quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

REMISSÃO

 

                        (FOTO ENVIADA PELO PRIMO SANDRO-IPUPIARA-BAHIA)


REMISSÃO

Carlos Drummond de Andrade


Tua memória, pasto de poesia,

tua poesia, pasto dos vulgares,

vão se engastando numa coisa fria

a que tu chamas: vida, e seus pesares.


Mas, pesares de quê? Perguntaria,

se esse travo de angústia nos cantares,

se o que dorme na base da elegia

vai correndo e secando pelos ares,


e nada resta, mesmo, do que escreves

e te forçou ao exílio das palavras,

senão contentamento de escrever,


enquanto o tempo, em suas formas breves

ou longas, que sutil interpretavas,

se evapora no fundo do teu ser?


Nenhum comentário:

Postar um comentário