O VÍRUS POLÍTICO
Filemon Martins
Viver no Brasil está ficando cada dia mais difícil. Antes, a expectativa era
grande, porque o povo acreditou que pudesse mudar o país com a eleição de Jair
Messias Bolsonaro, que acabou frustrando boa parcela da população que o elegeu,
em razão de suas atitudes conflitantes no comando do país.
Em 2020/2021 fomos atingidos por uma pandemia devastadora que
escancarou a falta de investimentos na saúde e educação pelos governos
anteriores e atuais em todos os estados da federação. A covid-19 veio assombrar
a população e os políticos já preocupados com as futuras eleições,
transformaram o Coronavírus em palanque político com interesses pessoais e
mesquinhos. Um mau gosto, por sinal.
A instabilidade do governo federal, representado na pessoa do
Presidente deixou o país ainda mais fragilizado para enfrentar a pandemia. A
troca de ministros em um governo é coisa natural, mas os motivos que deram
origem a essas trocas, estes sim, são preocupantes. Em pouco mais de dois anos
na presidência Jair Messias Bolsonaro já havia trocado 24 ministros.
Com a saída do ex-juiz federal Sérgio Moro do Ministério da Justiça
e Segurança Pública do Brasil e a forma como saiu, liquidou nossa esperança de
combate à corrupção de maneira efetiva. Os sinais já estavam bem claros: o
governo abraçou o bloco do Centrão, que reúne partidos como PP, PL, PTB, MDB,
DEM, PSD, entre outros, com pessoas já conhecidas, carimbadas e sem moral.
Alguns já cumpriram pena por corrupção, lavagem de dinheiro e agora estão
querendo ditar regras, como se fossem pessoas honestas, decentes, acolhidas,
quem diria, pelo governo.
Alguns brasileiros, por ingenuidade ou boa-fé, ainda acreditam que
o governo venha a fazer algo positivo, mas outros já admitem que o governo
entrou num terreno de areia movediça, quanto mais ele se mexe, mais se afunda.
Há muito tempo demos um adeus ao combate à corrupção. Vamos aguardar daqui para
frente como vai se comportar essa política de conflitos entre o Presidente, os
partidos e os governadores. A situação lembrou muito a cena de um inseto quando
cai na teia de uma aranha, quanto mais ele se debate, mais é enrolado. “O que é
bom a gente mostra, e o que é ruim a gente esconde,” já dizia o ex-ministro
Ricúpero.
Saiu Bolsonaro e entrou mais uma vez, Lula que fora condenado por
um juiz Federal e um colegiado de desembargadores do TRF-4 e foi descondenado por
um ministro, sabidamente petista. Agora, gaba-se o governo de estar reconstruindo
o Brasil e ter eliminado privilégios e outras regalias. Ledo engano. Os
salários astronômicos, viagens internacionais e privilégios de toda sorte estão
justamente com políticos, membros do Congresso Nacional e do STF, que se agitam
dentro de suas repartições para massacrar ainda mais os trabalhadores. Só
cinismo. Não há palavra mais apropriada para descrever o que os partidos
políticos são capazes. Fora, dizem estar ao lado do trabalhador, mas são testas
de ferro do capital internacional e trabalham em prol dos seus próprios
interesses. Quanto cinismo! Enquanto isso, o desemprego cresce e a economia
despenca nesse país chamado Brasil.
Aqui em São Paulo, um dos termômetros populares na aferição da
economia é o transporte público. Quem utiliza ônibus, trem e metrô sabe do que
estou falando. Há um exército de desempregados nas ruas e nesses transportes
muitos sobrevivem vendendo bugigangas, balas, chocolates para conseguirem algum
trocado; outros tocam e cantam em troca de algum dinheiro, enquanto outros
pedem ajuda aos passageiros, porque precisam ou porque a fiscalização recolheu
sua mercadoria. São situações chocantes que todos os dias se repetem: o
ambulante tentando vender e a fiscalização coibindo esse comércio ilegal, mas
que é a sobrevivência de muitas pessoas.
Com certeza os políticos que vivem em seus gabinetes atapetados não
têm a menor noção do que ocorre com a população mais desvalida. Eles, além de
receberem salários astronômicos, têm tudo pago pelo contribuinte: café, comida,
celulares, jornais, carros, motoristas, combustíveis, passagens a qualquer hora
e para qualquer lugar do Brasil e do mundo. Haja impostos para bancar tanta
mordomia.
Até quando vamos sobreviver, Brasil?

Nenhum comentário:
Postar um comentário