sábado, 29 de julho de 2023

CONTO DA VIDA

 

(FOTO DO MEU ACERVO)

CONTO DA VIDA
Filemon Martins


Gilberto estava casado há mais de sete anos. Muitos foram os seus romances na juventude. Mas poucos sabiam que o seu verdadeiro amor ficou perdido há treze anos. Miridan, era este seu nome, com dezessete anos, morava no bairro do Limão, em São Paulo. Ele, com vinte e três anos, numa pensão do Brás. No velho e nostálgico bairro do Brás. Trabalhava a semana inteira, mas no Sábado e Domingo, lá estava ele com sua amada. O tempo passou e não se sabe exatamente porque, eles não se casaram.
Gilberto ficou arrasado. Queria fugir da vida. Isolou-se completamente. Tentou esquecê-la. Não deu mais notícias, nem quis saber notícias dela. Tempos depois, ainda jovem, ele se casou. Morava na periferia de São Paulo. Naquele bairro, já havia comprado uma casa e levava uma vida relativamente boa. Trabalhava, é verdade, mas quem não trabalha hoje em dia? Só se estiver desempregado. Não era o caso do Gilberto.
Do seu casamento, nasceram dois filhos. Lindos. Eram o sol de sua vida. Aparentemente, não lhe faltava nada. Parecia feliz. Que mais ele queria? A esposa também trabalhava, dividindo a despesa, que ninguém é de ferro.
Quase sempre tomavam o trem até a estação do Brás. Numa certa manhã, entraram no trem, e a esposa se sentou; ele, porém, ficou em pé. Depois, a esposa lhe disse: há um lugar ali, sente-se. De imediato, obedeceu. Não observou que no banco já havia uma moça, com quem, mais tarde, começou a conversar. Ficou meio tonto. Aquela voz não lhe era estranha. Havia alguma coisa no ar. Olhou e pensou em silêncio: - não é possível, é ela, a Miridan. Estava ali, lado a lado, com sua paixão maior. Fora ela, há treze anos sua inspiração, sua razão de viver. Não queria acreditar. Seu coração batia cada vez mais forte. E começou a matutar: - nem o destino resistira a tanto amor. Era demais. Agora, ela estava ali, perto dele, também casada e com um filho. Cursava o último ano de Direito. Inteligente. Batalhadora. Mas não era feliz no casamento.
Passaram-se alguns dias e algumas noites e ele continuou pensando nela. E ela, pensando nele. Não era possível esperar mais. Marcaram encontro. Foi-se o primeiro, o segundo, o terceiro... Não havia como fugir. Era a força do amor, a emoção de sentir a vida. De viver outra vez. Tinha que partir. E assim o fez. Belo dia, largou tudo: mulher, filhos e partiu. Em busca de uma nova vida. De um novo e antigo amor. Definitivo, duradouro? Quem sabe?
Algum tempo depois foi visto numa outra cidade e pelo que se sabe, sua mulher e filhos nunca mais o viram, nem tiveram notícias dele. Sua esposa o esperou por mais de 6 ou 7 anos com a aliança no dedo. Aqui, nunca mais ele voltou. Desapareceu do mapa. Não se sabe se o Gilberto encontrou a tão sonhada felicidade e sequer se ficaram juntos ou se ainda vivem para confirmar esta história.


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