LEMBRANDO CASTRO
ALVES
Filemon Martins
Antonio Frederico
de CASTRO ALVES, nascido na Fazenda Cabaceiras, Curralinho, hoje cidade de
Castro Alves, Bahia, um dos mais populares poetas do Brasil, escreveu versos
admiráveis, entre outros, O NAVIO NEGREIRO – Tragédia no mar, do qual extraímos
parte da VI estrofe:
“E existe um povo
que a bandeira empresta/pra cobrir tanta infâmia e cobardia!... /E deixa-a
transformar-se nessa festa/em manto impuro de bacante fria!... /Meu Deus! Meu
Deus! Mas que bandeira é esta,/que impudente na gávea
tripudia?!.../Silêncio!...Musa! chora, chora tanto/que o pavilhão se lave no
teu pranto.../Auriverde pendão de minha terra,/que a brisa do Brasil beija e
balança,/Estandarte que a luz do sol encerra/às promessas divinas da
esperança.../Tu, que da liberdade após a guerra,/foste hasteado dos heróis na
lança,/antes te houvessem roto na batalha,/que servires a um povo de
mortalha!...”
Parece que o poeta
baiano escreveu estes versos, que considero um dos mais belos e significativos
da Língua Portuguesa, nos dias atuais. Se hoje não temos a escravatura a que se
referia o poeta, continuamos escravos do analfabetismo, da corrupção, da política
de exclusão social, do desemprego, do crescimento da miséria, da fome, da
violência, do medo, dos preconceitos, da falta de investimentos em educação,
saúde e da submissão ao poder econômico dos países ricos e exploradores.
Aqueles que vivem em seus gabinetes atapetados e não têm contato com o povo,
não percebem ou fingem não perceber como tem aumentado o exército de
desempregados e consequentemente da fome e da miséria.
O ex-presidente
José Sarney, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, pondera que “no nosso
velho estilo de malhar o país, o noticiário ressalta o negativo e esquece o
grande salto. As manchetes resumem esses cem anos como o século da
desigualdade.”
Por outro lado,
ex-presidente, é bom lembrar que não malhamos o Brasil, mas sim aqueles que têm
tido a responsabilidade de dirigir os destinos do País e não enxergam o futuro.
Nasci e cresci no interior da Bahia e, em busca de dias melhores, como outros o
fizeram, me transferi para São Paulo e sempre ouvi falar em programas de
erradicação do analfabetismo. Aos 74 anos, constato, entristecido, que pouco se
fez para alcançar tal objetivo. A educação, no Brasil, assim como a saúde,
transportes, saneamento básico e qualidade de vida, nunca foram prioridades de
nenhum governo. Todos, todos mesmo vão sucateando a educação, transporte,
segurança pública, além de subtrair direitos dos trabalhadores de forma injusta
e criminosa.
Dizer que a “saúde
é universal, que temos salário mínimo, garantias individuais, direitos sociais
e somos a segunda democracia do mundo ocidental” não enche barriga de ninguém,
nem satisfaz a busca da sociedade brasileira por dias melhores, por um Brasil
decente, digno, com oportunidades iguais para seus filhos, e grande não somente
na dádiva da Natureza, que, a bem da verdade nunca soubemos valorizar e
aproveitar.
Utilizar os
serviços e tecnologia de hospitais como o Albert Einsten, Sírio Libanês ou
Incor, em São Paulo, não é a mesma coisa que frequentar hospitais públicos da
rede municipal ou estadual. Estudar na USP e na FATEC, além de ser menos
oneroso, não é a mesma coisa que estudar em Universidades, que, embora pagas e
caras, não oferecem um ensino esmerado.
O que se questiona
é que não avançamos. O próprio José Sarney, no mesmo artigo, reconhece que em
seu governo, éramos a oitava economia do mundo e em (2022) somos a 12ª (décima
segunda). Por que não avançamos? Dirão os tecnocratas de plantão que a economia
do mundo mudou. Sim, mas mudou para todos. Por que, então, recuamos? Ao longo
do tempo, nossos governadores de Estado nunca deram maior importância aos
verdadeiros problemas sociais. Sempre procuraram soluções paliativas, sem
debelarem as causas da doença. Já faz algum tempo (2003) que foi aprovado e
sancionado pelo Presidente da República, o Estatuto do Idoso, agora Estatuto da
Pessoa Idosa, que merece aplausos, porque preenche uma lacuna até então
existente e vamos torcer para que, na prática, funcione. Espera-se que os
nossos políticos trabalhem para o bem da sociedade e não como é de costume
acontecer, mais uma Lei a servir de propaganda nas eleições futuras.
Enquanto isso,
vemos imagens na televisão e lemos em jornais as falcatruas, os acordos de
partidos políticos que geram tanto dinheiro, que já não cabem na bolsa, no
bolso do paletó, na meia, na cueca e nos sapatos, com a conivência da Suprema
Corte.
Acorda, Brasil!
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