PASSOS DA CRUZ II
Fernando Pessoa
Há um poeta em mim que Deus me disse...
A primavera esquece nos barrancos
As grinaldas que trouxe dos arrancos
Da sua efêmera e espectral ledice.
Pelo prado orvalhado a meninice
Faz soar a alegria os seus tamancos...
Pobre de anseios teu ficar nos bancos
Olhando a hora como quem sorrisse.
Floria do dia a capitéis de Luz...
Violinos do silêncio enternecidos...
Tédio onde o só ter tédio nos seduz...
Minha alma beija o quadro que pintou...
Sento-me ao pé dos séculos perdidos
E cismo seu perfil de inércia e vôo...
(GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA, PÁGINA
152)
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