domingo, 22 de outubro de 2023

HORAS MORTAS - ALBERTO DE OLIVEIRA

 




 

HORAS MORTAS

Alberto de Oliveira



Breve momento, após comprido dia

De incômodos, de penas, de cansaço,

Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,

Posso a ti me entregar, doce Poesia!


Desta janela aberta à luz tardia

Do luar em cheio a clarear o espaço,

Vejo-te vir, ouço o leve passo

Na transparência azul da noite fria.


Chegas. O ósculo teu me vivifica.

Mas é tão tarde! Rápido flutuas,

Tornando logo à etérea imensidade;


E na mesa a que escrevo apenas fica,

Sobre o papel – rastro das asas tuas –

Um verso, um pensamento, uma saudade.


(GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA, PÁGINA 81)

Nenhum comentário:

Postar um comentário