a linha)

Machado de Assis 

 

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?

- Deixe-me, senhora.

- Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

- Mas você é orgulhosa.

- Decerto que sou.

- Mas por quê?

- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

- Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?

- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...

- Também os batedores vão adiante do imperador.

- Você é imperador?

- Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana - para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima.

A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E quando compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:

- Ora agora, diga-me quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: - Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

 

CONSEQUÊNCIA - FILEMON MARTINS

 



 CONSEQUÊNCIA

                                                 Filemon Martins

               

Brigamos sem motivo. Era Setembro,

o campo estava verde e havia flores.

O céu cheio de estrelas, eu me lembro,

e recordo  também dos dissabores.

 

Bem alto ela me disse: “não sou membro

desta família que me trouxe dores.

Quero partir, não fico outro dezembro,

quero ter, pelo mundo, outros amores”.

 

E partiu... Nada fiz, fiquei calado,

o silêncio, por certo, dá um jeito

e não carece de nenhum cuidado...

 

O tempo vai passando e quando a vejo,

ela disfarça a dor que vai no peito,

e eu finjo que não sinto mais desejo.

 

ENGRENAGEM CRIMINOSA - FILEMON MARTINS

 



ENGRENAGEM CRIMINOSA

Filemon Martins

 

Não se tem a pretensão de monopolizar a verdade, mesmo porque a verdade é relativa, depende de circunstâncias, depende de ponto de vista, depende do momento e do ângulo em que observamos os fatos. No episódio bíblico do julgamento de Cristo, conforme os evangelhos, Pilatos perguntou a Jesus: - Que é a verdade? Hoje, minha verdade pode não ser a mesma de amanhã. Além do mais, a minha verdade pode não ser a verdade dos outros, especialmente quando estou convencido de que minha opinião e somente minha opinião é a verdade.

Mas há fatos que ocorrem e que não podem ser contestados. É o caso, por exemplo, que vem ocorrendo com os nossos políticos, incluindo aí empresários, administradores, gestores, que, sem nenhum pudor vão desviando dinheiro público de suas finalidades, deixando a população brasileira ao deus dará. É o caso agora do INSS, um roubo descarado dos aposentados.

Essa engrenagem criminosa de políticos corruptos que atuam no Brasil é muito poderosa. E não estou me referindo às quadrilhas de Fernando Beira-Mar, Marcola e outros.

Estou me referindo à classe política mesmo, com raríssimas exceções, com seu corporativismo predatório. O desmonte da Operação Jato revelou de maneira bem clara como funcionou o aparato e a estrutura montada pelos corruptos, com o apoio dos que sugam os parcos recursos do Brasil e o aval do presidente da República ao afirmar que em seu governo não havia corrupção. Tudo foi milimetricamente planejado, pensado, para não ferir a sensibilidade da sociedade brasileira, refém de uma classe política sem caráter, de um Legislativo perverso e de um Judiciário infectado pelos vírus das indicações e subserviência aos interesses escusos.

É sempre oportuno lembrar que, pelo menos 7 dos 11 ministros do STF foram indicados por Lula e Dilma, portanto todos simpáticos e ligados ao PT.  

Era previsível, então, que decisões favoráveis ao líder maior do partido fossem acontecer.

Assim, sorrateiramente, o recado foi dado à sociedade brasileira: ¨se você estiver disposto a denunciar algum político por corrupção, é melhor ficar calado, porque você é quem vai se dar mal¨. Eles têm um bando de advogados bem pagos para defendê-los e todos no final serão inocentes, injustiçados perante a sociedade ingênua e sem memória.

É impressionante como o tempo tem o poder de apagar a memória de nosso povo. Hoje Lula está livre e para muitos é inocente. Outro dia reli uma manchete em letras garrafais de jornal antigo: ¨Lula e família descansam em seu sítio em Atibaia¨. Mas o sítio de Atibaia do Lula, não é do Lula, pertence ao amigo do Lula, é o que dizem para os imbecis.

Observe-se que o objetivo da trama é denegrir, massacrar a imagem de um juiz federal concursado, que teve a coragem, a “petulância” de julgar, sentenciar e condenar o réu a 9 anos de prisão, depois de inúmeros recursos teve a sentença confirmada e aumentada por três desembargadores da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da Quarta Região, para 12 anos. Nesse momento, apareceu um Desembargador indicado pelo partido do condenado e anula tudo quanto foi feito e investigado até aquela data, sob a alegação de que a 13ª Vara de Curitiba não tinha competência para julgar o processo. Dessa forma, Lula se torna elegível e seus partidários gritam pelas ruas como loucos, burros, ou tem o mesmo caráter, que Lula é ¨inocente¨. O povo sim é inocente, mas os autores da trama querem mesmo é a continuação das falcatruas, dos conchavos e das gordas propinas. Pobre País, chamado Brasil!   

 


FALAR COM DEUS - JOAQUIM RODRIGUES DE NOVAIS

 



 

​FALAR COM DEUS

Joaquim Rodrigues de Novais

Ninguém imagina o que a gente sente. 
Ninguém sabe o que a gente pensa. 
Só Deus sabe dos nossos sentimentos, dor e sofrimento.

Só ele sabe de tudo, às vezes a gente chora por dentro, mas fala  
com Deus em todos os momentos.

Falar com Deus é viver o amor e sentir a paz que vem do Senhor.

Só ele sabe de onde eu vim e para onde vou.

Que Deus abençoe as famílias para que tenhamos paz buscando ao Senhor Jesus Cristo, expulsando de nossas vidas, o satanás!


Ipupiara, 11/07/2025


sexta-feira, 11 de julho de 2025

PARA MARIA THEREZA CAVALHEIRO - AMARYLLIS SCHLOENBACH

 



Para Maria Thereza Cavalheiro

GIRÂNDOLA
Colaboração de Amaryllis Schloenbach para o site www.falandodetrova.com.br
Endereço para contato: amarylliss@uol.com.br
Setembro 2019 - Homenagem póstuma a MARIA THEREZA CAVALHEIRO
Com a chegada de setembro, época da volta da primavera, da Natureza nos brindar, de novo, com lindas flores, paisagens ensolaradas e alegres sons dos pássaros no ar, venho trazer à lembrança a figura de Maria Thereza Cavalheiro, que exatamente no dia dois deste mês, no ano passado, deixou o nosso convívio para ir ao encontro de tantos outros trovadores amigos, que já se foram, mas não sem antes nos ensinar, através de inspiradas trovas, a saborear a riqueza de sentimentos a que esse gênero poético nos abre o horizonte.
Ela foi não só uma de nossas maiores trovadoras, como também desde jovem, uma grande pesquisadora do assunto, que ao entrevistar o imortal Jorge Amado, dele coletou a famosa declaração que está presente, nem sempre em sua forma completa, em inúmeras citações, em incontáveis obras de trovadores de todo esse nosso Brasil:
" Quem quiser que diga que a trova é um gênero menor de poesia... Para mim não há gênero menor nem maior: sendo o poema belo, não importa o gênero, ele é maior pois nada existe de comparável à poesia, não pode haver criação literária mais popular, que fale mais diretamente ao coração do povo. É através da trova que o povo toma contato com a poesia e sente sua força. Por isso mesmo a trova e o trovador são imortais".
Maria Thereza foi uma grande incentivadora dos trovadores, e manteve colunas de trovas em vários jornais e revistas de nosso País. A mais duradoura, que teve início em outubro de 1977, no jornal mensal "O Radar" de Apucarana-PR, só foi descontinuada 41 anos depois, em 2018, com seu falecimento.
Divulgou uma grande plêiade de trovadores através de seu trabalho voluntário junto à fábrica das "Gotas de Pinho Alabarda", com a seleção e coleta das respectivas autorizações dos trovadores, que tinham seus versos setissílabos reproduzidos nos adesivos, que acompanhavam as deliciosas e populares balas.
Publicou inúmeros artigos sobre o assunto em vários jornais e revistas de grande tiragem em nosso País, além de engrandecer a trova sempre que era solicitada a dar entrevistas. Apresentou um quadro literário na TV Gazeta, dentro do programa "Linfor em Tempo de Mulher", compareceu a programas de rádio, em várias emissoras de São Paulo. E teve, durante sua presidência, várias das reuniões e eventos da UBT, de São Paulo, televisionados e ou comentados, nos principais jornais, bem como na laboriosa e abnegada imprensa alternativa de todo Brasil.
Dava especial atenção aos iniciantes, e vibrava feliz, a cada vitória de um de seus pupilos. Ensinava, pessoalmente, por telefone, por correspondência, por artigos em revistas, através de livros, com métodos bem simples e didáticos. Era completamente sincera, tanto nas críticas construtivas, quanto nos elogios incentivadores. Movimentava uma vasta cadeia de correspondentes, inclusive em Portugal.
Nos últimos anos, vinha colaborando com "Falando de Trova", um dos baluartes do nosso movimento trovadoresco, através da coluna "Herança Poética", onde transcrevia pequenas joias de nossos trovadores já falecidos, as quais garimpava em seus recheados arquivos.
Ainda em relação ao seu ativismo, ela foi também uma das pioneiras das campanhas ecológicas com "Vamos Vestir São Paulo de Flores", nos tempos da garoa paulistana... Recebeu várias honrarias pela sua constante luta pela preservação do elemento Verde.
Escreveu inúmeras trovas belíssimas sobre o assunto, e durante décadas pesquisou sobre as plantas e sua importância na preservação da vida no nosso planeta. Culminou esse dedicado trabalho com a publicação magnífica do livro paradidático "Nova Antologia Brasileira da Árvore". O que lhe valeu o apelido de "Maria Floresta"... No entanto, seu mais recente trabalho "Consciência Ecológica na Educação" (2014) não chegou a ser publicado ainda, porque na época, o contrato com a Editora foi adiado por conta do panorama financeiro que já apontava para a recessão. Tenho fé que virá a lume, inclusive pela atualidade da proposta.
A Escritora obteve inúmeros prêmios em trovas, mas também muitos outros prêmios em poesias, contos, poemetos, dísticos, no Brasil e em Portugal. E além de seus vários livros publicados, deixou outros tantos trabalhos inéditos, que estão sob minha guarda, para possível publicação. Fui chamada de sua "fiel escudeira" e muito me orgulho de ter estado ao lado dessa admirável Artista, desde a mais tenra infância, e de ter sido sua discípula, amiga e confidente, além do parentesco, sobrinhas-netas que somos, da saudosa pioneira Colombina.
Graças a essa convivência, inclusive fomos colegas de trabalho, afirmo que Maria Thereza Cavalheiro, foi uma criatura do Bem, que não permitiu que a grande tragédia de sua vida a tornasse uma pessoa revoltada, traumatizada, infeliz. Pelo contrário, seu coração era tomado de uma fé inabalável em Deus e no Amor pela humanidade, sempre disposta a ajudar ao próximo. Não só a mim, seu sangue, mas também aos amigos, aos colegas e até mesmo aos estranhos.
Diz a lenda, que a ave mãe pelicano, quando não encontra nada para dar de comer aos seus filhotes, belisca com o bico seu próprio peito para ter com que alimentá-los. Assim era Maria Thereza Cavalheiro, grande alma, uma benemérita, que tem em sua lápide a trova de sua autoria que melhor a define:
"Morte é vida superior
e partiremos felizes
se puder sempre uma flor
brotar de nossas raízes.//
Vamos homenageá-la com trovas de alguns de seus confrades mais afetuosos e mais presentes em sua vida literária:
+++ +++ +++ +++ +++ +++ +++

Trovas... A muitos parece
que são fáceis de compor:
talvez sejam, mas carece
ter alma de trovador.
    COLOMBINA

Vive cá dentro da gente
mas bem mal a gente externa:
- Saudade é morte aparente...
E a Morte - Saudade eterna...
    LUIZ OTÁVIO

No vaivém da vida a gente
muitos percalços aguenta,
porque a fé, seguramente,
é a força que nos sustenta.
    ANALICE FEITOZA DE LIMA

Guia o nauta e o peregrino,
rege os nobres e os plebeus.
- É que o dedo do destino
faz parte da mão de Deus!
    APARÍCIO FERNANDES

A cadeira sem balanço,
a rede em triste orfandade...
uma se rende ao descanso,
a outra embala a saudade.
    DOROTHY JANSSON MORETTI

Mão côncava de quem pede,
mão convexa de quem dá:
o medo que se tem é de
saber o que nelas há.
    GUILHERME DE ALMEIDA

Contemplo, além, as estrelas,
num sonho muito bonito:
- quem dera que, ao conhecê-las,
visse vocês no Infinito!
    ZÊNITH FEITOSA

No porto da longa vida,
aportam longas idades;
os barcos chegam da lida
e descarregam saudades.
    ABGUAR BASTOS
              
O rio seguindo sempre,
vai o oceano encontrar;
trovador morre cantando,
porque não pode chorar.
    ANTONIETA BORGES ALVES

Nunca te esqueço, Maria,
nunca te esqueço, Thereza,
se estás longe, que tristeza,
se estás perto, que alegria!
    BENEDITO R. ARANHA

*** *** *** *** *** *** ***

Eu gosto de andar nos rastros
dos que no céu se mantêm:
quem vai na cauda dos astros
ganha luz própria também!
    JOSÉ OUVERNEY

De quem se parte e reparte,
só uma parte segue em frente...
Com cada amigo que parte,
parte uma parte da gente!
    PEDRO ORNELLAS

Tenho certeza que a trova
- poema feito de amor -
É um sonho que se renova
na vida de um trovador.
    FILEMON MARTINS

Passa o tempo... e enquanto corre,
a lembrança vai sumindo...
Mas a saudade não morre:
- Apenas fica dormindo...
    PEDRO MELO

O tempo é uma chalaça,
ou muito nos enganamos...
Ele só finge que passa,
nós, porém, é que passamos!...
    SILVÉRIO DA COSTA

Após tantas despedidas,
são tantos os reencontros,
que nas emoções vividas
dissipam-se os desencontros.
    JOSÉ FELDMAN

Os poetas e os vulcões
têm almas da mesma essência:
a calma em seus corações
é calma... só na aparência.
    SÉRGIO FERREIRA DA SILVA

Na porta da eternidade,
documento não tem vez.
- O cartão de identidade
é o bem que em vida se fez!
    A. A. DE ASSIS

Com empenho e grande fé,
tenaz na lapidação,
a Poeta mostra quem é,
porque transmite emoção.
    CLARICE VIEIRA LINCK
      
Esta estocada profunda,
que me rouba a paz e a calma,
irrompe meu peito e inunda
desta saudade minha alma!
    AMARYLLIS SCHLOENBACH

SINGULAR FELICIDADE - ARTEMIO ZANON

 



SINGULAR FELICIDADE

Artemio Zanon


Somo um mais um e chego à plenitude

de nossa mais perfeita unicidade;

- não somos dois, que a força da virtude

nos faz ser unos na dualidade.


A nossa união não chega à beatitude

que temos ciência desta sã verdade;

na comunhão, a nossa magnitude

é mais que singular felicidade.


Assim unidos, nada mais se pede.

Lutamos contra tudo o que divide,

opomo-nos a tudo o que nos mede.


Juntos, nenhum de nós por si decide:

quando não posso, sempre és tu quem cede;

quando não queres, nada se transgride.


(A FIGUEIRA, SETEMBRO/2003, PÁGINA 19)

TROVAS DO HILDEMAR

 




TROVAS DO HILDEMAR


Eu não temo minha sorte

e nem lamento a partida,

porque duvido que a morte

seja amarga como a vida!


No Sertão se a chuva some,

a seca traz desencanto;

resta a palma para a fome,

para a sede resta o pranto.


Neste mundo eu pouco somo

e fiquei dele a mercê,

se cheguei sem saber como,

volto sem saber porquê.


A morte, mesmo no atraso,

leva o vivente esquecido.

Ninguém morre por acaso,

e sim, porque foi nascido.


(A FIGUEIRA, JULHO/AGOSTO-2003, PÁGINA 7)

O RELÓGIO - NEIDE BARROS RÊGO

 



O RELÓGIO

Neide Barros Rêgo


Horas depois de me encontrar com ela

e apaixonado arder, preso em seus braços,

eu deparei com o relógio dela

no leito onde repouso meus cansaços.


Quando partiu (eu vi pela janela),

o meu olhar acompanhou-lhe os passos.

Ia ditosa, radiante, bela!

Por certo, ia pensando em meus abraços.


Segurei o relógio, ternamente,

daquela que se fora tão contente,

que o esqueceu no instante da partida.


E constatei, surpreso, estar parado,

talvez para deixar eternizado

o encontro mais feliz da minha vida!


(A FIGUEIRA, JULHO/AGOSTO-2003, PÁGINA 6)

TROVAS DOCE ACONCHEGO Nº 4, ORG. DE JOSÉ FELDMAN

 




TROVAS DOCE ACONCHEGO Nº 4, ORG. DE JOSÉ FELDMAN.


Ao homem, por Deus, foi dado,
astúcia e simplicidade
e por isso, abençoado,
com o dom da piedade.
        Fabiano Wanderley-Natal/RN

Na minha vida pacata
que levo desde menino,
tenho sido um acrobata
no circo do meu destino.
        Filemon Martins-São Paulo

Deus, garimpeiro maior,
vai, no seu mister profundo,
salvando o que há de melhor
pelos garimpos do mundo...
        Flávio Roberto Stefani-Porto Alegre/RS

Aquelas nuvens esparsas
nos horizontes risonhos
bem parecem lindas garças
no lago azul dos meus sonhos.
        Francisco Alcaniz (Chico Traíra)-                      Assu/RN, 1926 – 1989

quinta-feira, 10 de julho de 2025

REVISITANDO CASTRO ALVES - FILEMON MARTINS

 




REVISITANDO CASTRO ALVES (1847-1871) 

Filemon Martins


Antônio Frederico de CASTRO ALVES nascido na Fazenda Cabaceiras, Curralinho, hoje cidade de Castro Alves, Bahia, um dos mais populares poetas do Brasil, escreveu versos admiráveis, entre outros, “O NAVIO NEGREIRO – Tragédia no mar”, do qual extraímos parte da VI estrofe:

“E existe um povo que a bandeira empresta/pra cobrir tanta infâmia e cobardia!... /E deixa-a transformar-se nessa festa/em manto impuro de bacante fria!... /Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta, /que impudente na gávea tripudia?!.../Silêncio!...Musa! chora, chora tanto/que o pavilhão se lave no teu pranto.../Auriverde pendão de minha terra,/que a brisa do Brasil beija e balança,/Estandarte que a luz do sol encerra/às promessas divinas da esperança.../Tu, que da liberdade após a guerra,/foste hasteado dos heróis na lança,/antes te houvessem roto na batalha,/que servires a um povo de mortalha”!...

Parece que o poeta baiano escreveu estes versos, que considero um dos mais belos e significativos da Língua Portuguesa, nos dias atuais. Se hoje não temos a escravatura a que se referia o poeta, continuamos escravos do analfabetismo, da corrupção, da política de exclusão social, do desemprego, do crescimento da miséria, da fome, da violência, do medo, dos preconceitos, da falta de investimentos em educação, segurança e saúde, da submissão ao poder econômico. Aqueles que vivem em seus gabinetes atapetados e não têm contato com o povo, não percebem ou fingem não perceber como tem aumentado o exército de desempregados e consequentemente da fome e da miséria, hoje esperando o Bolsa Família do Governo Federal.

Não malhamos o Brasil, mas sim aqueles que têm tido a responsabilidade de dirigir os destinos do País e não enxergam o futuro. Nasci e cresci no interior da Bahia e, em busca de dias melhores, como outros o fizeram, me transferi para São Paulo, onde trabalhei e estudei, e sempre ouvi falar em programas de erradicação do analfabetismo. Aos 75 anos, constato entristecido, que pouco se fez para alcançar tal objetivo. A educação, no Brasil, assim como a saúde, transportes, saneamento básico e qualidade de vida, nunca foram prioridades de nenhum governo.

Dizer que a “saúde é universal, que temos salário mínimo, garantias individuais, direitos sociais e somos uma grande democracia do mundo ocidental” não enche barriga de ninguém, nem satisfaz a busca da sociedade brasileira por dias melhores, por um Brasil decente, digno, com oportunidades iguais para seus filhos, e grande não somente na dádiva da Natureza, que, a bem da verdade nunca soubemos aproveitar.

Utilizar os serviços e tecnologia de ponta em hospitais como o Albert Einstein ou Instituto do Coração, em São Paulo, não é a mesma coisa que frequentar hospitais públicos da rede municipal ou estadual. Estudar na USP e na FATEC, além de ser menos oneroso, não é a mesma coisa que estudar em Universidades, que, embora pagas e caras, não oferecem um ensino esmerado.

O que se questiona é que não avançamos. Por que não avançamos? Dirão os tecnocratas de plantão que a economia do mundo mudou. Sim, mas mudou para todos. Por que, então, recuamos? Ao longo do tempo, nossos governadores de Estado nunca deram maior importância aos verdadeiros problemas sociais. Sempre procuraram soluções paliativas, sem debelarem as causas da doença. A pandemia do Coronavírus em 2020/2021 escancarou nossa deficiência na saúde pública, porque não houve investimentos como deveria.

Enquanto isso, as imagens na televisão e os artigos em jornais e revistas mostram a situação caótica do povo em meio à crise do vírus. Nossos Hospitais e Unidades Básica de Saúde estão sem máscaras, luvas, aventais e outros equipamentos de segurança que poderiam ser fabricados aqui mesmo. Há tantas empresas que atuam na área de confecções e tecelagens paradas. Por que não fazer contratos com elas para fabricação desses acessórios? Precisamos valorizar a indústria brasileira, que é capaz e competente. Não precisamos importar máscaras, luvas e aventais chineses. Corremos o risco de sermos infectados novamente por esse e outros vírus desconhecidos. Esse fato me fez lembrar de uma história escrita pela colunista Helena Silveira, da Folha, que em passeio na Argentina com uma amiga, entrou numa loja e viu uns lenços de seda de primeira qualidade. Comprou e comentou com a amiga: -¨imagina se no Brasil vou encontrar lenços assim¨? Chegando ao hotel, abriu a embalagem para admirar a compra e veio a surpresa: a etiqueta dizia Indústria Brasileira. Vamos dar valor ao Brasil. O Brasil é um continente que merece ser visto, amado e respeitado pelos brasileiros. Nas próximas eleições não se esqueça desses políticos corruptos, alguns já condenados, que só querem propina e entregar o Brasil, como outrora Judas entregou o Mestre por um punhado de moedas. Use a massa cinzenta que você tem entre uma orelha e outra. Ative sua memória. Fuja deles!

 


CRÍTICA AO LIVRO "FAGULHAS" - MARIA JOSÉ ZANINI TAUIL

 




CRÍTICA AO LIVRO "FAGULHAS":



Para mim, FILEMON MARTINS é um dos maiores sonetistas da atualidade, junto com Théo Drummond. Métricas e rimas perfeitas, sem a obscuridade e subjetividade dos simbolistas, mas com a lapidação e a forma artesanal dos parnasianos. Conhecia pouco seus textos em prosa e surpreendi-me com esse livro. Vejo a preocupação de um brasileiro que ama sua pátria, abordando temas contemporâneos com a convicção de quem sabe o que diz e o que escreve.

A modernidade exige a síntese, ou "se contenta com pouco" na expressão de Paul Valèry. Filemon o faz com maestria, mas no pouco, consegue dizer tudo.

Há um convívio estreito entre os elementos da natureza, da cultura, da política e, evidentemente, da poética. O autor está atento às vozes da consciência, ao desejo de registrar e homenagear grandes nomes de escritores, de poetas e de amigos, que conheceu ao longo da vida e teve o prazer de ser leitor.

Impregnado de modernidade, demonstra pensamento rico de reminiscências de um saudoso passado. Todos os problemas de nossa época passam pelos intrincados corredores de "FAGULHAS". É um livro atual, pois, se Lula não é mais presidente, continua nos bastidores; o PT continua no poder e as falcatruas são as mesmas.

O que pretende Filemon é contribuir para um "renascimento da ética". Como bom cristão, sabe que não resolverá os problemas brasileiros, mas faz a sua parte. Outra proposta é a de enriquecer a biografia dos autores escolhidos.

Rico em argumentos, FILEMON convence o leitor, além de traçar um belo retrato de cada um dos homenageados, é também grande contador de histórias.

Eu gostei muito. Confira você também!


Maria José Zanini Tauil

Professora de Literatura