sexta-feira, 29 de março de 2024

O PESO DA CRUZ - GIÓIA JÚNIOR

 



O PESO DA CRUZ

Gióia Júnior

 

Oitenta quilos pesava, 

setenta e cinco ou oitenta, 

a cruz que Ele carregava 

na longa estrada poeirenta.

 

Andava um pouco, parava, 

agora já não aguenta, 

sangravam as mãos, sangrava 

todo o corpo que a sustenta.

 

Caiu três vezes, pesando 

sobre os seus ombros a cruz, 

e os soldados o açoitando... 

ai que peso Ele conduz!...

 

Exausto, ferido, exangue, 

cabelos em desalinho, 

escreve um poema de sangue; 

no duro lenho de pinho...

 

O látego é duro e rude; 

caiu... de novo se ergueu... 

já não há mais quem o ajude, 

já não vive Cireneu...

 

Levanta... tomba de novo 

sujo de pó, machucado 

sob os deboches do povo 

e o sadismo do soldado...

 

Seu olhar quase se apaga, 

não há gemido nem rogo, 

arde o corpo como chaga

— vermelha chaga de fogo...

 

Tem quatro metros de altura, 

os braços dois metros têm. 

Como o madeiro tortura 

o menino de Belém!...

 

Já não há palmas e festa 

na mensagem dos caminhos 

— e a coroa rasga a testa 

com punhaladas de espinhos.

 

Mas o peso mais pesado 

que o carpinteiro conduz 

não é do pinho entalhado 

na forma infame de cruz.

 

Nem é o chicote ousado 

que cicatrizes produz. 

O que pesa é o meu pecado 

sobre os ombros de Jesus!!!

 

Sexta-feira Santa, 13 de abril de 1979


(ORAÇÕES DO COTIDIANO, VERSÃO DIGITAL ENVIADA PELO AMIGO SAMMIS REACHERS)

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