MAHATMA GANDHI
Mário Ribeiro Martins*
(REPRODUÇÃO PERMITIDA, DESDE QUE CITADOS ESTE AUTOR E O TÍTULO, ALÉM DA FONTE).
Há em quase todos os lares hindus, três imagens: Shiva representa a destruição, Vishnu simboliza a conservação e Brahma retrata a criação. Essa é a trindade hindu existente há 25 séculos. Uma nova imagem colocada ao lado dessa trindade: a de Mahatma Gandhi, simbolizando a paz.
Conforme George Woodcock, Gandhi já era venerado, mesmo em vida, como um verdadeiro deus, por algumas tribos da Índia Central. Hoje é considerado como um pai da nação e a maior festa do ano é celebrada em 2 de outubro, dia natalício do herói legendário.
Os hindus estão acostumados a tratar com deuses, heróis e fantasmas gloriosos e, às vezes, não distinguem entre vivos e mortos, nessa unidade fabulosa entre o céu e a terra, entre o passado e o futuro, entre a abstração e a realidade.
Gandhi sempre foi uma abstração ativa e atuante, que continua tão poderosa como quando vivia. Seu mito tem crescido enormemente. É sabido que os grandes mitos, isolados e poderosos, têm conduzido a humanidade na história: Abraão, Moisés, Buda, Mohamed e tantos outros.
O último que merece ser citado nesse nível do sobre-humano é Mahatma Gandhi. Homem excepcional, mas de vida simples. Conheceu as debilidades humanas.
Quando jovem adaptou-se à vida inglesa, vivendo em Londres, onde ensaiou os passos de um burguês conformista. Compreendeu, no entanto, que Oriente e Ocidente representavam culturas distintas, com maneiras diferentes de entender a vida e a morte. Recolheu-se à sua própria cultura e não tardou a ser essa figura que milhões de hindus adoram hoje, depois de venerá-lo em vida.
Respeitam a Mahatma Gandhi não só os hindus, com a mente condicionada pelos livros sagrados, mas também os cristãos, anarquistas e ateus. Saindo decepcionado da Inglaterra, Gandhi foi ao Sul da África, onde levou a cabo, pelo exemplo moral e pregação, uma revolução vitoriosa sem fuzilamentos, guilhotinas, comitês clandestinos ou táticas maquiavélicas.
A única vítima violenta de sua doutrina foi ele mesmo, assassinado na rua por um dissidente. Transladado por um armon da artilharia e escoltado pela antiga guarda do governador inglês, numa procissão fúnebre acompanhada por milhares de soldados, Gandhi foi sepultado, venerado como deus da paz, enquanto seu assassino foi condenado pela lei britânica.
Demonstrou com feitos que a não violência pode converter-se na base filosófica da reconstrução da sociedade, de modo que os excessos de poder e de violência sejam eliminados. Enfrentou e venceu nos campos de batalha um império moderno, bem armado, sem outras armas que não as do exemplo moral e de suas convicções político-religiosas. Teria fracassado diante de inimigos brutais como Hitler e Stalin? Não o creio.
Atrás desses homens estavam as massas humanas com cérebros e corações acessíveis. Poderiam ter matado a Gandhi, porém Mahatma seria o que é: mártir de convicções virtuosas, um desses mitos que conduzem a sociedade na história. (DIARIO DE PERNAMBUCO. Recife, 26.08.1974).
MÁRIO RIBEIRO MARTINS - ERA PROCURADOR DE JUSTIÇA E ESCRITOR.
(LIVRO "MANIFESTO CONTRA O ÓBVIO E OUTROS ASSUNTOS", PÁGINAS 238/239)
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