segunda-feira, 31 de julho de 2023

O NORDESTE E SUA TRADIÇÃO

 


O NORDESTE E SUA TRADIÇÃO

Mário Ribeiro Martins (07/08/1943 - 18/03/2016)



A palavra "Nordeste", "Nordestino" e todos os demais derivados, mesmo para o homem que está inserido na região, carrega consigo uma acentuada conotação de realidade social pitoresca e exótica.

É claro que tal fato não é senão consequência da situação particular do Nordeste no processo de desenvolvimento histórico das relações socioeconômicas inter-regionais no quadro da sociedade brasileira.

Por isso, a expressão "cultura nordestina" ou "cultura do Nordeste" envia de imediato e inconscientemente a elementos culturais como o BUMBA-MEU-BOI, a FEIJOADA, ao CAJU, à CIRANDA, ao MAMULENGO, ao MARACATU, etc.

E não se pode negar uma boa parte de responsabilidade aos intelectuais da SEMANA DE ARTE MODERNA, com suas intenções de "descoberta" dos Brasis não cosmopolitas, não europeizados pela criação e propaganda dessa imagem do "Nordeste Folclórico".

E, muito frequentemente, o intelectual, não apenas o artista, mas até mesmo o cientista social da região se deixam seduzir por essa imagem falaciosamente "poética", de crendices, "ex-votos", cantadores de feira e folhetos de cordel.

Sem dúvida, é recomendável na arte a recitação erudita ou para erudita da tradição artística popular da região através de seus mais diferentes porta-vozes.

Porem, é necessário não confundir essa atitude saudável de consciência dos verdadeiros valores culturais, com o folclorismo subserviente de quem se preocupa antes em atender às expectativas do consumidor do Rio de Janeiro e de São Paulo, perpetuando a imagem de "UM OISEAU RARE" ou "AVIS RARA", do Nordeste e do Nordestino.

Não será que, como acreditava Renato Carneiro Campos, a falsa valorização deslumbrada do folclore é função direta de atitudes tradicionais ou antes ainda, da incapacidade de se perceber outra realidade social que não a do Nordeste arcaico?

Ou ainda a realidade incontestável da super cultura urbana, industrial e cosmopolita, cada vez menos restrita aos seus focos metropolitanos de difusão internacional?

Mas, se cultura e sociedade não são assimiláveis ao puramente geográfico, nem ao simplesmente demográfico, a região nordestina não possui a homogeneidade cultural monolítica que aquele clichê insinua, ou pelo menos, deixa transparecer. 

(IMAGEM ATUAL. Anápolis, 1994).






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