sexta-feira, 12 de setembro de 2025

FILOSOFIA ROTÁRIA - MÁRIO RIBEIRO MARTINS

 





FILOSOFIA ROTÁRIA.
Mário Ribeiro Martins*




Escrevo com aquele gosto cinza de quem chegou atrasado, paralisado na massa revolta dos idealistas ingênuos. Lembro-me daquele que ingressou no mundo rotário equipado com o entusiasmo dos iniciados sinceros, queimando-se nos naturais ardores de cristão novo.
E para sua sorte, encontrou cristãos velhos, trabalhados na experiência e por isso mesmo, alérgicos à beatice e aos fanatismos.
A filosofia rotária é experiência humana. E, como experiência humana, somente ganha dimensão se há militância e vivência.
A existência em si é incompleta. Toda existência apenas vale quando projetada como coexistência. Todo viver, já disse alguém, unicamente significa como conviver. Viver e existir são verbos humanamente transitivos, verbos que ajudam o transito da sociedade, a passagem, a transferência de nossa humanidade para outros.
Filosofia rotária é uma oportunidade magnifica para se revelar e transferir humanidade. Mas também pode ser uma não menos magnifica oportunidade para se comunicar desumanidade, isto porque o bem e o mal utilizam os mesmos canais.
E quando o mal se canaliza não há defesa ativa, porém apenas defesa passiva. Utilizam-se vacinas, entra-se em férias psicológicas ou licença - premio espiritual e espera-se que a dinâmica maléfica se esgote. Mas esse mal tem um valor extraordinário: ele vai testar a capacidade de compreensão, virtude básica da filosofia rotária. Sem compreensão não há companheirismo e dissolve-se a solidariedade.
Poucos conhecem o significado histórico e filosófico da comunidade de mesa. A filosofia rotária, acima de tudo, apresenta-se na condição de comunhão em torno de uma mesa. Não para agregar-se mecanicamente no espaço de uma hora, entre o expediente matutino e o vespertino, enquanto se almoça. Precisa-se não esquecer da refeição da alma, a mais difícil de todas, porque o cardápio é infinito e os temperos variados.
Sem a compreensão não se pode servir. Mas é preciso cuidado para que esse servir não se transforme em “servir-se”, pois há quem não sirva à filosofia rotária, porém se sirva da filosofia rotária para a sua vaidade pessoal, o que, evidentemente, não traduz o verdadeiro companheirismo rotariano. (Texto publicado no livro ESCRITORES DO BRASIL. Rio de Janeiro, Arte Moderna, 1979, II volume, p. 350).



MÁRIO RIBEIRO MARTINS - ERA PROCURADOR DE JUSTIÇA E ESCRITOR.

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