domingo, 16 de julho de 2023

REVISITANDO O PASSADO COM JOÃO DA CRUZ CUNHA

 


(NA FOTO, EU E O SR. JOÃO DA CRUZ NUM BATE PAPO NO CORETO DE IPUPIARA, BAHIA)


REVISITANDO O PASSADO COM JOÃO DA CRUZ CUNHA

Filemon Martins


O fato é real e aconteceu em São Paulo. Eu e alguns amigos morávamos numa pensão da Rua Cel. Emídio Piedade, em frente a um distrito policial, no bairro do Pari. Deusdedite Cunha, meu amigo de longa data também morava nesta mesma pensão. Seu pai, João da Cruz Cunha, um dos filhos do Coronel Facundo, morador e comerciante na cidade de Ipupiara, interior da Bahia, costumava vir a São Paulo fazer compras nas Ruas 25 de Março, Carlos de Souza Nazareth, Jorge Azem e outras da região do Mercado Municipal.

Como era de costume, ele se hospedava conosco, fazia suas compras e junto com alguns amigos retornava ao interior da Bahia. Mas alguns dos seus parentes trabalhavam e moravam em São Paulo, nos bairros de Vila Sabrina e Jardim Brasil. Pois bem, o seu João da Cruz, meu amigo desde a época em que fui comerciante de miudezas em Ipupiara, me convidou a dar um passeio na casa de um dos seus parentes. Nesta época, eu trabalhava em São Paulo e conhecia melhor a cidade. Aceitei o convite e fomos visitar os parentes do seu João. Tomamos um ônibus na Avenida Celso Garcia e rumamos em direção ao Belém, Vila Maria e depois, Vila Sabrina.

Após uns 30 ou 40 minutos estávamos chegando ao ponto final. O sol estava tinindo. Assim que descemos do ônibus, perguntei ao seu João: - o Sr. sabe como chegar lá, sabe o nome da rua? Para minha surpresa, o seu João não conseguia encontrar o caminho que nos levasse a casa dos seus parentes e, para complicar, não se lembrava do nome da rua. Era impossível pedir informações sem ter o nome da rua. Fiquei meio embaralhado, mas me mantive calmo.

Percebi que era melhor descansar um pouco. Convidei-o a tomar um refrigerante e num boteco qualquer ficamos jogando conversa fora. Falamos sobre a agitação da cidade, o corre-corre do povo, a ansiedade, o medo, a ilusão de quem chega para trabalhar muito e ganhar quase nada. Falamos sobre o tempo em que fui comerciante naquela cidade interiorana da Bahia e tantos outros assuntos. Assim, o tempo foi passando e o seu João, aos poucos, foi se tranquilizando. Estávamos quase desistindo do passeio, quando de repente, seu João falou alto, quase gritando: - Jataí, Jataí! Perguntei o que significava “Jataí” e ele me respondeu: - é o nome da rua, Filemon. E foi aí que descobrimos que o nome da rua era Batalha do Jataí, na Vila Sabrina, onde moravam os parentes do seu João da Cruz e onde fomos recebidos com a tradicional hospitalidade baiana.

Para mim, o mais importante, entretanto, é que seu João da Cruz Cunha, nascido em 24/11/1917, proprietário da Fazenda Salinas, pai de Jaci Cunha, Lindaura Cunha, Facundo Cunha Neto, Deusdedite Cunha, Hélio Cunha, Olga Cunha e José Cunha, cidadão íntegro, experiente, foi sempre meu amigo.

Hoje, 23 de janeiro de 2022 recebi essa notícia triste: o nosso amigo João da Cruz da Cunha silenciou aos 104 anos. Registro aqui nossos sentimentos à família e a todos os parentes e amigos, com a certeza de que ele cumpriu sua missão e seguirá em paz.


(LIVRO ¨FAGULHAS¨, PÁGINAS 184/185)



 

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