domingo, 7 de setembro de 2025

A DECISÃO DO CORONEL FACUNDO - SAUL RIBEIRO DOS SANTOS

 

A DECISÃO DO CORONEL FACUNDO




  

O CORONELISMO, desde a sua criação, foi durante muitos anos subordinada à Guarda Nacional. Foi extinto pelo presidente Getúlio Vargas, após 1930, no início do período chamado República Nova. Na região da Chapada Diamantina, no Estado da Bahia, era grande o número pessoas importantes com a patente de coronel.

 

Queremos aqui apresentar um coronel que não provocava nem participava de contendas. Era um coronel que gostava da paz. Eis o seu nome: coronel Facundo José da Cruz Cunha, nascido em 1856. Era um fazendeiro próspero que tinha a sua fazenda na Salina, local bem perto de Jordão (hoje o nome da cidade é Ipupiara).

A decisão tomada pelo coronel foi importante e evolvente. Ele resolveu de forma pacífica e inteligente uma contenda, evitando assim uma grande tragédia. A história me foi contada por seu filho, o Sr. João da Cruz Cunha, que nasceu em 1917 e morou em Ipupiara até os últimos dias de vida, tendo falecido em 23/01/2022. Aos 92 anos de idade João da Cruz andava pedalando uma bicicleta pelas ruas de Ipupiara.

Vamos aos fatos.  Em janeiro de 2015, no final de uma tarde eu e mais três amigos estávamos conversando no armazém do Sr. Argileu, esposo da Sra. Elzi. A nossa conversa girava sobre casos passados. Não demorou muito e entrou o Sr. João da Cruz Cunha. A partir daquele momento passamos a ouvir as palavras desse homem, filho do coronel Facundo.  Eis o que ouvimos:

Nas proximidades da fazenda do meu pai, na Salina, existiam, como existem ainda hoje, dois pequenos povoados denominados Silvério e Gregório. Ambos ficam distante de Ipupiara (antigo Jordão)16 km. O Sr. Gregório, chefe do povoado com o nome Gregório não mantinha boas relações com o Sr. Silvério, fazendeiro - chefe do povoado Silvério. Eram rixas antigas. Certo dia o Sr. Gregório matou um bezerro do rebanho do Sr. Silvério e enterrou o corpo do pequeno animal perto da sua própria casa. Alegou que o bezerro estava entrando na sua roça. Todo dia a vaca mãe do bezerro ia berrar na frente da casa do Sr. Gregório, como se estivesse fazendo uma denúncia.

O fazendeiro Silvério sentiu falta do bezerro e percebeu que foi o Gregório, seu inimigo, quem deu sumiço no animal. Não gostou, achou que foi um desaforo e prometeu que ia matar o Gregório na primeira oportunidade, quando esse passasse na 2a. feira em frente da sua casa indo para a feira do Jordão (atual Ipupiara). Municiou e armou a carabina (clavinote) com chumbo grosso, colocando-a numa posição estratégica num canto da sala, com a intenção de matar o rival.

O meu pai (o coronel Facundo) soube da intriga e da intenção do fazendeiro - chefe do povoado Silvério. Então meu pai tomou as providências para evitar o mal maior. Deu ordem ao seu empregado para colocar os arreios em dois cavalos quando o dia começasse a clarear. O empregado fez exatamente como meu pai mandou e os dois seguiram para o povoado Silvério. O coronel foi montado num bonito cavalo de pelo branco e o cavalo do empregado tinha o pelo avermelhado. Chegaram lá antes do nascer do sol.

Bom dia, compadre Silvério.

Bom dia, coronel. É um prazer ter você aqui bem cedo, pode descer e entrar. Vamos tomar café (antigamente diziam: vamos quebrar o jejum).

O coronel e o empregado desceram da montaria e entraram. As trabalhadoras da cozinha trouxeram café com leite, mandioca cozida cuscuz, beiju, carne assada e outros alimentos. Estavam todos à mesa comendo e o coronel viu que a carabina estava no canto da sala.

A cada gole de café com leite o coronel olhava para a arma e para o Sr. Silvério. Conversa vai, conversa vem e o coronel foi direto ao assunto, dizendo: “compadre Silvério, você não vai fazer o que está pensando¨. A paz, disse (o coronel), é o melhor patrimônio. Você pode ir lá até a minha fazenda e pegar o melhor bezerro para ficar no lugar daquele que o Gregório matou. Ele vai lhe pedir desculpas. O Sr. Silvério era um homem sensato e aceitou a proposta.

Terminaram de tomar o café e o coronel foi logo dizendo: agora vamos todos lá para a casa do Gregório. Vamos tomar café com ele também. Certamente ele vai entender e reconhecer o erro que cometeu. Ele vai lhe pedir desculpas. Assim desse modo vamos manter a paz em nossa terra.

Foi exatamente o que aconteceu, do jeito como o coronel planejou e combinou. A diplomacia utilizada pelo coronel Facundo José da Cunha para resolver a questão foi uma estratégia e uma decisão sábia. Ele conseguiu expulsar a discórdia e restabelecer a paz. Naquela ocasião, se não fosse a intermediação do coronel Facundo, o desenrolar do caso teria se complicado, causando a morte de muitas pessoas. Portanto a decisão do coronel foi eficaz para promover a paz.

Para finalizar é importante dizer que a Bíblia Sagrada orienta a todos no sentido de buscar a paz. E assim está escrito no livro dos Salmos: “Aparta-te do mal e faze o bem; procura a paz e segue-a (Salmo nº 34 e verso 14).

 


Saul Ribeiro dos Santos

Cont. e economista aposentado

Natural de Ipupiara – BA.

saul.ribeiro1945@gmail.com

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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