(ANTIGO MERCADO MUNICIPAL DE IPUPIARA, BAHIA)
O
CALOTEIRO
Filemon
Martins
O
cidadão que atendia pelo nome de Zé Treiteiro morava num lugarejo próximo à
Vila do Jordão, onde esporadicamente fazia suas compras. Ocorre que o sujeito
gostava de comprar fiado em todas as casas comerciais, como era costume em
outros tempos no interior, mas na hora da pagar a dívida, escorregava como
quiabo. Era um velhaco, farsante, enganador, um mau pagador.
Meu
avô Gasparino Francisco Martins, que era comerciante na Vila do Jordão e
apolítico, gostava de afirmar: - ¨quem não cumpre sua palavra, não merece
respeito¨.
Quando
algum negociante desavisado caía no golpe, nunca mais via a cor do dinheiro.
Assim que o credor o avistava e saía em seu encalço, ele desaparecia na
multidão como num passe de mágica. Entrava por uma porta e saía rapidamente
pela outra, não dando chance a que fosse cobrado e quando era, inventava
desculpas mirabolantes. Diziam as más línguas que ele tinha pacto com o capeta.
Nunca se sabe, mas deixa pra lá.
De
quando em quando um comerciante novato se estabelecia na Vila e nesse momento o
mendacioso fazia a festa. Com uma lábia só comparável aos políticos
brasileiros, ele conversava com o dono do estabelecimento e acabava comprando
mercadorias a prazo com promessa de pagamento para daqui a alguns dias e nunca
mais voltava para quitar sua dívida.
Adepto
costumeiro dessa prática, sua fama correu o Município, as cidades vizinhas e
rumou para São Paulo, de tal forma que se tornou referência entre os conhecidos
e pessoas que chegavam da Vila do Jordão, interior da Bahia. Quando, em algumas
ocasiões, desejava-se saber sobre a honestidade de alguma pessoa, o
interlocutor simpaticamente, perguntava: - ¨você conhece o Zé Treiteiro lá da
Vila?
-
Conheço, sim.
-
Então é do mesmo jaez¨.
Essa
resposta já dizia tudo.
E
o assunto encerrava aí, porque para bom entendedor, uma palavra basta.
Hoje
a antiga Vila do Jordão, outrora palco de disputas políticas entre os Coronéis
Horácio de Matos - 18/03/1882 a 15/05/1931 -
(Brotas de Macaúbas/Lençóis) e Militão Rodrigues Coelho - 20/10/1859 a
08/12/1919 - (Barra do Mendes) se transformou na progressista cidade de
Ipupiara, no interior baiano.
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