A TRAJETÓRIA DE FRANCISCO MARTINS DOS
SANTOS (Chico de Godinha), de Ipupiara a São Paulo e vice-versa.
Filemon Martins
Francisco Martins dos Santos, mais
conhecido como Chico de Godinha, nasceu no Olho d’Água em 04.10.1939, filho de
Manoel Martins dos Santos (tio Né) e Alexandrina Novais dos Santos (Godinha). O
pai nasceu na Mata do Evaristo em 1914 e a mãe no Coxim, em Ipupiara, 1919.
Até seus dezesseis (16) anos residiu no
povoado Mata do Evaristo, Ipupiara. Ajudava sua mãe nas despesas da casa:
matava e vendia carne de bode na feira livre da cidade. Era o sustento da
família, que era bem numerosa. São seus irmãos: Lourisvaldo Martins dos Santos
(Valdo, falecido), Alice Martins dos Santos, Joaquim Martins Neto (Tinga), Antônio
Martins dos Santos (Totinha) e Emília Martins Neta (falecida).
Nessa época já namorava a dona Celina
Silva e que mais tarde viria a ser sua esposa. Por outro lado, sonhava com uma
vida melhor, com novos horizontes e novas oportunidades que lhe possibilitasse
ajudar efetivamente sua família. Assim, decidiu vir para São Paulo, a terra do
trabalho, e com mais 4 amigos vieram num caminhão. Inicialmente foi morar no Belenzinho,
onde conseguiu seu primeiro emprego na Empresa Vigor, ainda hoje existente.
Tempos depois foi transferido para trabalhar no Rio de Janeiro. De 1956 a 1960
hospedou-se no Hotel São Carlos, na Praça das Bandeiras. Depois, foi para Lins
de Vasconcelos, zona Norte do Rio de Janeiro.
Em seguida retornou à cidade de São
Paulo, ainda em 1960, quando se casou com Celina Silva Santos. Juntos, tiveram
seis (6) filhos, 2 mulheres e 4 homens, todos nascidos em São Paulo, Francisco
Silva dos Santos, Sirlene Santos Rodrigues, Claudinei Silva dos Santos, Gilson
Silva dos Santos (falecido), Regiane Silva dos Santos e Anderson Silva Santos.
De 1960 a 1961 tornou-se motorista na
Viação São Luiz, fazendo a linha Anhangabaú – Praça Salvador Correia, Capão
Redondo. De 1961 a 1971 trabalhou como motorista na Empresa de Auto-Ônibus Alto
do Pari, fazendo o percurso da Praça Clóvis à Praça Vista Alegre. O trabalho de
motorista de transporte público era árduo e cansativo, tendo em vista a
responsabilidade e as condições de trabalho naquela época. Entre 1971 e 1972
trabalhou por pouco tempo na empresa Tostines, no bairro Canindé, como
Supervisor de Vendas. De 1972 a 1973 exerceu a função de Chefe do Tráfego, na
empresa Meta Transporte, situada na Avenida Vautier, Canindé, São Paulo.
Por concurso público, aprovado em 1971,
tornou-se funcionário na Polícia Civil do Estado de São Paulo. Em 1973 foi
chamado para trabalhar no Palácio do Governo do Estado de São Paulo. Sempre
cortês, recebia os amigos e familiares com alegria. Alguns vinham da cidade de
Ipupiara com destino a São Paulo e não tinham, sequer, onde ficar. Mas o Chico
dava um jeito e não desamparava ninguém. Para ajudar o marido nas despesas da
casa, dona Celina trabalhou, por um período, para uma família na rua do Mercado
Municipal de São Paulo, centro da capital. Paralelamente montou uma pensão para
acolher conterrâneos que vinham buscar oportunidades de trabalho em São Paulo.
Sempre cabia mais um, arrumava um canto na casa para acomodá-los, comer e
dormir até que conseguissem um emprego. Tornou-se amigo do dono da Imobiliária
Lupa e sempre foi fiador de seus amigos e parentes. Uma relação de confiança
que nunca se quebrou. Sempre ajudou não só como fiador, mas na solução de
qualquer problema.
Residiu durante muito tempo na zona
Norte de São Paulo, em bairros, como Belenzinho, Vila Maria, Pari e Vila
Medeiros. Em 1978 comprou um táxi, um fusca que fez história, cor marrom e nas
horas vagas trabalhava como taxista para complementar a renda que recebia pelo
trabalho no Palácio do Governo. A família era grande, ele, a esposa e mais 5
(cinco) filhos. Em tempos de férias, viajava no fusca com toda a família de São
Paulo à Ipupiara. Dois adultos e cinco crianças dentro do fusquinha. Imagine,
então, a aventura! No Palácio do Governo, que se tornou a principal atividade,
dirigiu carros oficiais em várias comitivas e diversas autoridades, entre os
quais, governadores, prefeitos e políticos. Atuou, por último, como chefe da
Divisão de Transportes do Palácio do Governo. Como exímio motorista, sempre foi
respeitado, porque conhece tudo de carros. Em certa ocasião foi agraciado pela
rainha Silvia Renata Sommerlath, da Suécia, esposa do Rei Carlos XVI Gustavo,
com um broche de ouro personalizado. Até hoje se lembra daquele momento.
Respeitado entre seus colegas de
trabalho no governo do Estado de São Paulo, era conhecido como ¨Chico Rojão¨,
porque tinha pavio curto, era explosivo, diziam seus amigos. É que como
Encarregado Operacional, Chefe da Divisão de Transportes, cobrava e exigia o
serviço bem feito e rápido. Em 1979 mudou-se da Zona Norte – Vila Medeiros,
para a Zona Oeste de São Paulo, indo morar em Carapicuíba, onde comprou um
apartamento, depois de vender seu fusca marrom. O local era conhecido desde a
época em que trabalhou entregando o leite Vigor, enfrentando dificuldades como
estradas de barro, terra batida, mas sempre garantiu a entrega do produto aos
revendedores.
Em 1980, o Chico de Godinha participou
do comando de apoio à segurança da viagem apostólica do Papa João Paulo II ao
Brasil. Recebeu um broche e uma medalha com a foto de sua Santidade – o Papa.
Ano de 1985, São Paulo era governado por André Franco Montoro, e o Chico
conseguiu junto ao Fundo de Assistência Social do Palácio do Governo, por
intermédio da 1ª dama Dona Lucy Montoro, a doação de 80 (oitenta) cadeiras de
rodas, que foram destinadas para as regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Residindo em Carapicuíba, tornou-se
assessor político do seu amigo Sr. Edmundo Alves de Oliveira, que concorreu às
eleições como candidato a Vereador daquela cidade paulista para a gestão
1988/1992. Seu candidato foi eleito para duas legislaturas, tendo sido
Presidente da Câmara Municipal de Carapicuíba. Saía às ruas fazendo campanha e
pedindo votos para seu candidato. Esteve sempre envolvido na política, até por
força da função exercida no Governo do Estado de São Paulo. Sempre viveu e
conviveu no meio da política, um político aqui, outro acolá, uma prosa aqui,
outra acolá, praticamente todos os dias, no meio deles defendendo suas ideias e
ideais. Militante político alinhado com o MDB – Movimento Democrático
Brasileiro, e continua assim, basta acender a brasa da política e o papo pega
fogo e vai longe.
Não obstante a distância entre
Carapicuíba e a zona Norte – nunca abandonou suas raízes. Todos os domingos o
dever era sagrado, visitar os parentes e amigos que deixou na região de Vila
Medeiros. Suas visitas, às vezes, eram como relâmpago, porque queria visitar a
todos, resolver um problema aqui, outro acolá. Demorava um pouco mais quando ia
almoçar na casa do compadre Francelino e da comadre Dala, sua esposa, que fazia
um ¨galo¨ com muito carinho. Era uma festa.
De quando em quando viajava com a
família de São Paulo à Ipupiara. Eram viagens difíceis, demoradas pelas
condições das estradas e dos transportes, naquela época. Sabe-se que as
estradas eram asfaltadas até a cidade de Formosa (Goiás), a partir daí eram estradas
de terra batida até a chegada em Ipupiara. De ônibus era necessário, às vezes,
fazer 3 ou 4 baldeações. Ou terminar o percurso viajando na carroceria de um
caminhão carregado com algum produto. Naquela época não havia a ponte sobre o
rio São Francisco, em Ibotirama. Com a esposa e cinco filhos atravessavam de
madrugada o imponente rio Velho Chico com uma chalana, pequena e lotada, sem
coletes salva vidas numa verdadeira aventura. E cada vez que retornava de
viagem, reforçava a ideia e o sentimento de que um dia voltaria a morar em sua
terra natal. Era só uma questão de tempo.
De 1990 a 1991 trabalhou, paralelamente,
como segurança na cidade de Diadema, com o dono das Lojas Objeto, fabricante de
móveis de primeira qualidade. É bom lembrar que no período em que trabalhou no
Governo do Estado de São Paulo (20 anos), conheceu vários Estados e cidades do
Brasil, fazendo ¨varredura de segurança¨ para os governadores, políticos
ilustres, entre outros, ou buscando veículos oficiais em comboios (ambulâncias,
carros de bombeiros e outros veículos oficiais). Nessa função em São Paulo teve
oportunidade de conhecer nada menos que 270 (duzentos e setenta) municípios,
além de várias cidades brasileiras, tais como: Belo Horizonte, Goiânia, Porto
alegre, Santa Cruz do Sul, Fortaleza, Aracajú, Cuiabá e tantas outras.
Conheceu, inclusive, a menor cidade de São Paulo: Borá, na época com menos de
600 habitantes. Aposentou-se em 25/02/1991 pelo Governo do Estado de São Paulo,
após atingir o tempo de serviço exigido para aposentadoria. Chegou, então, o
tão esperado dia – dezembro/92. Chico de Godinha tomou a decisão de retornar
para sua terra de coração. Vendeu o imóvel em Carapicuíba e se mudou, agora de
volta a Ipupiara. Levou sua esposa e o filho caçula, Anderson Silva Santos (na
época com 7 anos de idade). Os demais filhos formaram suas famílias e continuam
morando em São Paulo.
Francisco Martins dos Santos passou a
residir no centro da cidade, na Rua Eugênio de Araújo, nº 5, próximo à Rua Sete
de Setembro e à Prefeitura Municipal da Cidade. Para a sua família em São
Paulo, Chico justificou que estava aposentado e faria jus a um descanso.
Verdade? – Que nada! Ele sempre foi apaixonado pela cidade de Ipupiara, antigo
Jordão. E em São Paulo sempre foi atuante na vida política. E lá não seria
diferente. Concorreu e foi eleito Vereador para a gestão 1997/2000. Foi o
segundo Vereador mais votado da cidade. Tomou posse na Câmara Municipal de
Ipupiara, tendo atuado como fiscalizador ferrenho e defensor dos direitos do
povo naquela gestão. Desde então sempre trabalhou em todos os mandatos dos
prefeitos da cidade, ajudando o povo, especialmente na logística de transportes
de pacientes com enfermidades para tratamento nas cidades próximas. Com o
crescimento da cidade sua contribuição também foi crescendo na implantação de
algumas Secretarias, entre outras, Saúde, Obras, Finanças, Ação Social, Educação,
Administração e Meio Ambiente.
Tem trabalhado ativamente nas gestões de
todos os Prefeitos eleitos, a partir de primeiro de janeiro de 1997, a saber:
JOSÉ LUCIANO NOVAIS – 01/1997 a 12/2000; ASCIR LEITE DOS SANTOS – duas gestões:
01/2001 a 12/2008; DAVID RIBEIRO PRIMO – duas gestões: 01/2009 a 12/2016; ASCIR
LEITE DOS SANTOS – 01/2017 a 12/2020. Em todas as legislaturas dos prefeitos
citados, esteve presente na vida política do Município de Ipupiara, sempre em
defesa dos mais carentes e necessitados e pelo progresso da coletividade. Jamais
deixou um assunto pendente e os pedidos são muitos: conseguir um medicamento,
um carro para transportar um doente, fechar um buraco ou uma barroca aberta
pela água da chuva, resgatar um animal na zona rural, entre outros
pedidos.
Atuou em várias secretarias e ainda hoje
continua trabalhando como Coordenador da Guarda da Prefeitura de Ipupiara, na
administração do prefeito Ascir Leite dos Santos. No auge dos seus 81 (oitenta
e um) anos sai todas as madrugadas circulando pela cidade de Ipupiara,
fiscalizando os trabalhos dos guardas, garantindo a segurança do povo – sua
grande família. CELINA SILVA SANTOS, sua esposa e companheira, faleceu no dia
25/12/2019 na cidade de São Paulo, onde se encontrava em tratamento médico. Em
2013 Francisco submeteu-se a uma intervenção cirúrgica e desde então morando em
Ipupiara, viaja a cada 3 (três) meses para uma revisão médica obrigatória no
Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo. No entanto, segue sua
rotina de cidadão prestativo, humano, personalidade forte, voz marcante e
defensor intransigente de sua terra natal, embora carregando imensa dor pela
perda irreparável do seu grande amor – Celina.
FRANCISCO MARTINS DOS SANTOS – torcedor
apaixonado pelo Corinthians, suas lutas, seu trabalho, seu exemplo de vida, sua
dedicação, sua garra em tudo o que faz, merece um livro – por que não?
Afinal, não é qualquer um que comemora
86 anos (2025).
Agradecimentos: Adão
Rodrigues Filho (genro), Sirlene Santos Rodrigues (filha) pelas informações
prestadas, sem as quais seria impossível escrever este texto e que me deixou
felicíssimo.
(FOCALIZADO EM MEU LIVRO "CAMINHOS
DO JORDÃO DA BAHIA", PÁGINAS 27/33)

Excelente Blog querido Filemon, parabéns; descreveu a trajetória do meu herói, o amor da minha vida, meu pai Francisco Martins, que é apaixonado pela cidade onde nasceu, apaixonado pelo povo da roça; Meu pai meu orgulho, que Deus colocou em minha vida e de todos da família, e amigos!
ResponderExcluirObrigado, primo. Além de ser meu parente, sou admirador do seu pai, que construiu uma família sólida e vitoriosa. Um exemplo de cidadão. Forte abraço,
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