O PESO DA CRUZ
Gióia Júnior
Oitenta quilos pesava,
setenta e cinco ou oitenta,
a cruz que Ele carregava
na longa estrada poeirenta.
Andava um pouco, parava,
agora já não aguenta,
sangravam as mãos, sangrava
todo o corpo que a sustenta.
Caiu três vezes, pesando
sobre os seus ombros a cruz,
e os soldados o açoitando...
ai que peso Ele conduz!...
Exausto, ferido, exangue,
cabelos em desalinho,
escreve um poema de sangue;
no duro lenho de pinho...
O látego é duro e rude;
caiu... de novo se ergueu...
já não há mais quem o ajude,
já não vive Cireneu...
Levanta... tomba de novo
sujo de pó, machucado
sob os deboches do povo
e o sadismo do soldado...
Seu olhar quase se apaga,
não há gemido nem rogo,
arde o corpo como chaga
— vermelha chaga de fogo...
Tem quatro metros de altura,
os braços dois metros têm.
Como o madeiro tortura
o menino de Belém!...
Já não há palmas e festa
na mensagem dos caminhos
— e a coroa rasga a testa
com punhaladas de espinhos.
Mas o peso mais pesado
que o carpinteiro conduz
não é do pinho entalhado
na forma infame de cruz.
Nem é o chicote ousado
que cicatrizes produz.
O que pesa é o meu pecado
sobre os ombros de Jesus!!!
Sexta-feira Santa, 13 de abril de 1979
(ORAÇÕES DO COTIDIANO, VERSÃO DIGITAL ENVIADA PELO AMIGO SAMMIS REACHERS)
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