A DECISÃO DO CORONEL FACUNDO
O CORONELISMO, desde a sua criação, foi durante muitos anos subordinada à Guarda Nacional. Foi extinto pelo presidente Getúlio Vargas, após 1930, no início do período chamado República Nova. Na região da Chapada Diamantina, no Estado da Bahia, era grande o número pessoas importantes com a patente de coronel.
Queremos aqui apresentar um
coronel que não provocava nem participava de contendas. Era um coronel que
gostava da paz. Eis o seu nome: coronel Facundo José da Cruz Cunha, nascido em
1856. Era um fazendeiro próspero que tinha a sua fazenda na Salina, local bem
perto de Jordão (hoje o nome da cidade é Ipupiara).
A decisão tomada pelo coronel
foi importante e evolvente. Ele resolveu de forma pacífica e inteligente uma
contenda, evitando assim uma grande tragédia. A história me foi contada por seu
filho, o Sr. João da Cruz Cunha, que nasceu em 1917 e morou em Ipupiara até os
últimos dias de vida, tendo falecido em 23/01/2022. Aos 92 anos de idade João
da Cruz andava pedalando uma bicicleta pelas ruas de Ipupiara.
Vamos aos fatos. Em janeiro de 2015, no final de uma tarde eu
e mais três amigos estávamos conversando no armazém do Sr. Argileu, esposo da
Sra. Elzi. A nossa conversa girava sobre casos passados. Não demorou muito e
entrou o Sr. João da Cruz Cunha. A partir daquele momento passamos a ouvir as
palavras desse homem, filho do coronel Facundo.
Eis o que ouvimos:
Nas proximidades
da fazenda do meu pai, na Salina, existiam, como existem ainda hoje, dois
pequenos povoados denominados Silvério e Gregório. Ambos ficam distante de
Ipupiara (antigo Jordão)16 km. O Sr. Gregório, chefe do povoado com o nome
Gregório não mantinha boas relações com o Sr. Silvério, fazendeiro - chefe do
povoado Silvério. Eram rixas antigas. Certo dia o Sr. Gregório matou um bezerro
do rebanho do Sr. Silvério e enterrou o corpo do pequeno animal perto da sua
própria casa. Alegou que o bezerro estava entrando na sua roça. Todo dia a vaca
mãe do bezerro ia berrar na frente da casa do Sr. Gregório, como se estivesse
fazendo uma denúncia.
O fazendeiro
Silvério sentiu falta do bezerro e percebeu que foi o Gregório, seu inimigo,
quem deu sumiço no animal. Não gostou, achou que foi um desaforo e prometeu que
ia matar o Gregório na primeira oportunidade, quando esse passasse na 2a.
feira em frente da sua casa indo para a feira do Jordão (atual Ipupiara).
Municiou e armou a carabina (clavinote) com chumbo grosso, colocando-a numa
posição estratégica num canto da sala, com a intenção de matar o rival.
O meu pai (o
coronel Facundo) soube da intriga e da intenção do fazendeiro - chefe do povoado
Silvério. Então meu pai tomou as providências para evitar o mal maior. Deu
ordem ao seu empregado para colocar os arreios em dois cavalos quando o dia
começasse a clarear. O empregado fez exatamente como meu pai mandou e os dois
seguiram para o povoado Silvério. O coronel foi montado num bonito cavalo de
pelo branco e o cavalo do empregado tinha o pelo avermelhado. Chegaram lá antes
do nascer do sol.
Bom dia, compadre
Silvério.
Bom dia, coronel.
É um prazer ter você aqui bem cedo, pode descer e entrar. Vamos tomar café
(antigamente diziam: vamos quebrar o jejum).
O coronel e o empregado desceram da montaria e entraram. As trabalhadoras da cozinha trouxeram café com leite, mandioca cozida cuscuz, beiju, carne assada e outros alimentos. Estavam todos à mesa comendo e o coronel viu que a carabina estava no canto da sala.
A cada gole de
café com leite o coronel olhava para a arma e para o Sr. Silvério. Conversa
vai, conversa vem e o coronel foi direto ao assunto, dizendo: “compadre
Silvério, você não vai fazer o que está pensando¨. A paz, disse (o coronel), é
o melhor patrimônio. Você pode ir lá até a minha fazenda e pegar o melhor
bezerro para ficar no lugar daquele que o Gregório matou. Ele vai lhe pedir
desculpas. O Sr. Silvério era um homem sensato e aceitou a proposta.
Terminaram de
tomar o café e o coronel foi logo dizendo: agora vamos todos lá para a casa do
Gregório. Vamos tomar café com ele também. Certamente ele vai entender e
reconhecer o erro que cometeu. Ele vai lhe pedir desculpas. Assim desse modo
vamos manter a paz em nossa terra.
Foi exatamente o que aconteceu,
do jeito como o coronel planejou e combinou. A diplomacia utilizada pelo
coronel Facundo José da Cunha para resolver a questão foi uma estratégia e uma
decisão sábia. Ele conseguiu expulsar a discórdia e restabelecer a paz. Naquela
ocasião, se não fosse a intermediação do coronel Facundo, o desenrolar do caso
teria se complicado, causando a morte de muitas pessoas. Portanto a decisão do
coronel foi eficaz para promover a paz.
Para finalizar é importante
dizer que a Bíblia Sagrada orienta a todos no sentido de buscar a paz. E assim
está escrito no livro dos Salmos: “Aparta-te do mal e faze o bem; procura a paz
e segue-a (Salmo nº 34 e verso 14).
Saul Ribeiro dos Santos
Cont. e economista aposentado
Natural de Ipupiara – BA.
saul.ribeiro1945@gmail.com


Nenhum comentário:
Postar um comentário