TRIBUTO À ARISTIDES ANTÔNIO DOS
SANTOS
Filemon
Martins
Aristides Antônio dos Santos
nasceu na Lagoa do Barro, um vilarejo do Município de Ipupiara, em 17/02/1924 e
casou-se com Luzia Ferreira dos Santos em 1953, com quem teve oito filhos:
Izilda, Aristides Filho (falecido – vítima de assalto em São Paulo), Paulo
(falecido em São Paulo), Dalva, Zenia, Silas, Sandra e Leila.
Eu tinha meus 15, 16 anos quando
conheci o Sr. Aristides, época em que ele se convertera ao Evangelismo e se
tornara um homem de fé, de caráter imaculado. Pai exemplar e um dos maiores
comerciantes de tecidos na pequena cidade de Ipupiara. Já havia trabalhado em
São Paulo e conhecia muito bem a região do comércio, na época, restrito às Ruas
25 de Março, Jorge Azem, Carlos de Sousa Nazaré, Ladeira Porto Geral, entre
outras. Todas no centro de São Paulo. Assim, o comerciante comprava direto das
lojas e consequentemente fazia bons negócios com mercadorias da moda. Com o
tempo outros comerciantes aderiram ao sistema e juntos fretavam caminhões que
vinham de lá encarregados de levarem as compras até Ipupiara. Por essa época,
recebi um convite do Sr. Aristides para trabalhar em sua loja. De pronto,
aceitei e passei a aprender a usar o metro, desenrolar tecidos, fazer embrulhos
e atender aos clientes de forma cortês e respeitosa, como recomendava o patrão.
O movimento maior era nas segundas-feiras porque, como se dizia, era dia de
feira. Nesse dia a população do Município acorria às compras, depois de vender
seus produtos produzidos nas roças e em seus grandes quintais, como frutas,
legumes, verduras ou artesanatos. A confiança era recíproca e eu sempre fui e
continuo sendo um bom aprendiz. Vendia bem e aos poucos eu me tornei importante
para o Sr. Aristides. Por outro lado, meu pai possuía um imóvel do outro lado
da Praça Getúlio Vargas que, naquela ocasião, estava alugado. Eu com 16, 17
anos conversando com aquele senhor comerciante como se fosse um adulto, homem
de negócios. E o Sr. Aristides me perguntou - por que você não põe seu próprio
negócio naquele imóvel do seu pai? Respondi: - como, eu não tenho capital. Ele
então, generoso como sempre foi, deu a solução: - Entro com o capital, a
mercadoria e você entra com o imóvel e o seu trabalho e dividiremos os lucros.
Conversei com meu pai que o conhecia mais que eu e ele surpreso acatou a
sugestão. Pediu o imóvel e depois de uma breve reforma com nova pintura, abri o
comércio com o capital dele. Estávamos sempre trocando ideias e não demorou
muito, o negócio prosperou até que um dia ele me disse: - já é tempo de você
conhecer São Paulo e fazer suas próprias compras. Conversei com meu pai, eu
tinha apenas 17 anos, até a firma para abrir a loja estava em nome do meu pai
que, no passado havia sido comerciante em Morpará com a loja “A PRIMAVERA”.
Encarei a viagem com o Sr. Aristides, João Antônio dos Santos, seu irmão,
carinhosamente chamado de Duão, João da Cruz, Agileu, Saluzinho e outros. Era
minha primeira vez em São Paulo, orientado sempre pelas mãos do Sr. Aristides.
Algum tempo depois, mais experiente era chegado a hora de encerrar nossa
sociedade, de comum acordo com ambas as partes. Outras viagens se sucederam até
que eu resolvi deixar a loja sob os cuidados de meu pai e na próxima viagem,
agora com 18 anos, permanecer em São Paulo para trabalhar durante o dia e
estudar à noite. Foi o que fiz. Quando necessário eu faria as compras e
mandaria para Ipupiara junto aos demais comerciantes. E assim foi.
Esse sistema permaneceu por algum
tempo, mas foi quebrado, porque infelizmente dia 07/01/1970, meu pai faleceu
com 55 anos incompletos. Quanto ao Sr. Aristides continuou com seu comércio
promissor e sua fé inabalável. Numa conversa amistosa que tivemos numa Praça de
Ipupiara, ele me disse: - ¨posso voltar de São Paulo e encontrar a Serra do
Carranca de ponta cabeça, que ainda assim, minha fé não será abalada¨. Nunca
mais o esqueci.
Submetendo-se a uma cirurgia em
São Paulo, o Sr. Aristides faleceu repentinamente em 14/03/1990. Pouco mais de
um ano depois, sua esposa nos deixou em 20/04/1991, de parada cardíaca. Mas a
família bem construída continua próspera, forte e unida. Como disse a poetisa
Stela Câmara Dubois: “Oh, que me falte o amparo nos escolhos, falte-me o pão e
a luz dos próprios olhos, porém, nunca me falte a GRATIDÃO”!
(DO LIVRO “HISTÓRIAS QUE SÓ AGORA
EU CONTO”, AL PRINT, 2018, FILEMON MARTINS)
Nenhum comentário:
Postar um comentário