"QUE FAREI DE JESUS, CHAMADO CRISTO?"
(FRAGMENTOS)
José Britto Barros
Do Mestre o julgamento, a palmos, prosseguia,
a final decisão, urgente, prescrevia
que ao tribunal romano o Cristo fosse entregue,
e a grande multidão em gritos pra lá segue.
O dia já surgira, em sombras envolvido,
quando o Mestre e Senhor pra ali foi conduzido.
Acusaram depressa o Senhor divinal;
"Este que hoje tu vês procede muito mal,
proíbe que o tributo a Cesar entreguemos,
e até diz ser um rei, por isso to trouxemos."
Jesus, sem reagir, ouvia calmamente
aquela acusação de tão nefasta gente.
Pilatos, presidindo aquele julgamento,
começa a interrogar Jesus nesse momento:
- "Tu és rei dos judeus?" O Cristo sem demora
apenas declarou: "Tu o dizes agora!"
E em peso a multidão, tremenda, o condenava,
Mas Jesus cousa alguma ao menos replicava!
À mesa, o presidente, estranhava demais,
pois réu daquele tipo encontrara jamais.
No silêncio do Mestre a inocência descobre,
e vê no bom Jesus um caráter mui nobre.
Num rasgo de justiça, ele ao povo declara:
"Não vejo neste réu cousa alguma ignara,
não acho crime algum que deva ser punido,
mas penso que ele deve é ser absolvido."
O povo perturbou-se em ouvi-lo falar
e ao Mestre mais e mais se pôs a condenar!
Pilatos se agitou e mostra-se turbado,
pois, deveras, com Cristo está maravilhado.
Lembrou-se, de repente, o costume usual
de um preso libertar na festa pascoal.
Jazia na cadeia um grande criminoso
chamado Barrabás, era muito famoso...
Querendo o presidente a Cristo libertar
ao povo perguntou: " A quem hei de soltar,
Jesus ou Barrabás? Escolhei sabiamente"...
Mas o povo, a gritar, repetia fremente:
"Nos solta Barrabás e condena Jesus,
queremos vê-lo já nos braços de uma cruz!"
Pilatos bem sabia haver subornação,
e mais forte sentia a sua agitação.
aquele ajuntamento, em fúria pertinaz,
gritava mais e mais: "Sim, solta Barrabás!"
Saindo o presidente, enérgico, inquiria
ao povo que tal cousa em gritos exigia:
"Que farei de Jesus, o que Cristo é chamado?"
o povo replicou: "Será crucificado!"
"Que fez ele?" pergunta o juiz novamente;
mas, lá da multidão vinha um grito somente:
"Que seja, sem demora, o Cristo condenado,
não podes o soltar, será crucificado!"
Pedindo uma bacia ele fala sem custo:
"Inocente eu me sei do sangue deste justo."
E suas mãos lavou bem. O povo, numa voz,
"O seu sangue", gritou, "recaia sobre nós!"
Foi solto Barrabás, Jesus, sendo açoitado,
aos homens foi entregue, a ser crucificado!
Terminara afinal aquele julgamento,
onde Cristo passara horrível sofrimento.
Memórias do meu Cristo! – o silêncio cabal
Daquele coração que nunca fez um mal!
Memórias do meu Cristo! – a famosa bacia
Que a culpa de Pilatos jamais extinguia!
Memórias do meu Cristo! – o sangue derramado
Sobre o povo judeu por si mesmo invocado!
Memórias do meu Cristo! – a dor que ele sofreu
De escolhido não ser pelo povo judeu!
Medita no sofrer que Jesus suportou
Quando, só por te amar, em nada reclamou.
Que farás de Jesus, o Cristo sublimado?
Por ti será querido ou sempre desprezado?
O sangue do Senhor em paz se cobrirá
E todo o teu pecar hediondo sarará.
Não demores demais, recorre ao bom Jesus
E certo viverás no seu reino de Luz!
Manaus, 17/6/1955
(LIVRO “MEMÓRIAS DO NAZARENO”, PÁGINAS 239/242)
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