O MUNDO PRECISA FILOSOFAR.
Mário Ribeiro Martins*
(REPRODUÇÃO PERMITIDA, DESDE QUE CITADOS ESTE AUTOR E O TÍTULO, ALÉM DA FONTE).
Embora o centro da gravidade dos interesses do homem esteja voltado, modernamente, para o campo da ciência e da tecnologia, a filosofia ainda exerce um atrativo ímpar e tem sua presença marcante. A filosofia tem um presente e terá um futuro, como teve um passado de vinte e cinco séculos. Não tivesse ela a sua grandeza e a sua significação já teria sido abandonada pelo homem, como vai acontecer com tudo aquilo que é inútil ou que se torna desnecessário.
Para o homem só tem valor aquilo que tem atualidade e é vivencial. A filosofia tem a sua atualidade inegável e indiscutível, porque sem ela, através dos grandes princípios diretores do pensamento, não existirá verdadeiramente cultura, senão mera acumulação de conhecimentos, incapaz de oferecer uma visão global do mundo, do homem e da vida. Uma síntese última e crítica de todos os conhecimentos especulativos e práticos só pode ser realizada pela filosofia.
O conteúdo polêmico que a filosofia apresenta não significa incerteza do conhecimento filosófico, mas tão somente o esforço constante do espírito humano à procura da verdade e da solução para questões seculares que o simples uso da razão não poderia elucidar.
A filosofia é matéria de reflexão. Não é matéria de conhecimento ao mesmo nível em que o é a matemática, a química e a física. Nas outras disciplinas há sempre algo a conhecer, na filosofia há sempre algo a refletir. Saber é ciência, então a filosofia não é saber. Poder é técnica, então filosofia não é poder. A filosofia é uma reflexão crítica sobre o saber e o poder.
O mundo precisa filosofar exatamente porque a reflexão filosófica permite a explicação do meio em que o homem vive, possibilita ao homem conhecer a si mesmo, conhecendo também as coisas que o cercam. A filosofia é sempre procura e nunca posse, por isso, do ponto de vista filosófico as perguntas são mais importantes do que as respostas e cada resposta se transforma numa nova pergunta.
Foi partindo dessa realidade filosófica que André Verguez disse: "Sócrates é o filósofo por excelência, precisamente porque nada ensinou, só nos fez refletir".
A explicação do mundo é tarefa da ciência e não da filosofia. Há, no entanto, problemas para os quais a ciência não tem explicação e nestes casos a filosofia pode falar. Seu dever é tornar as coisas mais refletidas e mais profundas, o que é uma das raras possibilidades da existência criadora. Neste mundo em que se vive caracterizado pelo tecnicismo, há a necessidade de um sistema de ideias e teses que ofereça ao homem uma visão total do mundo, apoiada na filosofia e na ciência, uma verdadeira metafísica, enfim a extrapolação de um campo técnico-ciêntífico para um campo filosófico ou seja a afirmação de tudo aquilo que não se pode dizer apoiado apenas na ciência.
O mundo precisa filosofar exatamente porque, embora a ciência conheça a matéria, nada ela diz sobre o seu valor. Se o homem quiser conhecer o valor da matéria, terá de apelar para a especulação filosófica. Inegavelmente a ciência possui a tarefa de oferecer os meios ao homem, a técnica tem a função de aplicar, mas cabe à filosofia julgar a validade ou não destes meios colocados ao alcance do espírito humano. (O POPULAR. Goiânia, 17.07.1977).
MÁRIO RIBEIRO MARTINS-ERA PROCURADOR DE JUSTIÇA E ESCRITOR.

Nenhum comentário:
Postar um comentário