sexta-feira, 20 de outubro de 2023

MEU SER EVAPOREI NA LIDA INSANA

MEU SER EVAPOREI NA LIDA INSANA

Bocage


Meu ser evaporei na lida insana

Do tropel de paixões, que me arrastava;

Ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava

Em mim quase imortal a essência humana.


De que inúmeros sóis a mente ufana

A existência falaz me não dourava!

Mas eis sucumbe a natureza escrava

Ao mal, que a vida em origem dana.


Prazeres, sócios meus, e meus tiranos!

Esta alma, que sedenta em si não coube,

No abismo vos sumiu dos desenganos.


Deus, ó Deus! Quando a morte a luz me roube,

Ganhe um momento o que perderam anos,

Saiba morrer o que viver não soube.


(LIVRO GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA, PÁGINA 56, EDIÇÃO DE 1987)


 



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