quinta-feira, 31 de agosto de 2023

O HOMEM E A MULHER - VICTOR HUGO

 


                                                          (FOTO DA INTERNET)


O HOMEM E A MULHER

VICTOR HUGO



O homem é a mais elevada das criaturas, a mulher o mais sublime dos ideais. Deus fez para o homem um trono; para a mulher um altar. O trono exalta; o altar santifica, o homem é o cérebro; a mulher o coração. O cérebro produz a luz; o coração o amor. A luz fecunda, o amor ressuscita. O homem é um gênio; a mulher um anjo. O gênio é imensurável; o anjo indefinível, A aspiração do homem é a suprema glória; a aspiração da mulher a virtude extrema. A glória traduz grandeza; a virtude traduz divindade. O homem tem a supremacia; a mulher a preferência, A supremacia representa a força; a preferência representa o direito. O homem é forte pela razão; a mulher é invencível pela lágrima. A razão convence, a lágrima comove. O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher de todos os sacrifícios. O heroísmo enobrece; o martírio sublima, o homem é código; a mulher o evangelho. O código corrige; o evangelho aperfeiçoa. O homem é um templo; a mulher um sacrário, ajoelhamo-nos. O homem pensa; a mulher sonha. Pensar é ter cérebro; sonhar é ter na fronte uma auréola, o homem é um oceano; a mulher um lago, o oceano tem a pérola que embeleza; o lago tem a poesia que o deslumbra, o homem é uma águia que voa; a mulher um rouxinol que canta. Voar é dominar os espaços; cantar é conquistar a alma. O homem tem um fanal e a esperança, o fanal guia e a esperança salva. Enfim, o homem está colocado onde termina a terra, a mulher onde começa o céu!


SOBRE O AUTOR:

Victor - Marie Hugo (Besançon/França, 1802 — 1885, Paris, França) foi um novelista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista pelos direitos humanos francês de grande atuação política em seu país. É autor de Os Miseráveis. Notre-Dame de Paris, Os Trabalhadores do Mar, entre diversas outras obras clássicas de fama e renome mundial.


(ALMANAQUE CHUVA DE VERSOS Nº 406, JOSÉ FELDMAN) 


JUSTIFICATIVA



JUSTIFICATIVA

THÉO DRUMMOND (1927 - 2015)


Perdoa pelo amor que já te dei,

e sem explicação não te dei mais.

O fato é que me fui, não te esperei,

sei que isso foi terrível, foi demais.


Mas sou assim, e nunca mudarei.

Para trocar de amor eu sou capaz

de me esquecer de tudo o que ganhei,

na certeza de que isso tanto faz.


Talvez um dia eu vá me arrepender

por ser assim tão pouco preocupado

se vou fazer alguém chorar, sofrer.


É que sofri demais no meu passado:

um amor que me fez quase morrer

por me fazer sentir tão mal amado.


 

DEUS

 



DEUS

Filemon Martins 

 


Contemplo a Natureza fascinante, 

e vejo um Deus de amor e de brandura. 

Um livro aberto, imenso, edificante, 

com lições de bondade e de ternura. 


Mesmo que a mágoa assalte o caminhante 

e o prostre sobre o chão em desventura, 

a fé, que vem de dentro, é uma constante, 

- um bálsamo na dor da criatura. 


Creio em um Ser Supremo, um Ser bendito, 

num mundo de mistérios em que habito 

e me faz refletir os sonhos meus... 


Porque depois a vida continua 

na evolução da fé que se cultua 

sob a regência do maestro, Deus.



DESMANTELO AZUL

 



DESMANTELO AZUL

Carlos Pena Filho


 

Então pintei de azul os meus sapatos

por não poder de azul pintar as ruas

depois vesti meus gestos insensatos

e colori as minhas mãos e as tuas.


Para extinguir de nós o azul ausente

e aprisionar o azul nas coisas gratas

Enfim, nós derramamos simplesmente

azul sobre os vestidos e as gravatas


E afogados em nós nem nos lembramos

que no excesso que havia em nosso espaço

pudesse haver de azul também cansaço


E perdidos no azul nos contemplamos

e vimos que entre nós nascia um sul

vertiginosamente azul: azul.


(FONTE AVBAP) 




PROFUNDIDADE

 



PROFUNDIDADE

Rodrigo Ladeira (poeta de Itanhaém)

 

A verdadeira

profundidade de um verso

não vem da palavra

vem do poder transformador

da proposta de mudança

pelo amor

que a poesia

tem.


(LIVRO DESTA COISA & OUTRAS COISAS, PÁGINA 17)

TROVAS DO FILEMON

 



TROVAS DO FILEMON

Não permitas que a amargura
Domine teu coração.
Canta um salmo de ventura,
Busca a Deus em oração.

De manhã a Natureza
Desperta cheia de cores.
Um colibri - que beleza,
Vem beijar todas as flores.

Pondo amor nas minhas trovas,
Meu peito fica a cantar.
É que as minhas boas novas
Sem asas, querem voar.

Minha vontade tão louca
Era somente um enleio:
Dar um beijo em tua boca
E adormecer em teu seio.

(POSTAL CLUBE-ANTOLOGIA 15, PÁGINA 48)


TROVAS DO FILEMON

 



TROVAS DO FILEMON 


Pela terra e pelos mares

Nunca me afasto dos meus,

E sinto que em meus cantares,

Fico mais perto de Deus.


Teu amor é um lenço branco,

Que, de longe, acena ao cais.

E eu fico naquele banco

Em vão procurando a paz.


Meu pensamento flutua

Ao som das águas do mar,

Quando vem, bate e recua,

Para, de novo, avançar.


A inspiração peregrina

Que mora dentro de mim,

Vem com ternura e ilumina

Minha poesia sem fim.


É sempre bom recordar

Para viver com decência,

Vale uma vida exemplar

Em nossa curta existência.


IRMÃO TROVADOR.

 



IRMÃO TROVADOR

Ademar Macedo (1951 - 2013)


Digo com sinceridade

sem fazer demagogia,

sempre nos traz alegria

um amigo de verdade.

Com grande felicidade

e até com certa emoção,

confesso de coração

seja aqui, seja onde for:

para mim o trovador,

é na verdade um irmão!...


(ESTRO - 2006 - NÚMERO 108)

TROVAS DO FILEMON

 



TROVAS DO FILEMON


No Sertão ninguém contesta,

o povo celebra e canta.

Chuva farta faz a festa,

fartura para quem planta.


Trago, cravado, no peito

um agridoce desejo:

viver um sonho perfeito

na doçura do teu beijo.


Quanta beleza nas águas

tão claras de Piatã.*

Lá sepultei minhas mágoas

naquela linda manhã.  

(* Uma das praias mais bonitas de Salvador, Bahia)


Escrevo e neste trabalho

tenho minha diretriz:

sementes de amor espalho

para o mundo ser feliz.


MUNICÍPIOS DA CHAPADA DIAMANTINA - POLÍTICA NACIONAL INSTÁVEL

 



MUNICÍPIOS DA CHAPADA DIAMANTINA

POLÍTICA  NACIONAL  INSTÁVEL 

           Saul Ribeiro dos Santos

📧saul.ribeiro1945@gmail.com



De tempos em tempos os políticos brasileiros entram em turbulência com fortes desentendimentos, provocando forte crise na política e na administração pública, atingindo assim de forma perversa a todos os segmentos da economia, causando desemprego e levando o PIB (Produto Interno Bruto) a apresentar resultados ínfimos e até negativos. 

Os habitantes dos Municípios da Chapada Diamantina e de todo o sertão nordestino sofrem com a instabilidade política do poder central do País. Talvez sofram mais do que os habitantes de outras regiões. 

A política desequilibrada oferece chances para a corrupção e começa a corroer os pilares do sistema da administração pública, fazendo aparecer “rupturas” com  rachaduras maiores e menores em toda parte. Os empresários perdem a confiança nas decisões públicas e os planos para investimentos ficam estancados, prejudicando a população inteira. Neste ponto os políticos perdem a confiança do povo. Assim muitas obras públicas ficam inacabadas (tornando-se inúteis) e outras não podem ser começadas. A nação inteira fica prejudicada. A corrupção aumenta.

As consequências das confusões políticas são terríveis e ameaçadoras. As finanças públicas entram em dificuldades, muitas empresas diminuem a produção ou fecham as portas e os trabalhadores são atingidos pelo desemprego. Parece até que uma boa parte dos políticos não quer conviver com a probidade ou honestidade administrativa. Por vezes muitos políticos e muitas outras pessoas importantes desejam (e às vezes forçam) fazer valer as suas próprias ideias, gerando desentendimentos e causando instabilidade na política, na administração pública e na economia do País, prejudicando assim a nossa região. De tempos em tempos o Brasil enfrenta crises. Crises sempre provocam arranhões e escoriações. Vejamos:

Últimos anos do Regime Imperial. Os últimos anos do regime imperial foram agitados e de muita expectativa. Em 1878 a Princesa Isabel estava em Paris, na França, participando da Exposição Universal, onde foram mostradas as novidades da ciência, da indústria e do comércio. Mais tarde, ao retornar ao Brasil encontrou o País vivendo no modo escravocrata e muita opressão para os mais humildes. Era necessário saber lidar com o problema da escravidão perante grande parte dos políticos. O tempo foi passando e a libertação dos escravos era uma questão de anos ou meses.       

O País estava bipolarizado (dois focos de interesses). De um lado estavam os que desejavam a libertação dos escravos, de forma incondicional. Do outro estavam aqueles que desejavam a libertação lenta e gradual. Também existiam pessoas que não queriam mudanças. Os entendimentos políticos não prosseguiam de modo satisfatório. Em 1887 o imperador sofreu um pequeno colapso, mostrando que a saúde física não estava boa. (1)        

No dia 10/03/1888 pede demissão o Primeiro-Ministro, o Barão de Cotegipe - João Maurício Wanderley (nascido em São Francisco, no Município de Barra do Rio Grande, Bahia). Esse digno baiano e brasileiro honrado, descendente de famílias nobres neerlandesas (ou holandesas), cuja pronúncia do sobrenome é “van der leij” formou-se em Direito e ingressou na política em 1839. Ocupou vários cargos na equipe do governo imperial. Entre as muitas funções que desempenhou estão Ministro da Fazenda – 1875 a 1878 e Pres. do Conselho de Ministros -  1885 a 1888. Com a saída do primeiro-ministro o governo imperial mostrou fraqueza. De tempos em tempos políticos entram em desentendimentos. Vejamos:

Fim do Regime Imperial. Em 1889 as lideranças políticas do País, contrárias ao regime imperial, depois de alguns movimentos e algumas reuniões, somaram ideias políticas e reuniram forças militares, de modo que em 15 de novembro daquele ano foi proclamada a República. D. Pedro II foi destronado, embarcou num navio e foi embora para Portugal. O ex-imperador do Brasil recusou receber a doação de 5.000 contos de réis oferecida pelo governo provisório da República para custear as despesas da viagem e início da vida no exterior - o exílio. (2) 

Deodoro da Fonseca (1889 a 1891). Primeiro presidente do Brasil e uma das figuras centrais da Proclamação da República no País. Após desentendimentos com o Exército, não resistiu à pressão e renunciou em 23/11/1891. 

Washington Luiz (1926 a 1930). Foi deposto em 24/10/1930 pela revolução   de 1930 comandada por Getúlio Dornelles Vargas. Foi deposto do cargo de presidente faltando poucos dias para completar o mandato. Seu governo sofreu as condições impostas pela crise mundial de 1929. 

Getúlio Dornelles Vargas (1930 a 1945) Governou e conseguiu organizar e modernizar o Brasil durante o período de 1930 a 1945. Anos depois, em outubro de 1950, foi eleito presidente da República, pelo voto popular. Tomou posse em 31 de janeiro de 1951 e seu mandato deveria seguir até 31 de janeiro de 1956 (cinco anos). Não aguentou a pressão dos líderes políticos contrários e cometeu suicídio com um tiro no coração (ou na cabeça, como dizem) na madrugada do dia 24/08/1954.

Jânio da Silva Quadros (jan. a ago. de 1961). Foi eleito por esmagadora maioria para exercer o mandato no quinquênio Janeiro de 1961 a Janeiro de 1966. Adotou posições polêmicas durante o seu governo. Renunciou em 25/08/1961, acusando ação de forças ocultas.

João Belchior Marques Goulart, foi eleito como vice-Presidente na chapa de Jânio Quadros. Após a renúncia deste, João Goulart assumiu a Presidência da República num processo tumultuado. Foi aprovado o regime Parlamentarista. Depois, por escolha popular, o sistema voltou ao presidencialismo. O momento não lhe era favorável. O País entrou em fortes agitações políticas de Norte a Sul. Ele tentou resistir, mas foi deposto pela Revolução Militar de 31 de março de 1964.

Fernando Collor de Melo (1990 a 1992). Eleito em dezembro de 1989 com mais de 35 milhões de votos para assumir o mandato de 01/01/1990 a 31/12/1993. A chave da vitória foi “austeridade no governo e combate aos marajás” (funcionários públicos que ganham muito dinheiro para fazer quase nada). No seu governo a inflação avançou. A onda de austeridade durou pouco tempo. Houve denúncias de corrupção contra seus assessores e outros mais. De acordo com notícias da imprensa, (3) o primeiro a denunciar foi Pedro Collor de Melo, seu irmão, apresentando denúncias contra P. C. Farias (Paulo César Farias). Foi constituída uma CPI. Em 6 meses foi confirmado o impeachment, o que lhe custou a renúncia, afastamento da Presidência da República e a inelegibilidade até o ano 2000. Entretanto, o ex-presidente Collor é um político muito hábil.

______________

  

Este texto é parte integrante do esboço do livro Chapada Diamantina, em elaboração.   

(1)   Marcos Costa, historiador e professor da UNESP- Campus Assis (SP), em seu livro História do Brasil Para Quem Tem Pressa, pág. n° 91, 1ª. edição. Editora Valentina, Rio de Janeiro – 2016.   

(2)   Enciclopédia Barsa, vol. 12  pág. 179. Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda., 1995.   

(3)   Jornal O Estado de S. Paulo, de 30/06/1992.



SOBRE O AUTOR:

SAUL RIBEIRO DOS SANTOS nasceu na Lagoa do Barro, Ipupiara, Bahia. Filho de Nisan Ribeiro dos Santos e Carolina Pereira de Novais. É casado com a Drª Agripina Alves Ribeiro, com quem tem os filhos Raquel Ribeiro dos Santos, Esther Ribeiro dos Santos e Arão Wagner Ribeiro. Formado em Economia, Adm. de Empresas e em Ciências Contábeis pela Unigranrio, Rio de Janeiro. Trabalhou durante vinte anos num grande banco comercial.

Sempre gostou de escrever. Apaixonado por assuntos das  Regiões da Chapada Diamantina e do Médio Vale do São Francisco. Gosta e costuma conversar com pessoas idosas com o objetivo de aprender e conhecer melhor a história regional.

Autor do livro DECISÕES & DECISÕES, publicado em 2013 pela Gráfica e Editora Clínica dos Livros, de Feira de Santana, Bahia.



quarta-feira, 30 de agosto de 2023

A CHUVA

 



A CHUVA
Joaquim Rodrigues de Novais

A chuva é o maná do Sertão,
o sertanejo sempre ora para que a chuva não demore.
Pede a Deus sua benção.
Com fé e oração,
com suas mãos calejadas da dureza da enxada
que arrasta nesse chão.
Que Deus abençoe esse povo,
não só os do nosso Sertão,
mas todos aqueles que produzem
para alimentar essa grande Nação.



Nota do Blog Literário do Filemon:

Joaquim Rodrigues de Novais é poeta de Ipupiara, Bahia, onde nasceram também outros poetas e escritores, como Carlos Ribeiro Rocha, Mário Ribeiro Martins, Carlos Araújo, Arides Leite Santos, Pedro Antonio dos Santos, Jeremias Ribeiro dos Santos, Filemon Martins, Jeremias Ribeiro Filho,  Saul Ribeiro dos Santos, Laurentina Martins Santos Novais, Glória Guedes Cunha e Moisés Arcanjo Filho, entre outros.


TROVAS DO FILEMON

 



TROVAS DO FILEMON

Não me fascina, na vida,
Poder ou fama alcançar,
Que a vitória merecida
É pelo Amor triunfar! 

Saudade é o cantar tristonho
Do canário, no Sertão.
É sentir que o nosso sonho
Não passou de uma ilusão.

Assim é que vejo a vida:
Uma estrada singular, 
Às vezes erma e cumprida
Que a gente tem que trilhar.

Não sei em que mundo vives
Sem amor, sem compaixão.
Tudo que pregas e dizes
São mágoas do coração.


 
 


TROVAS DO FILEMON

 



TROVAS DO FILEMON


Segue uma estrada florida

Quem, na verdade, tiver

A glória de ter, na vida,

Um coração de MULHER!


Quantas noites, meu amor,

Olhando, no céu, a lua,

Eu me sinto um trovador

Pensando na imagem tua.


No teu sorriso, criança,

Vejo o mais belo perfil,

Porque tu és a esperança

Do futuro do Brasil.


“Sorriria de feliz”

E o mundo teria paz,

Se o coração que maldiz

Soubesse perdoar mais.


A CRUZ - BASTOS TIGRE (RECIFE - 1882 - RIO DE JANEIRO - 1957)

 



A CRUZ

Bastos Tigre (1882/1957)


Era o instrumento vil de suplício infamante.

Condenava-se à cruz o assassino, o ladrão.

Mas ia ter Jesus o atro martírio, diante

Do crime de pregar do Templo a destruição.


Ele próprio a transporta ao Calvário distante

E à medida que vai, pelos calhaus do chão

Arrastando-a, a sangrar, - o madeiro aviltante

Faz-se leve, transluz, num eterno clarão.

 

E quando nele, enfim, abre os braços Jesus,

O corpo do Homem-Deus toma a forma da cruz

Desde a cabeça aos pés, e duma à outra mão.


Desse instante e, a seguir, pelo tempo infinito

O instrumento de morte, oprobrioso e maldito,

Com Jesus se confunde; e é Vida e é Redenção.  

ALENTO DO INFINITO

 



ALENTO DO INFINITO
Miguel J. Malty

Meu ser é legatário doutras eras,
dum tempo recuado nas lonjuras.
Anterior às lépidas galeras
dos argonautas donos de bravuras.

Antes, bem antes, noutras atmosferas
que cobriam AbKar, noutras alturas,
no oceano das célicas esferas
junto às huris de liriais brancuras.

Eu venho dos portais das nebulosas,
das lindeiras de luz, misteriosas,
onde a vida deflui em suave agito.

Eu sou antes da gênesis que emana
dum Gene imemorial na escala humana.
Eu sou um sopro, alento do Infinito!

(LIVRO AbKar A CIDADE ENCANTADA, PÁGINA 9)

terça-feira, 29 de agosto de 2023

SONETO DE AMOR

 



SONETO DE AMOR

Filemon Martins


Minha vida sem ti não tem porvir

qual noite sem estrelas, sem luar.

Um barco sem destino a sucumbir

à espera de socorro em alto mar.


Meu coração não sabe mais sorrir,

se não vislumbro a luz do teu olhar,

se teu aroma não vem me seduzir

e se o teu sol não vem me iluminar.


Se não estás aqui, fico inquieto,

vejo-me só, magoado e sem afeto,

a vida fica amarga e sem sentido...


Mas se tu voltas, meu amor, sorrindo,

o mundo se transforma e fica lindo

e até o meu jardim fica florido!


SONETO DE LUIS RUIZ CONTRERAS

 



SONETO

LUIS RUIZ CONTRERAS (1863/1953)


Não, não temas... Que a minha boca impura

nada dirá do que meu peito sente,

não, não receies que meu beijo ardente

possa manchar-te a virginal brancura!


Nem temas ver em torno da cintura

meu braço – como astuta e vil serpente –

nem que teus puros sonhos de inocente,

destrua, em seu cantar, minha loucura.


Ah! Meus olhos, no entanto, consumidos

ao fogo dos teus olhos, meu desejo

atiçam, loucos, num incêndio mudo,


tua imagem levando aos meus sentidos...

E eu te possuo com o olhar, te beijo!

E tu sorris, amor... e ignoras tudo!


(OS MAIS BELOS SONETOS QUE O AMOR INSPIROU, PÁGINA 95)


SONETO DE JOSÉ ALBANO

 

(IMAGEM DA INTERNET)

SONETO
JOSÉ ALBANO (POETA CEARENSE - 1882/1923)

Amar é desejar o sofrimento
e contentar-se só de ter sofrido,
sem um suspiro vão, sem um gemido,
no mal mais doloroso e mais cruento.

É vagar desta vida tão isento
e deste mundo enfim tão esquecido.
É por o seu cuidar num só sentido
e todo o seu sentir num só tormento.

É nascer qual humilde carpinteiro,
de rudes pescadores rodeado,
caminhando ao suplício derradeiro.

É viver sem carinho nem agrado,
é ser enfim vendido por dinheiro,
e entre ladrões morrer crucificado.


SONETO DA ÁRVORE SOBRE O RIO

 



SONETO DA ÁRVORE SOBRE O RIO

Paulo Bomfim (Poeta paulista - 1926/2019)


Deito-me em ti com ramos e folhagem

E pássaros e orquídeas de loucura;

Do musgo do meu gesto nasce a imagem

Que atiro em teus caminhos de procura.


Em meus braços aflitos a paisagem

Transforma-se no vento que murmura,

E os raios iluminam a mensagem

Fogo que morre sobre a fonte pura.


Debruço em ti a sombra e a cor das mágoas;

Sou passado e futuro na tormenta,

Raízes marcham sob um chão que é cego...


Afogo-me no espelho destas águas:

— Guarda de mim a vida que se ausenta,

E estes frutos eternos que te entrego.



(ALMANAQUE CHUVA DE VERSOS Nº 432, JOSÉ FELDMAN) 


SONETO 09 - CONSTANTINO G0NÇALVES

 



SONETO 09

Constantino Gonçalves - Campos/RJ


Emergindo de lousa quieta e fria,

pairando na minha alma flagelada,

em angélico voo de harmonia,

a saudade é uma flor despetalada.


É uma escultura clássica e sombria

que mantém a minha alma atropelada.

É uma lembrança inquieta da porfia,

é uma dor, é uma vida embalsamada.


A saudade é uma chama adormecida

que está bem viva em nosso pensamento.

Ela é a cinza patética da vida,


é uma luz de alegria e de tormento,

é uma fonte de angústia indefinida,

é a essência vesperal do sentimento.


(FONTE ALMANAQUE CHUVA DE VERSOS Nº 399, JOSÉ FELDMAN)


SOBERANIA

 


SOBERANIA
Filemon Martins

O coração é soberano,
não aceita imposições.
Ama sempre a quem ele escolhe
e nunca nos revela
os critérios de sua escolha.


CARLOS PENA FILHO - RECIFE = 1929/1960

 



CARLOS PENA FILHO -   Recife  (1929  – 1960)

 
Estamos perante a poesia de um grande poeta brasileiro precocemente desparecido, cujo legado honra a poesia contemporânea de Língua Portuguesa.
Eugénio de Sá

Carlos Souto Pena Filho, fez no Recife a sua vida de poeta. Em 1952 publicou seu primeiro livro de poesias; “O tempo da busca”. Em 1955 “Memórias do Boi Serapião”.  “A vertigem lúcida” foi publicado em 1958, e, no ano seguinte, a sua obra foi reunida no “Livro Geral”. Organizada por seu biografo Edilberto Coutinho, em 1983 foi publicada a antologia “Os melhores poemas de Carlos Pena Filho”. Em parceria com Capiba, renomado músico pernambucano, foi autor de letras de músicas de sucesso, entre as quais destacamos “A mesma rosa amarela”, incorporada ao movimento da Bossa Nova na voz de Maysa.
Carlos Pena Filho morreu tragicamente no dia 1º de julho de 1960, vítima de um acidente automobilístico em Recife. Foi da redação do “Jornal do Comércio” — onde trabalhava — que ‘pegou carona’ no carro de um amigo que se chocaria com um ônibus. No jornal assinou duas colunas: “Literatura” e “Rosa dos Ventos”.
No seu bolso foi então encontrado o soneto que abaixo se transcreve.

 

Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.

De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.

Mas ninguém o verá? Ninguém.
Nem eu, pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu. 

Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.

(FONTE AVBAP)