sexta-feira, 21 de novembro de 2025

PERSPECTIVAS ANTROPOLÓGICAS - MÁRIO RIBEIRO MARTINS

 





PERSPECTIVAS ANTROPOLÓGICAS.

Mário Ribeiro Martins*



A suprema floração da natureza é o homem. Uma transição completa ocorre na escala da natureza. Essa transição finaliza com os seres dotados do espírito, depois de passar pelos seres que são matéria pura até os seres materiais caracterizados pela vida e pelo instinto.
No escalonamento da natureza há três mundos:
1) O mundo inorgânico que é constituído de elementos materiais que possuem determinadas qualidades, como a forma, o peso, a força, o tamanho, a extensão etc.
2) O mundo orgânico animal que se distingue do mundo inorgânico porque possui vida e instinto.
3) O mundo orgânico animal que, dotado de vida e de razão, além do espirito, se distingue dos dois mundos anteriores. Este terceiro mundo é única e exclusivamente do homem, que não é pura vida, não é pura razão e não é puro espírito.
Na escala da natureza, portanto, o homem é formado de corpo e alma, em termos de dicotomia. De corpo, alma e espírito, em termos de tricotomia.
A partir daí há os valores materiais e espirituais que caracterizam o homem. Entre os valores espirituais, destacam-se: inteligência, bondade, solidariedade etc.
Intimamente relacionado com o homem está o espírito que é a sua energia pensante. Daí argumentar Aristóteles que “a alma é o principio da vida, do pensamento, enquanto considerada realidade”.
Em sua obra "PAIXÕES DA ALMA", afirma Descartes: “A alma é de uma natureza que não tem nenhuma relação com a extensão, nem com a dimensão ou outras propriedades da matéria de que o corpo é composto”.
A Antropologia Filosófica Espiritualista destaca a imortalidade da alma. Conforme ela, o espírito sobrevive à desintegração do corpo. A alma ou o espírito é a realidade pensante do individuo que é o seu Ego puro e profundo, distinto do próprio corpo.
Várias são as concepções filosóficas sobre o homem, destacando-se, no entanto, as seguintes:
1)PERSPECTIVA GREGA. Ao contrário do entendimento cristão que concebia o homem como criado à imagem e semelhança de Deus, os gregos entendiam os deuses à imagem e semelhança do homem. No sentido de fazer o homem superior aos deuses, era desenvolvido o processo educacional. O homem era considerado superior, desde que se caracterizasse pela coragem, pela agilidade, pela força e pelo poder. No entanto, o homem comum ou escravo não podia possuir essas características, porquanto não era filho dos deuses.
Sócrates, na tentativa de formular uma moral racional, dá também uma nova dimensão ao conceito de homem que deixa de ser a supremacia do pensamento. Não mais pela força seria o homem reconhecido, mas pela sabedoria, pelo conhecimento.
O NOUS ou o LOGOS (RAZÃO) e não ARETÉ (FORÇA) seria decisivo para o homem compreender a vida, o mundo e as coisas.
Antes, ele teria de dominar o mundo pela força (ARETÉ). Agora, ele pode dominar pela razão (LOGOS). Aliás, foi pela sabedoria que a Grécia conquistou o mundo. Antes era o SER FORÇA, agora era o SER RAZÃO.
Conforme a concepção grega, o homem era analisado na base das relações com os deuses. Enquanto Sócrates partiu da Ética, Platão partiu da Ideia e Aristóteles do Primeiro Motor. Assim, não havia uma vinculação umbilical entre o homem e o criador. A estrutura metafísica, portanto, em termos de perspectiva grega concebia o homem na base de uma visão geral do universo.
2) PERSPECTIVA CRISTÃ. Ao contrário do entendimento grego que concebia os deuses à imagem e semelhança do homem, os cristãos entendiam e, de fato, entendem o homem à imagem e semelhança de Deus. Tal como no sistema filosófico grego, a doutrina cristã analisa o homem na base de uma visão do universo, só que a essência humana tem a sua origem no Deus onipotente que criou não só o céu e a terra, mas também os seres racionais e irracionais.
Na concepção cristã, a relação do homem com o criador é intima. Há duas fases nesse relacionamento: Na primeira fase, o homem é apenas criatura de Deus e nesta posição estão todos os homens. Na segunda fase, o homem pode tornar-se filho de Deus e para alcançar esta posição há uma condição SINE QUA NON que é a aceitação do filho de Deus, conforme se lê nos Evangelhos: “A todos quantos o receberem deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus”.
A relação entre o homem e o criador é tal que este (Deus) assume a forma humana, donde a narrativa sagrada: “O Verbo se fez carne para habitar entre nós”.
No sistema dicótomo, o corpo e alma são duas substâncias que unidas resultam uma terceira substancia que é o homem. No sistema tricótomo, o corpo, a alma e o espírito são três substâncias que unidas formam uma quarta que é o homem. Na verdade, o homem está reduzido à alma e nesse caso não possui substância, mas a Substância.
Por isso, conforme a perspectiva cristã, a essência do homem, enfim, sua substancialidade, está na alma imortal. O laço que une o homem com Deus constitui a base de toda a antropologia.
O nome usualmente dado ao homem, no original hebraico, expressa perfeitamente este laço duplo: ADÃO é aquele que foi tirado da ADAMAH (terra), um ser frágil e efêmero. ADÃO, portanto, não é o nome de um homem, mas designa a espécie humana coletivamente. O entendimento cristão se fundamenta no Velho e Novo Testamento para ter a perfeita ideia do homem.
No Velho Testamento, por exemplo, o homem é uma criatura e esta afirmação é a base de todo o ensino acerca do homem. São elementos constitutivos do ser vivo, de acordo com a tradição Vetero-  Testamentaria: a carne, o espírito, o coração. A carne é chamada de PÓ, na linguagem mítica e poética. O espírito é uma realidade de ordem mais psicológica. O coração responde ao conceito de alma.
No Novo Testamento, no entanto, o homem é protagonista da História Sagrada. São elementos constitutivos do ser vivo, de acordo com a tradição Neo-Testamentaria: o corpo, a alma, a inteligência, a carne. O corpo é o organismo constituído. A alma é a vida humana individual do sujeito consciente. A inteligência é a manifestação mais interior da pessoa humana. A carne é a palavra para designar o homem natural, fraco, incapaz. (FILOSOFIA DA CIÊNCIA, Goiânia, Oriente, 1979, página 189).




MÁRIO RIBEIRO MARTINS -ERA PROCURADOR DE JUSTIÇA E ESCRITOR.

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