SONETO II
Luís de Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem dor;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode o seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
(LIVRO GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA, PÁGINA 32, EDIÇÃO DE 1987)
Nenhum comentário:
Postar um comentário