segunda-feira, 27 de maio de 2024

O MORCEGO - AUGUSTO DOS ANJOS

 




O MORCEGO

AUGUSTO DOS ANJOS


Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.

Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:

Na bruta ardência orgânica da sede,

Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.


“Vou mandar levantar outra parede...”

-- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho

E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,

Circularmente sobre a minha rede!


Pego de um pau. Esforços faço. Chego

A tocá-lo. Minh’alma se concentra.

Que ventre produziu tão feio parto?!


A Consciência Humana é este morcego!

Por mais que a gente faça, à noite ele entra

Imperceptivelmente em nosso quarto!


Nenhum comentário:

Postar um comentário