sexta-feira, 20 de outubro de 2023

SONETO II - LUÍS DE CAMÕES

 SONETO II

Luís de Camões


Amor é um fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem dor;


É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É um não contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;


É um estar-se preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É um ter com quem nos mata lealdade.


Mas como causar pode o seu favor

nos corações humanos amizade,

se tão contrário a si é o mesmo Amor?


(LIVRO GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA, PÁGINA 32, EDIÇÃO DE 1987)




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