SONETO DA DEPRESSÃO
Miguel Russowsky
Envelheço. Estou só. Colho as cinzas do outono.
Vou deixar ao morrer, uma herança nefasta
De assíduas negações. Nasci iconoclasta.
Tenho sombras no olhar e nelas me aprisiono.
Desandar... padecer... sucumbir... relaciono
Como regra a cumprir nesta vida madrasta.
Ela vem me avisar que meu corpo se arrasta
Para um torvo final de fraqueza e abandono.
Mal ou bem?... Tanto faz. Sou inerte à disputa
E não tomo partido. Em qualquer patamar
É a carga de gens que modula a conduta.
Ilusões?... Não as tenho. Eu não vim por prazer
Ao satélite azul do sistema solar:
(Pois ninguém perguntou se eu queria nascer).
(“CANTARES DE UM VULCÃO QUASE
EXTINTO”, PÁGINA 46)

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