segunda-feira, 31 de julho de 2023

SONETO AUTOBIOGRÁFICO

 



SONETO AUTOBIOGRÁFICO

Carlos Ribeiro Rocha (In memoriam)


Nasci distante, mas, um certo dia

por um desses caminhos que não vi,

o segundo menino de Maria (*)

transformou-se em Carlinhos de Bibi. (**)


Dona Bibi, trocando bilros, via

o futuro do “filho”, do guri

que numa escola até já escrevia,

procurando o melhor só para si.


Louvo a almofada que teceu a renda

com que era paga a escola do menino,

e uma estrela brilhara em sua senda...


Por um capricho ameno do destino

que se parece mesmo antiga lenda,

sou, agora, um poeta nordestino.


(*) – Mãe legítima

(**) – Mãe adotiva


SONETO AO SONETO

 

                                (FOTO DO BLOG DA POETISA CLEIDE CANTON)


Soneto ao SONETO

Cleide Canton


Relato com apreço, em dez compassos,

uma cena ou um fato que me encanta,

sabendo que se colhe o que se planta

nesta trama de glórias e fracassos.


Por onde andarão estes meus passos

se eu calar tantos gritos na garganta...

Se gritar também sei que nada adianta,

se parar morrerão estes meus traços.


O secular insiste, então me rendo.

Não troco o que aprendi e ainda aprendo

no verso que à pureza me conduz.


A ti, SONETO, oferto este meu preito,

na busca dessa forma, sem defeito,

que tanto e tanto diz, e me seduz!


São Carlos/SP/BR, 03/01/2017 

SINTO VERGONHA DE MIM

 

(FOTO DO BLOG DA POETISA CLEIDE CANTON)

SINTO VERGONHA DE MIM!

Cleide Canton


“Por ter sido educadora de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
Que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o “eu” feliz a qualquer custo,
buscando a tal “felicidade”
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos “floreios” para justificar
atos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre “contestar”,
voltar atrás
e mudar o futuro.
‘Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo
que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer…
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!

 


SONHEI-TE

 


                                                (GILKA MACHADO - 1893 a 1980)


SONHEI-TE

GILKA MACHADO (1893/1980)


Sonhei-te tantos anos! Tantos anos!

Eras o meu ideal de amor e de arte,

buscava-te a toda hora e em toda parte

nessa ânsia inexplicável dos insanos.


Enfim, vencida pelos desenganos,

como quem nada espera que lhe farte

a alma faminta, exausta de sonhar-te,

abandonei-me do destino aos danos.


Surges-me agora, em meio da jornada

da Vida: vens do Inferno ou vens da Altura?

- Não sei: mas de ti fujo, apavorada!


E, em lágrimas, minha alma conjetura:

uma felicidade retardada

quase sempre se torna desventura.


DIREITO COMO FENÔMENO SOCIAL

 


DIREITO COMO FENÔMENO SOCIAL.

Mário Ribeiro Martins (07/08/1943 - 18/03/2016)



Com o titulo sugestivo de Sociologia Jurídica se pretende considerar o direito à luz da Sociologia, com os métodos da Sociologia ou em função da Sociologia, isto é, em relação com os demais fenômenos sociais. Os fenômenos do direito, às vezes, têm sido tratados de forma abstrata e imaginária. A Sociologia do Direito se apresenta exatamente como uma reação a esta forma de tratamento.

O fato jurídico, como disse Renato Hubert, em ARCHIVES DE PHILOSOFIE DU DROIT ET DE SOCIOLOGIE JURIDIQUE, encarado sociologicamente, se alarga até identificar-se com o fato social ou até representar o fato social em sua totalidade.

O direito, como fenômeno social, no entender de Cláudio Souto, é norma social de intensidade mais alta. Daí a razão porque a Sociologia Jurídica tem também a função de inquirir, de analisar e de investigar a sistemática jurídica e que vai desde a descrença no funcionamento do sistema jurídico até os problemas de direito que afetam a sociedade.

Ainda assim, o direito se apresenta como fator de equilíbrio entre os indivíduos e grupos dentro da sociedade, donde é válida a observação de Emile Durkheim de que o direito é um símbolo visível de toda a interação social.

Quando se fala em função social desempenhada pela ordenação jurídica tem-se o direito como fenômeno social, para o qual se volta a Sociologia Jurídica. A boa e correta aplicação do direito constitui fator de tranquilidade social.

Assim, não basta dizer que a finalidade do direito é dar garantia e segurança, eis que, tais palavras nada significam, se não estiverem voltadas para o bom e desejável, enfim para o bem-estar social. 

(SOCIOLOGIA GERAL & ESPECIAL. Anápolis, Walt Disney, 1982, página 378).



(FOCALIZADO EM MEU LIVRO ¨FAGULHAS¨, PÁGINAS 134/141)


FILOSOFIA MAÇÔNICA

 



FILOSOFIA MAÇÔNICA

Mário Ribeiro Martins (07/08/1943 - 18/03/2016)



Evidentemente, a maçonaria não é uma instituição estática, mas dinâmica. Isto significa que certos conceitos são mudados para satisfazer as contingências dos séculos.

Contudo, ela tem os seus “LANDMARKS” ou “ANTIGOS LINDEIROS”, que são considerados absolutamente básicos para toda a maçonaria.

Além disto, há a Constituição de Anderson, elaborada pelo Pastor Protestante James Anderson, Ministro da Igreja Presbiteriana de Londres, em 1717 e que é considerado até mesmo pelos inimigos da Ordem e não somente por eles, mas por todos os maçons, como o Profeta da Maçonaria.

Embora existam outros documentos de grande importância, estes dois são os textos fundamentais da Maçonaria Universal. É com base em tais documentos que cada Potência Maçônica tem a sua Constituição e cada Loja o seu regulamento.

O que pensa a Maçonaria Nacional é sempre de grande significação. Ninguém pode, como individuo, estabelecer este ou aquele pensamento e atribuí-lo à Sublime Ordem. No entanto, pelos documentos que se tem em mãos, é possível perceber o pensamento da maçonaria brasileira nos seguintes pontos:

Tanto a Maçonaria quanto o Cristianismo combatem não apenas o Comunismo, mas também o capitalismo. O equilíbrio entre estes dois sistemas econômicos está nas doutrinas maçônica e cristã, que defendem o que é justo.

Enquanto Capitalismo e Comunismo são a negação do amor, Maçonaria e Cristianismo são a mais alta expressão do sentimento de solidariedade humana pela liberdade, igualdade e fraternidade.

Se, de um lado, o Comunismo explora o homem, também o Capitalismo comete injustiças. Se no Comunismo é difícil ver o dinheiro, no Capitalismo prende-se o dinheiro que deveria ser utilizado para o bem comum. O cristianismo e maçonismo reprimem a injustiça e ensinam o amor ao próximo.

Maçonismo não é comunismo. Os inimigos da Ordem têm criado, em torno dela, os mais aberrantes conceitos. O Comunismo é uma ditadura política, que nega a importância do homem, transformando-o em escravo da máquina estatal.

Contudo, não se pode negar que tanto o maçonismo como o comunismo fazem guerra contra a exploração do homem. Só que os meios são por demais divergentes.

Enquanto o Comunismo se vale do “direito da força”, a Maçonaria se vale da “força do direito”. No maçonismo, o homem tem de se curvar diante do Arquiteto dos Mundos, que é Deus, para vencer as lutas diárias.

Para a Maçonaria, o homem é um ser que pensa e que tem o direito de externar os seus pensamentos. Para o Comunismo, o homem transformado em máquina, não tem o direito de pensar, pois quem pensa é o Estado.

Em virtude de ser a Maçonaria uma organização de caráter universal, há sempre aqueles que encontram na Sublime Instituição um caráter desnacionalizador.

A maçonaria, no entanto, é nacionalista. O primeiro dever do maçom é a fidelidade à pátria. O caráter universal que tem a Ordem não destrói o patriotismo.

A maçonaria é nacionalista e contribui, de todos os modos, para criar condições favoráveis ao desenvolvimento da nação. O nacionalismo da instituição é acentuado de várias maneiras, entre as quais, a importância dada ao Pavilhão Nacional, o número de colégios e escolas mantidos, além da proibição de trocar frases, amistosas ou não, em língua estrangeira, fora de ordem e sem que haja interprete.

A maçonaria tem lutado com todas as forças para concretizar o ideal da liberdade religiosa. Conseguiu impor este principio, no Brasil, quando do movimento republicano de 1889, em que um dos primeiros passos foi a separação entre a Igreja e o Estado, com a consequente liberdade de consciência.

A Sublime Ordem tem sido protetora e defensora do ideal religioso, da liberdade de culto, de crença, de consciência e de pensamento do individuo.

Ensina a Maçonaria que o Estado não deve ter Religião Oficial, mas deve amparar todo e qualquer sistema religioso. 


(Texto publicado no livro ESCRITORES DO BRASIL. Rio de Janeiro, Arte Moderna, 1980, I volume, p. 307).






O NORDESTE E SUA TRADIÇÃO

 


O NORDESTE E SUA TRADIÇÃO

Mário Ribeiro Martins (07/08/1943 - 18/03/2016)



A palavra "Nordeste", "Nordestino" e todos os demais derivados, mesmo para o homem que está inserido na região, carrega consigo uma acentuada conotação de realidade social pitoresca e exótica.

É claro que tal fato não é senão consequência da situação particular do Nordeste no processo de desenvolvimento histórico das relações socioeconômicas inter-regionais no quadro da sociedade brasileira.

Por isso, a expressão "cultura nordestina" ou "cultura do Nordeste" envia de imediato e inconscientemente a elementos culturais como o BUMBA-MEU-BOI, a FEIJOADA, ao CAJU, à CIRANDA, ao MAMULENGO, ao MARACATU, etc.

E não se pode negar uma boa parte de responsabilidade aos intelectuais da SEMANA DE ARTE MODERNA, com suas intenções de "descoberta" dos Brasis não cosmopolitas, não europeizados pela criação e propaganda dessa imagem do "Nordeste Folclórico".

E, muito frequentemente, o intelectual, não apenas o artista, mas até mesmo o cientista social da região se deixam seduzir por essa imagem falaciosamente "poética", de crendices, "ex-votos", cantadores de feira e folhetos de cordel.

Sem dúvida, é recomendável na arte a recitação erudita ou para erudita da tradição artística popular da região através de seus mais diferentes porta-vozes.

Porem, é necessário não confundir essa atitude saudável de consciência dos verdadeiros valores culturais, com o folclorismo subserviente de quem se preocupa antes em atender às expectativas do consumidor do Rio de Janeiro e de São Paulo, perpetuando a imagem de "UM OISEAU RARE" ou "AVIS RARA", do Nordeste e do Nordestino.

Não será que, como acreditava Renato Carneiro Campos, a falsa valorização deslumbrada do folclore é função direta de atitudes tradicionais ou antes ainda, da incapacidade de se perceber outra realidade social que não a do Nordeste arcaico?

Ou ainda a realidade incontestável da super cultura urbana, industrial e cosmopolita, cada vez menos restrita aos seus focos metropolitanos de difusão internacional?

Mas, se cultura e sociedade não são assimiláveis ao puramente geográfico, nem ao simplesmente demográfico, a região nordestina não possui a homogeneidade cultural monolítica que aquele clichê insinua, ou pelo menos, deixa transparecer. 

(IMAGEM ATUAL. Anápolis, 1994).






FRASES DE APPARÍCIO TORELLY, O BARÃO DE ITARARÉ

 

                                    (APPARÍCIO TORELLY, FOTO DA INTERNET)

                                                           

ALGUMAS FRASES DE APPARÍCIO TORELLY, O BARÃO DE ITARARÉ:


- O Português é mesmo difícil. Existe a calça que a gente bota e a bota que a gente calça.


- Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.


- A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.


- Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.


- Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.


- De onde menos se espera, daí é que não sai nada.


- Quem empresta, adeus.


- Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.


- O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.


- Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.


- A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.


- O fígado faz muito mal à bebida.


- O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.


- Eu cavo, Tu cavas, Ele cava, Nós cavamos, Vós cavais, Eles cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo…


- Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.


- Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.


- Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.


- Mais vale um galo no terreiro do que dois na testa.


- Todo homem que se vende recebe muito mais do que vale.


- Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará tão cretino como o pai.


- Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!


PERSISTÊNCIA

 


PERSISTÊNCIA

Filemon Martins


Sou persistente como o garimpeiro

que busca a joia rara e deslumbrante,

cavando a terra, construindo aceiro,

para encontrar, altivo, o diamante.


Sou incansável pelo tempo inteiro,

busco a palavra e o brilho fascinante

do verso ardente, puro e verdadeiro

que brilha como o sol, inebriante.


Ninguém me deterá neste garimpo,

irei, se for preciso até o Olimpo

buscar minha divina inspiração.


E nestes versos pobres, mas floridos

meus sonhos ficarão mais coloridos,

oriundos do Amor, do coração!


ASSIM É UMA HISTÓRIA

 


                                                        (FOTO DO FACEBOOK)


ASSIM É UMA HISTÓRIA

Olinda Ferreira


Olha essa tal saudade que não passa

envolta no querer que em mim enlaça

e persevera desde longo tempo...

O que será de tão sagrado e secreto,

que o destino tenta avisar?

Por que essa tão imensa rigidez para se poder amar?

Tudo parece ser cerimonial de espera,

aguardando ocasião, nem se sabe de que.

Quando tudo transpira meio que próspero,

lá vem a vida e me distancia de você.

O bom presságio vem e vai embora,

deixando a alma sem ânimo para compor...

Entra a noite, vem o dia,

não há visão de caminho, como for...

Assim, conta-se mais uma história,

que rodeada de sentimento emocional,

possui estratégia armada pelo destino,

constituindo passagem de uma vida pessoal.


(POSTAL CLUBE - ANTOLOGIA 14, PÁGINA 64)


SOBRE A AUTORA:

OLINDA FERREIRA nasceu em Niterói, RJ. Filha de Luiz de Souza (engenheiro civil paulistano) e de Rina Trávia de Souza (argentina). Residiu em São Paulo por dois anos. Também morou na Argentina em casa de parentes. É romântica, adora escrever contos, poemas, pensamentos, etc. De alma cigana tem paixão por viagens, natureza, animais e cozinhar receitas simples deixadas por sua mãe. Aposentada do Proderj, dedica-se à parte religiosa, estudando os porquês da vida, segundo o espiritismo. Admira pessoas de índole sincera, também guerreiras. Tem publicações no Facebook.

(RESUMO DA ANTOLOGIA 14, EDITADA POR ARACI BARRETO DA COSTA)

NÃO ME ESQUEÇO...

 



NÃO ME ESQUEÇO…

Filemon Martins  


Não me esqueço dos versos comoventes

que escrevi com perene inspiração,

quando vivi nos chapadões florentes

da minha terra em meio do Sertão.


Depois, parti... Sofri dores pungentes

numa luta sem fim de solidão.

Desolado, vivi dias ingentes

mas se caí, jamais fiquei no chão.


Vejo, porém, que os meus cabelos brancos

são apenas troféu para consolo

de quem viveu aos trancos e barrancos...


Desafiei a vida, estou cansado,

só resta agora um pensamento tolo:

sou poeta, sou livre e aposentado.


MEU EVANGELHO

 


MEU EVANGELHO
Filemon Martins

 
Amo tudo que existe de sublime 
No Universo de Deus, o Criador, 
Cujo poder a Natureza exprime 
Quando surge a alvorada multicor. 

Amo de Cristo o sangue que redime 
E a rude cruz, o símbolo da dor, 
Onde deponho a mágoa que me oprime 
Em troca do perdão, consolador... 

Então, eu sinto paz, sinto alegria 
Do Evangelho do Filho de Maria 
Que me traz eviterna inspiração. 

E quando sou, no mundo, desprezado, 
Como outrora foi Jó abandonado, 
Ele vem consolar-me o coração. 

 

 


domingo, 30 de julho de 2023

OLHAR...

 


                                                     POETA JOSÉ OUVERNEY


OLHAR

José Ouverney


Olhar... Mais que um olhar! É feito chama.

Não quero olhar. Passo depressa. Evito

o “olhos nos olhos”: refinada trama

que me mantém desgovernado e aflito.


Olhar que lembra o olhar de quem ama

e ao mesmo tempo foge. Olhar bonito,

puro, perjuro... juro: olhar de cama!

Olhar de súplica! Olhar maldito!


Não quero olhar, não posso olhar. É afronta.

Render-me aos seus encantos de mulher

é um mal que poderá não ter remendo;


mas, de repente, sem que eu me dê conta,

eis-me, outra vez... como quem nada quer...

parado... À espera de um olhar... querendo...


(BALI – LETRAS ITAOCARENSES, página 12)


VITÓRIA

 


VITÓRIA 

Filemon Martins


Não há vitórias sem batalhas, creio 

que a própria vida terá mais valor, 

se a luta for renhida, mais anseio 

para lutar na guerra contra a dor. 


A competência e a fé já são um meio 

de vencer com sucesso e sem favor. 

A honestidade traz respeito alheio 

e recompensa quando houver amor. 


Têm mais sabor vitórias alcançadas 

quando são justamente conquistadas, 

sem artifícios ou qualquer trapaça. 


Feliz de quem, na vida, assim peleja 

porque a felicidade vem e beija 

os que venceram com amor e graça. 



QUEM FOI APARÍCIO FERNANDES?

 

(APARÍCIO FERNANDES)

A propósito do texto QUEM FOI APARÍCIO FERNANDES? O escritor Jesus de Miúdo, de Acari –Rio Grande do Norte, transcreveu no dia 02.02.2009 em seu blog www.acaridomeuamor.nafoto.net, comemorando 1.000.000 de acessos.
UM MILHÃO DE ACESSOS! A imagem não poderia ser outra.
Para comemorar os 1.000.000 de acessos que se dará daqui a pouquinho, quero trazer um personagem de Acari, nascido aqui, quero dizer melhor, famoso no Brasil inteiro, mas de memória esquecida em nossa terrinha, e por quem tenho adquirido cada vez mais admiração.
Infelizmente não tenho, tampouco consegui encontrar na Internet, nenhuma foto dele, mas se trata do poeta Aparício Fernandes. Mas quem foi Aparício Fernandes. Deixo a resposta com o senhor Filemon Martins, cujo texto segue abaixo, em itálico:

APARÍCIO FERNANDES DE OLIVEIRA (1934-1996) nasceu em 16 de dezembro de 1934 em Acari, Rio Grande do Norte, mas passou a infância e adolescência na cidade salineira de Macau, ao norte do mesmo Estado, onde Aparício, ainda criança, brincou, aprendeu as primeiras letras, fez amizades e teve suas primeiras paixões.
Estudou em Natal, Recife e Caicó. Seu primeiro contato com o trabalho foi ainda em Macau, numa firma salineira. Todavia, quando a família se mudou para Natal, seu irmão conseguiu empregá-lo no “Departamento Nacional de Obras contra a Seca” – DNOCS.
Em 1952 resolveu dar um novo rumo à sua vida. Embarcou no navio Itahité de Natal em direção ao Rio de Janeiro. Assim, Aparício deixou seu Estado de origem para brilhar em outras plagas, tendo escrito, tempos depois, uma de suas trovas mais bonitas:
“Parti do Norte chorando,
que coisa triste, meu Deus!...
Eu vi o mar soluçando
e o coqueiral dando adeus...”
Em 1967 casou-se com Adelina Maria Diniz Fernandes, na Catedral de Juiz de Fora – MG. Seus filhos: Maria Verônica, nascida em dezembro de 1971 e André, nascido em setembro de 1975.
Poeta, Trovador, Cronista, Radialista e Entrevistador e um dos maiores organizadores de Coletâneas do Brasil. Aparício colaborou em jornais, revistas e emissoras de rádio, onde apresentava programas de trovas, ora declamando, ora entrevistando outros trovadores. Organizou e publicou em parceria com Zálkind Piatigórsky, a Coleção “Trovas e Trovadores”, com 22 livros de autores nacionais, edição da Livraria Freitas Bastos, entre 1962 e 1963. Ainda juntamente com Zálkind Piatigórsky e Magdalena Léa, organizou e publicou a Coleção “Trovas do Brasil” em 12 volumes pela Editora Minerva, em 1965.
Tornou-se Diretor da Secretaria da Junta de Conciliação e Julgamento (Justiça do Trabalho) da cidade de Três Rios, a 123 Km do Rio de Janeiro, formando-se, posteriormente, em Direito nas Faculdades Integradas MOACYR SREDER BASTOS.
Escreveu dezenas de livros, entre outros: “SONHO AZUL” – 1961; “CANTIGAS DO AMOR SINCERO” – 1962; “TROVAS DO MEU CORAÇÃO” – 1965; “O GRANDE REI” – 1966; “O REI DOS REIS” – 1968; “A TROVA NO BRASIL – HISTÓRIA E ANTOLOGIA” – 1972; “NOSSAS TROVAS” (com 72 autores) – 1973; “NOSSAS POESIAS” (com 74 autores) – 1974; “POETAS DO BRASIL” (2 volumes com 150 autores) – 1975; “ANUÁRIO DE POETAS DO BRASIL” (2 volumes com 162 autores) – 1976 e 1977. A partir de 1978 Aparício organizou e publicou também “ESCRITORES DO BRASIL” (2 volumes) e o “ANUÁRIO DE POETAS DO BRASIL” em 4 volumes.
Autor da magnífica “ORAÇÃO DO POETA” que passou a ocupar a quarta capa dos Anuários:
“Obrigado, Senhor, pela música mensageira da harmonia – que nos enternece a alma; pela água cristalina, pela esperança que anima os corações e pelo amor, que dá sentido à vida. São dádivas vossas: a solidariedade, o riso das crianças, a ternura das mães, a sabedoria da natureza, a justiça, o perdão, o remorso, que regenera os maus. E o próprio erro, quando induz à verdade. Temos o mar, o céu, a terra dadivosa, os animais que tanto nos servem, as flores – que são estrelas da terra – e as estrelas – que são as flores do céu... Mas, sobretudo, obrigado, Senhor, pela poesia, que é o conjunto de todas essas maravilhas e a revelação suprema do vosso amor. Obrigado por ter-me feito sensível à face resplandecente da vossa beleza. Que chegue até vós a nossa gratidão, porque vos dignastes ser o maior de todos os Poetas!”
Eis algumas trovas de Aparício Fernandes:
“Quanto mais a mulher jura
gostar de homem erudito,
tanto mais ela procura
um tipo burro e bonito...”
“Da minha infância, já finda,
eu sou o amargo produto.
Nem sempre da flor mais linda
é que nasce o melhor fruto...”
“Lá se vão os retirantes!
deixam seus campos... seus bois...
o coração morre antes!
o corpo morre depois...”
Segundo escreveu WALTER WAENY, em artigo publicado no jornal CIDADE DE SANTOS, dias 08 e 15.07.1982: “Reunindo essas duas aptidões – excepcional bom gosto e critério literário – Aparício Fernandes está plenamente à altura da tarefa imensa que se impôs: sendo, sem dúvida, um dos melhores e mais expressivos trovadores do Brasil, ele, além disso, é possuidor de ampla cultura literária e de alto senso de organização. Como consequência, as antologias, por ele elaboradas, são as melhores e mais completas de que o Brasil dispõe, no terreno da trova, e, no terreno da poesia, são aquelas que mais amplamente apresentam um panorama literário da atualidade.”
Alguns comentários sobre o Anuário de Poetas do Brasil: “O Anuário de Poetas do Brasil é a ponte que leva os poetas olvidados ao conhecimento do público leitor e dos expoentes da literatura nacional”. Carlos Ribeiro Rocha (Salvador-Bahia). “Felicito-o pela beleza e propriedade da obra, que enriquece a bibliografia brasileira”. Vasco José Taborda (Curitiba-Paraná). “Aparício Fernandes vem realizando esse trabalho há algum tempo, com real proveito para as nossas letras”. Torrieri Guimarães (São Paulo - SP).
A poesia de Aparício Fernandes é de um lirismo encantador. Não há quem não se apaixone pelos versos do poeta potiguar, emprestado ao Rio de Janeiro. Sua poesia é profunda, bela, inspirada e espontânea. Quem o lê, tem a sensação de estar cantando, declamando, cantarolando uma canção de amor, de fé e de esperança.
O poeta deixou uma obra de inestimável valor para a literatura nacional e conforme depoimento de seu amigo mais chegado, ENO THEODORO WANKE, seu único vício – o cigarro – o levou definitivamente às duas horas e dez minutos da madrugada de 09 de janeiro de 1996.
No ano 2000, comemorou-se o cinquentenário do Movimento Trovista Brasileiro, também conhecido como Trovismo com o nome de Aparício Fernandes, numa justa homenagem de seus irmãos, os Trovadores.
É verbete da ENCICLOPÉDIA DE LITERATURA BRASILEIRA, de Afrânio Coutinho, edição do MEC, 1990, com revisão de Graça Coutinho e Rita Moutinho Botelho, edição revista e atualizada em 2001.

BIBLIOGRAFIA:
ANUÁRIO DE POETAS DO BRASIL – 1979 – 4º VOLUME
(FOLHA CARIOCA EDITORA LTDA - RIO DE JANEIRO).
ANUÁRIO DE POETAS DO BRASIL – 1982 – 1º VOLUME
(FOLHA CARIOCA EDITORA LTDA - RIO DE JANEIRO).
APARÍCIO FERNANDES – TROVADOR E ANTOLOGISTA, ENO THEODORO WANKE (EDIÇÕES PLAQUETTE – RIO DE JANEIRO – 2000).

(FOCALIZADO EM MEU LIVRO ¨FAGULHAS¨, PÁGINAS 152/155)

É dele também a trova:

Das culminâncias da serra
ao mais profundo grotão,
trago viva a minha terra,
dentro do meu coração!"

O cara era bom ou não? Então, é devolvendo a Aparício um lugar no coração acariense que eu quero hoje comemorar os 1.000.000 de acessos.


POEMA SEM NOME

 

                             (FOTO ENVIADA PELO PRIMO SANDRO)


POEMA SEM NOME

Filemon Martins


Fui buscar na memória da saudade

o arrulho da juriti, no pé da serra,

o canto do sabiá, nas mangueiras do pomar,

quando havia ainda floresta sobre a Terra.


Fui buscar na prece da tarde

a ternura do sol em pleno Ocaso.

Fui buscar o perfume da rosa

que, sorrindo no jardim,

torna a paisagem mais radiosa.

Busquei também nos passarinhos

que saltitam, em seus ninhos,

a canção dos amantes.


Busquei a luz no brilho das estrelas,

aquela mais brilhante e resplendente,

aquela luz dos teus olhos.

Busquei a fé, que renasce na alma do poeta,

quando sonha, quando ama, quando crê.


Busquei a plenitude da vida

nas vibrações do amor

quando o céu fica mais perto.

E, mesmo estando no deserto,

sinto que estou num prado tranquilo,

numa paisagem verde, deslumbrante,

onde ouço misteriosamente o som de um violino

e me reencontro enamorando o Mundo

em busca do meu sonho e do meu destino!







O PACTO DO PERDÃO

 


O PACTO DO PERDÃO
Afonso Maria da Paixão

Depois que o meu Senhor me perdoou,
vai o meu coração seguindo em frente,
nutrindo-se das águas da torrente,
deixando-se tocar por quem me amou.

Depois que o meu Senhor, enfim, jorrou
a força da esperança em minha mente,
eu acho tudo bom e ando contente:
sou o filho que o Pai abençoou.

Dizer que sou feliz nem é preciso;
diz tudo para todos meu sorriso,
feito sinal marcado em minha face.

E, assim, eu vou vivendo com alegria
o encontro com o Senhor a cada dia,
recriando entre nós um novo enlace.

(POSTAL CLUBE-ANTOLOGIA 16, PÁGINA 18)

SOBRE O AUTOR:
AFONSO MARIA DA PAIXÃO, Frei, Poeta e Trovador nasceu em 12 de agosto de 1952 em São José do Jacuri, MG. Estudou no Seminário Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus, em Diamantina, no Colégio Marista e Estadual de Segundo Grau, em Patos de Minas, completando sua formação em Filosofia e Teologia em Petrópolis, RJ. Exerceu o sacerdócio em Uberlândia, Ouro Preto, Carmo do Paranaíba, São João Nepomuceno/MG e Sapucaia, RJ.