QUESTÃO DE VALORES MORAIS
Filemon Martins
Não sei se por formação no
lar ou se o indivíduo já nasce com aquele instinto que o faz pensar ser
superior aos outros. Muitas pessoas nascem em berço de ouro e no decorrer da
vida têm uma educação esmerada, fazem Cursos Superiores, pós-graduação nisto ou
naquilo, mas profissionalmente se tornam arrogantes e prepotentes.
O contrário também é
verdadeiro: o indivíduo faz inúmeros Cursos Superiores, adquire muito
conhecimento, possui uma cultura exemplar, torna-se rico, mas se mantém entre
os mortais, detesta bajulação e se relaciona normalmente.
Quando na ativa, em todos
os locais em que trabalhei sempre havia um ou vários autoritários e arrogantes.
Imaginavam-se insubstituíveis, donos da verdade, mestres em tudo e queriam, por
força, mandar em todos. Tornavam-se uns gravatinhas, como eu costumava
chamá-los. Vez por outra nos enfrentávamos em embates de trabalho quanto a
Organização e Métodos (OM) ou mesmo quanto à eficácia do trabalho.
No cotidiano da vida são
pessoas que valorizam a aparência, o externo, a roupa, o sapato, o carro, a
casa, sem enxergarem o principal que todos nós carregamos no coração. Andam
pelas ruas de nariz empinado, falam bonito, de peito estufado e são capazes de
pisar em qualquer pessoa descuidada que, por infelicidade, cruzem seus
caminhos. Nós, pobres mortais, somos classificados como aquele antigo sabonete
¨VALE QUANTO PESA¨. Se temos uma casa, valemos a casa; se temos um carro,
valemos o carro; se nada possuímos, não valemos nada. Em minha existência,
conheci muitas pessoas soberbas, vazias e arrogantes, mas pelo menos duas foram
inesquecíveis. Ambas trabalhavam na Empresa Folha da Manhã S/A. A primeira
pessoa trabalhava bem próximo de nós e fora conduzido ao cargo pelo famoso QI
(quem indica). Era uma espécie de Assessor Especial que fazia o elo entre o
setor de cobrança e figuras importantes, ator, atrizes, empresários que
preferiam pagar suas assinaturas direto no jornal FOLHA DE S. PAULO. Para isso,
trabalhava numa sala mais sofisticada com café, chá e bolachinhas, onde recebia
essas pessoas ilustres, como Raul Cortez, Décio Piccinini, Wagner Montes,
Moacyr Franco, entre outros. Quando necessário, ele solicitava ao setor de
cobrança a emissão de um recibo com o valor, com o qual era possível receber em
dinheiro ou cheque, conforme a preferência do pagante. Dias depois prestava
conta ao setor responsável pela cobrança para depósito em banco e a consequente
quitação do débito.
O que ele não sabia é que
nosso gerente de cobranças havia criado um setor de nome Centro de Controle, de
tal forma que todo recibo ou fatura emitida na empresa deveria conter uma cópia
a mais para o Centro de Controle. Por sua vez todo o pagamento recebido, após
depositado em banco, obrigatoriamente seria comunicado ao setor de Controle com
documentos comprobatórios dos valores pagos. Ocorre que com o passar do tempo,
havia várias cópias de recibos de assinaturas pendentes, todos solicitados pelo
nosso Assessor Especial. Ora, se o assinante esteve na empresa pessoalmente
pagando sua assinatura, alguma coisa estranha estava acontecendo. Foi aí que o
chefe do setor pegou as cópias desses recibos em aberto e comunicou ao gerente,
que por sua vez, teve que chamar o gravatinha para dar explicações.
Dessa vez nem o QI o
salvou. Foi dispensado da empresa por ter-se apropriado do dinheiro
ilicitamente.
O outro caso foi quando o
jornal O Estado de São Paulo resolveu fazer uma campanha para angariar mais
assinantes e lançou pela televisão uma propaganda informando que quem fizesse
assinatura do jornal o receberia em 12h. Um diretor da Folha ao tomar conhecimento
da promessa de O Estado, sentenciou: -¨se o Estadão entrega o jornal em 12h,
nós vamos entregar em 6h¨. Com sua prepotência aguçada, esqueceu-se de
consultar o Departamento de Entregas e setores envolvidos se era viável tal
entrega e se a estrutura existente suportaria tamanha demanda. O setor de
vendas deitou e rolou. Foi um sucesso total de vendas. Quando o assinante
percebeu que as 6h prometidas eram 72h ou mais, choveu telefonemas cancelando
os pedidos. O assinante dizia: - ¨estou há 3 dias esperando a entrega do meu
jornal. Não imaginava que as 6h da Folha fossem mais de 72h¨. Assim, a confusão
se formou. Quem vendeu a assinatura queria receber a comissão, e a empresa não
queria pagar o percentual devido por uma venda não efetivada, por culpa de um
diretor arrogante.
Não sei que fim levou esse
diretor da empresa por atitude tão precipitada. Mas sei que a empresa teve
prejuízos não só econômicos, mas também morais, por propaganda enganosa.
Muitas pessoas se deixam levar pela possibilidade de dinheiro fácil, é o que constatamos diariamente nos corredores dos negócios, especialmente entre os políticos e empresários. Muito bem escreveu minha amiga trovadora Vanda Fagundes Queiroz:
¨ÀS VEZES TENHO
CISMADO QUE, AO INVÉS DE CORAÇÃO, MUITA GENTE TRAZ GUARDADO DENTRO DO PEITO, UM
CIFRÃO¨.

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