quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

VISITA À CASA PATERNA

 




VISITA À CASA PATERNA

Luis Guimarães Júnior


Como a ave que volta ao ninho antigo

Depois de um longo e tenebroso inverno,

Eu quis também rever o lar paterno,

O meu primeiro e virginal abrigo.


Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,

O fantasma talvez do amor materno,

Tomou-me as mãos, - olhou-me, grave e terno,

E, passo a passo, caminhou comigo.


Era esta sala... (Oh! se me lembro e quanto!)

Em que da luz noturna a claridade

Minhas irmãs e minha mãe... O pranto


Jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?

Uma ilusão gemia em cada canto,

Chorava em cada canto uma saudade.


(LIVRO "GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA", PÁGINA 95) 

HORAS MORTAS

 



HORAS MORTAS

Alberto de Oliveira


 

Breve momento, após comprido dia

De incômodos, de penas, de cansaço,

Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,

Posso a ti me entregar, doce Poesia!


Desta janela aberta à luz tardia

Do luar em cheio a clarear o espaço,

Vejo-te vir, ouço o leve passo

Na transparência azul da noite fria.


Chegas. O ósculo teu me vivifica.

Mas é tão tarde! Rápido flutuas,

Tornando logo à etérea imensidade;


E na mesa a que escrevo apenas fica,

Sobre o papel – rastro das asas tuas –

Um verso, um pensamento, uma saudade.


( GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA, PÁGINA 81)


TROVAS DO PAVILHÃO CULTURAL SINGRANDO HORIZONTES

 



TROVAS DO PAVILHÃO CULTURAL SINGRANDO HORIZONTES


A favela à luz da lua

é um presépio em miniatura.

Mas, ante o sol, triste e nua

tem de um calvário a estatura.

Domitila Borges Beltrame

 

Ao deparar com a cena

de uma boa escorregada,

confesso que tenho pena,

mas não seguro a risada.

Edy Soares

 

Na linha da nossa vida,

nós temos a curva e a reta;

encontramos a guarida

quando a dor a inveja injeta.

Elisa Alderani

 

Fui por vós, senhora minha,

o que não fui por ninguém;

é que a conta vós não tinha

de pagar com o mal o bem.

Emiliano Perneta +

 

Eu te quero às escondidas

e, se esta espera durar,

te esperarei quantas vidas

for necessário esperar!

Eugênia Maria Rodrigues +

 

Há um renovar de energia

e um futuro de esperança,

ao sentir, na mão macia,

o carinho da criança!

Eulinda Barreto Fernandes

 

Eu sinto nos braços teus,

um carinho, um aconchego,

e me torno um semideus

vivendo em paz, no sossego.

Filemon Francisco Martins

 

Os meus amigos são tantos

de uma bondade sem fim,

que não preciso ter prantos,

pois eles choram por mim!

Francisco José Pessoa +

 

Diante do altar, rezando,

minha mãe chorava e ria...

Era a ternura aflorando

no cálice da poesia!

Giselda Medeiros

 

Sozinhas nas madrugadas,

donas do mundo e da lua,

nossas mãos entrelaçadas

seguem juntas pela rua!

Gislaine Canales +


TROVAS CALENDÁRIO 2024 - UBT ANGRA DOS REIS - RJ.

 



Recebi do trovador Jessé Nascimento - UBT - ANGRA DOS REIS, o livreto SEMEANDO TROVAS e um CALENDÁRIO DE TROVAS - 2024, pelo que agradeço.

 

 

TROVAS DO CALENDÁRIO 2024 - UBT - 

ANGRA DOS REIS - RJ.

 

Vida com serenidade,

paz e constante alegria,

é benção, muita bondade,

que Deus nos dá todo dia.

       Eliana Costa da Rosa Tosi

 

Jorge Amado, vida e glória

bela herança nos deixou,

nas letras honrou a história,

na história a vida gravou.

       Maria Helena U. Campos da Fonseca

 

Aquela folha que vaga,

naquela mata sou eu!

Aquele vento que afaga,

lembra quando eras meu.

       Lélia Miguel Moreira Lima

 

Borboletas voejando,

junto às flores da floresta.

Parecem casais dançando

em dias de grande festa.

       Érico da Fonseca


terça-feira, 30 de janeiro de 2024

FAMÍLIA - JOAQUIM RODRIGUES DE NOVAIS

 



FAMÍLIA

Joaquim Rodrigues de Novais

 

 

Flores do meu jardim são maravilhosas,                   

Filhos abençoados, uma mãe carinhosa,

Família linda e querida que Jesus abençoou

és minha vida, obra prima do Senhor.

 

Família é amor do coração que precisa do pão

e também de atenção, carinho e gratidão.

Que Deus abençoe as famílias, ele é amor.

Ame sua família como nos amou o Senhor.

 

Família fruto de Adão e Eva, família cristã,

fruto de José e Maria, que Deus os escolheu

para conceber um filho seu, o qual nos salvou

com a pesada cruz, seu filho amado Jesus.

 

Família é um projeto de Deus para viver em união, mas 

nem todos obedecem, é pai contra filho

e irmão contra irmão, só Deus para resolver

os problemas e a ganância de alguns irmãos.

 

IPUPIARA, 28/12/2023

          

FÉ - GIÓIA JÚNIOR

 



Gióia Júnior

 

Peço e confio plenamente. Venço 

pelo poder da fé. Poder bendito 

que faz de um pensamento um infinito 

e faz de um grão de areia um ser imenso. 


Peço e confio plenamente. Penso 

no poder invencível e inaudito 

que, no passado, de um valor restrito 

fez um gigante de vigor intenso. 


E nada temo, espero confiante, 

alimentado, não num sonho errante,  

mas na certeza das vitórias ganhas. 


Peço e confio. Rogo e deposito 

meus desejos nas mãos do Deus bendito 

e sou capaz de transportar montanhas! 


Janeiro de 1947


(LIVRO "ORAÇÕES DO COTIDIANO", VERSÃO DIGITAL ENVIADA P/AMIGO SAMMIS REACHERS)

LÍRIO DOS VALES

 



LÍRIO DOS VALES

Gióia Júnior

 

Lírio dos vales, puro, imaculado, 

cálice de ouro a transbordar de luz, 

vem derramar sobre o meu ser cansado 

aquele sangue que tingiu a cruz. 


Quero beber esse licor sagrado, 

sorvendo as bênçãos, que jamais supus, 

do esquecimento para o meu pecado, 

sempre através do nome de Jesus! 


Nem Salomão, em toda a majestade, 

teve essa graça e essa simplicidade 

que a tua alvura mística-produz. 


Tu és, ó lírio, o símbolo profundo 

daquele Ser que libertou o mundo, 

aprisionado aos braços de uma cruz!


(LIVRO "ORAÇÕES DO COTIDIANO", VERSÃO DIGITAL ENVIADA PELO AMIGO SAMMIS REACHERS)

TROVAS DO PAVILHÃO CULTURAL SINGRANDO HORIZONTES

 



PAVILHÃO CULTURAL SINGRANDO 

HORIZONTES

 

O trovador que se preza,

só faz a trova contrito,

na postura de quem reza,

de olhos postos no infinito...

       Batista Soares

 

A lua beija a favela...

A estrela no céu reluz...

- Meu bem, apaga essa vela,

o amor não quer tanta luz!…

       Carolina Ramos

 

Quando no outono da vida

eu me perco em devaneio,

vejo uma luz colorida

e em sonhos, eu veraneio.

       Cecy Barbosa Campos

 

Ai de quem foge, no mundo,

dos caminhos da verdade

que a fuga dura um segundo

e o remorso... a eternidade.

       Célio Grunewald +

 

Certo bispo ouve uma “história”

de um padre chamado Hilário

e grava, assim, na memória

um bom “Conto do Vigário”.

       Cláudio de Cápua +

 

Senhor, neste amanhecer,

louvo a tua criação;

da aurora ao entardecer,

eu te encontro em meu irmão!

       Cônego Benedito Vieira Telles +

 

Espaço que dá saber,

que abole manipulados,

estimula o bem-querer:

Escola, abre cadeados...

       Cristina Cacossi

 

A silhueta da santa

pintada em nobre capela

também vinga que nem planta

em barracão de favela.

       Cristina Leite

 

Da vida aceito o convite:

tomo nas mãos um compasso,

e o mundo não tem limite

quando meus sonhos eu traço...

       Djalda Winter Santos +

 

Sentimos tanta alegria

quando estamos abraçados,

que, para nós, qualquer dia

é Dia dos Namorados!

       Divenei Boseli +

 


INVULNERÁVEL - CRUZ E SOUSA

 



INVULNERÁVEL

Cruz e Sousa

 

Quando dos carnavais da raça humana

Forem caindo as máscaras grotescas

E as atitudes mais funambulescas

Se desfizerem no feroz Nirvana.

 

Quando tudo ruir na febre insana,

Nas vertigens bizarras, pitorescas

De um mundo de emoções carnavalescas

Que ri da Fé profunda e soberana:

 

Vendo passar a lúgubre, funérea

Galeria sinistra da Miséria

Com as máscaras dos rostos descoladas;

 

Tu que és o deus, o deus invulnerável,

Resiste a tudo e fica formidável

No silêncio das noites estreladas!

 

(LIVRO “GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA”, PÁGINA 

112)


TRIUNFO SUPREMO - CRUZ E SOUSA


                               (FOTO DO PRIMO SANDRO-IPUPIARA-BAHIA)


TRIUNFO SUPREMO

Cruz e Sousa

 

Quem anda pelas lágrimas perdido,

sonâmbulo dos trágicos flagelos,

É quem deixou para sempre esquecido

O mundo e os fúteis ouropéis mais belos.

 

É quem ficou do mundo redimido,

Expurgado dos vícios mais singelos

E disse a tudo o adeus indefinido

E desprendeu-se dos carnais anelos!

 

É quem entrou por todas as batalhas

As mãos e os pés e o flanco ensanguentando,

Amortalhado em todas as mortalhas.

 

Quem florestas e mares foi rasgando

E entre raios, pedradas e metralhas,

Ficou gemendo, mas ficou sonhando!

 

(LIVRO "GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA", PÁGINA 111)


segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

É PRECISO OLHAR A ALMA

 



É PRECISO OLHAR A ALMA

Carlos Araújo

 

 

Se de perto ninguém fica normal

Como disse o compositor baiano

Como devo encarar o ser humano

Se de longe também enxergo mal?

 

Pra se ver o vivente ao natural

Sem disfarce do seu cotidiano

Eu pergunto ao polêmico Caetano

A distância é o ponto crucial?

 

Depois de observar estranho e amigo

Em todo aquele que privou comigo

Cheguei à conclusão com muita calma:

 

Para ver, da pessoa, a exata imagem,

Que se esconde por trás da maquiagem

Talvez seja preciso olhar a alma!


A POESIA DE CARLOS RIBEIRO ROCHA

 


A POESIA DE CARLOS RIBEIRO 

ROCHA

Mário Ribeiro Martins (07/08/1943 - 

18/03/2016)

 

Sobre o ilustre poeta sertanejo, escrevi no meu livro ¨MISCELÂNEA POÉTICA¨, a ele dedicado: ¨É o poeta da natureza, para quem a oportunidade não sorriu, mas cuja poesia é um sorriso eterno¨. Nunca se disse tanto em tão pouco de um poeta.

Nascido no sertão da Bahia, em Ipupiara, nas regiões de Santo Inácio, proximidades da Chapada Diamantina, Carlos Ribeiro Rocha identificou-se com o sertão florido, viveu com a natureza, aprendeu com ela, sem frequentar as salas de um Colégio, conforme diz no seu soneto ¨Biografia do Meu Verso¨.

¨Não podem ter beleza e privilégio

meus pobres versos, nem também doçura,

se não gozei ao menos da ventura

de conhecer as salas de um Colégio.

 

Não foi aos pés de professor egrégio

que aprendi a rabiscar a assinatura;

mas sendo Cristo a luz suprema e pura,

ao vate inspira, e além do mais, protege-o¨.

 

Escritor de méritos, Carlos Ribeiro Rocha é um surpreendente autodidata que se tornou, através de Concurso Público, Coletor Federal em sua cidade natal, transferindo-se, posteriormente, para Xique-Xique, ainda na Bahia, função com a qual pôde sobreviver, contemplar a natureza e escrever a sua poesia simples, consoante ele mesmo diz:

¨São meus versos compostos e tramados

com as folhas verdes, brotos e verdores

sobre as serras e moitas espalhados...

 

E de permeio aos fios da urdidura,

em meus sonetos vão brotando flores

para a colheita próxima-futura!¨

 

Carlos Ribeiro Rocha tem poucos livros publicados, entre outros: ¨28 SONS¨, ¨PORTA ABERTA¨, ¨PINGOS DE MIM¨ ¨HARPA SERTANEJA¨, ¨MEDITAÇÕES, LIÇÕES¨, ¨CAFÉ REQUENTADO¨, ¨COROA DE SONETOS¨ e várias obras inéditas, destacando-se ¨SERTÃO FLORIDO¨, ¨RASTROS DE UMA VIDA¨ e “TROVAS E TROVÕES¨.

Algumas de suas trovas e poesias são encontradas em diferentes jornais, revistas e livros, entre os quais ¨A TROVA NO BRASIL¨, de Aparício Fernandes; ¨ANUÁRIO DE POETAS DO BRASIL¨, Rio de Janeiro, organizado pelo saudoso Aparício Fernandes; ¨MISCELÂNEA POÉTICA¨, de Mário Ribeiro Martins.

Sobre ele disse o professor e escritor Osmar Barbosa, num de seus livros: ¨Carlos Ribeiro Rocha é inspirado poeta, pois, quem talha sonetos como ¨Cigarras e Formigas¨, ¨Velha Mangueira¨, ¨Borboletas¨ etc, tem a arte nas veias, a poesia na alma¨.

De fato, inspiradamente escreveu Carlos R. Rocha:

¨Vai minha alma, rasgando os densos nimbos,

sobrepairando os montes desta Vila,

olhar na selva todos os corimbos,

fitar no céu a estrela que cintila!¨

 

Com sua vida simples, nas vilas pacatas e humildes do sertão, Carlos Ribeiro Rocha construiu sua poesia repleta do verdor da Natureza, gostosa de ser lida e ouvida, conforme se pode sentir nos versos do soneto ¨Meu Livro¨:

¨No grande livro da Natura eu leio,

poemas verdes, lindos, fascinantes,

e o pensamento aos poucos fica cheio

dessas lições que nunca soube dantes.

 

Se anel não tenho, mesmo de ametista,

nas maravilhas desse livro imenso

hei de encontrar a glória da conquista!¨

 

A poesia de Carlos Ribeiro Rocha é um bálsamo harmonioso para a alma e é por isso que ela está presente em toda parte, afinal de contas os bons versos não têm pés, têm asas.

A ele pode ser muito bem aplicada a expressão de Camilo Castelo Branco: ¨Poeta é aquele que desmente as leis anatômicas e filosóficas, vivendo do princípio vital de uma única entranha - o coração¨.

(¨O POPULAR¨. Goiânia, 10 de julho de 1977)


Nota: O poeta silenciou em 27 de novembro de 

2011, em Salvador, Bahia.