A CARTA INTERROMPIDA
COLOMBINA (1882/1963)
É preciso escrevê-la. O coração, cansado
de sofrer e chorar, adormeceu, - eu creio.
Se acordar não me deixa escrever, o coitado
não vê como é absurdo e inútil meu anseio.
Só do meu sangue escuto o grito revoltado
e no orgulho ferido o meu rancor esteio,
começando a escrever: “Está tudo acabado:
não me procures mais. Eu te detesto e odeio.”
No papel, ruído algum a pena faz. No entanto,
o coração acorda e, trêmulo de espanto,
imobiliza a mão que essa carta escrevia.
E freme e exulta e vibra em meu peito ferido,
e torna a soluçar... após ter conseguido
que ainda uma vez vencesse a sua covardia...
(O FANAL, agosto de 2002)
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