ENÉAS ATHANÁZIO: UM SENHOR ESCRITOR
Filemon Martins
Hoje, 6 de abril de
2025 recebi, via informação do poeta Selmo Vasconcellos, a triste notícia do
falecimento do escritor Enéas Athanázio, ocorrido dia 4 de abril de 2025. Grande
mestre. Meu amigo escrito, como ele dizia. O Enéas iniciou sua atividade
literária em 1973, com a publicação de “O PEÃO NEGRO” e publicou mais de 60
livros. Eu o focalizei em meu livro “FAGULHAS”, páginas 71/74. Que ele siga na
luz rumo aos braços do Grande Pai.
O Dr. José Enéas César Athanázio nasceu em Campos Novos, Santa Catarina,
no dia 28 de março de 1935. Poeta, Contista, Cronista, Biógrafo, Crítico
literário, Pesquisador, Promotor de Justiça aposentado, autor de inúmeros
livros, entre os quais: “O PEÃO NEGRO”, “3 DIMENSÕES DE LOBATO”, “O AZUL DA
MONTANHA”, “GODOFREDO RANGEL – BIOGRAFIA”, “MEU CHÃO”, “TAPETE VERDE”, “FIGURAS
E LUGARES”, “A PÁTINA DO TEMPO”, “O AMIGO ESCRITO”, “SÃO ROQUE DA VENTANIA –
NOVELA,” “SILVIO MEIRA – Breves anotações sobre sua obra”, “A LIBERDADE FICA
LONGE”, ¨O REDUTO DE NHÔ NÁ¨, ¨A CONQUISTA – NOVELA E CRÔNICAS¨, ¨O PERTO E O
LONGE¨, ¨DINARTE DO ENTRE-RIOS & OUTROS VIVENTES¨ ¨O PÓ DA ESTRADA¨ e
tantos outros.
Li “São Roque da Ventania,” “Vida Confinada” “Sílvio Meira” e o
excelente “O Amigo Escrito”, ¨O Reduto de Nhô Ná¨, ¨A Conquista – Novela e
Crônicas¨, ¨O Perto e o Longe¨, ¨O Pó da Estrada¨, ¨Dinarte do Entre-rios –
Outros Viventes¨, entre outros, além de alguns artigos esparsos do escritor
Catarinense, que é colunista da revista ¨Blumenau em Cadernos¨ e do ¨Jornal
Página 3¨ (Balneário de Camboriú). Em “São Roque da Ventania” o autor pinta com
cores vivas a novela da própria vida, não uma novela televisiva, mas no sentido
real, narrando de forma magistral o linguajar, os hábitos e costumes usados nas
fazendas e no interior do Estado de Santa Catarina. Aliás, desde sua estreia,
em 1973, com o livro “O Peão Negro”, o escritor Enéas Athanázio, com seus
contos regionais, vem se destacando com brilhantismo no panorama das letras de
Santa Catarina e do Brasil. O escritor Benedicto Luz e Silva, certa ocasião,
escreveu: “Note-se que a segurança de Enéas Athanázio, ao manipular seu
material, manifesta-se claramente no equilíbrio que coloca em sua linguagem,
onde dosa, de modo conveniente, uma prosa clássica com a inclusão adequada de
expressões de uso regional.”
Ao todo são aproximadamente 50 livros e 14 opúsculos publicados até
agora.
O crítico literário Fernando Tokarski, do jornal “Transparência,” da
Universidade do Contestado, Canoinhas, afirma: ¨Em textos breves, o mais
importante escritor regionalista catarinense repete com “Fiapos de Vida” o
êxito de seus livros anteriores. Textos enxutos, caracterizados pela linguagem
rural, compõem esta obra de fácil e agradável leitura. São mais de quarenta
breves histórias retratando a vida campeira e os enlevos forenses.”
Em SONHO DE LIBERDADE, Enéas Athanázio escreveu: “Nos começos da
carreira, fui convidado a examinar uma causa em pequena cidade campeira, do
outro lado do Pelotas. Numa “rural” novinha em folha, meu cliente me conduziu
pelas curvas e serras da estrada poeirenta e, através de uma balsa de cabo,
tirada a muque pelo balseiro, subimos para o campo verde que se estendia a
perder de vista, onde o gado pastava em calma e alguma ema assustada corria
desajeitada, levantada as asas numa posição deselegante. Às vezes passávamos
por uma fazenda, tão erma e silenciosa que parecia deserta, mas logo ela ficava
para trás e voltávamos à mesmice do campo e aos reboleios da estradinha. O
veículo avançou e não tardamos a entrar pela rua principal, tão larga que
parecia um exagero, como se o remoto construtor tivesse errado nos cálculos,
planejando para outra cidade, muito maior e mais movimentada. Logo, porém,
começamos a encontrar alguns carros, carroças, cavaleiros, transeuntes.
Estacionamos diante do Fórum, antigo prédio de madeira, examinei o processo e
logo me inteirei das providências, acalmando meu cliente em seus temores.
Embora com muito atraso, almoçamos numa churrascaria. Como fosse tarde para o
retorno, rumamos para o único hotel da praça. Quando o avistei, mal pude
acreditar no que via e fiquei um tempão a admirá-lo de vários ângulos,
construído em local elevado e cercado de gramado muito verde, era um casarão de
madeira de lei com dois andares e mais um terceiro em formato de chalé...”
Competente e talentoso, o Dr. Enéas Athanázio vai construindo, aos
poucos, uma obra fabulosa e, sobretudo, fazendo justiça, como é o caso do livro
“O Amigo Escrito” em que o autor descreve um pouco da vida e obra do grande
escritor mineiro JOSE GODOFREDO DE MOURA RANGEL, autor de “VIDA OCIOSA” e
“FALANGE GLORIOSA”, entre outros, recordando, inclusive, suas andanças em São
Paulo, quando jovem e estudante de Direito quando foi nomeado e trabalhou como
Escrivão de uma subdelegacia no Posto Policial do Brás, mais precisamente na
Avenida Celso Garcia, tendo se transferido, posteriormente, para o novo Posto
Policial do Belenzinho e residido na Rua 21 de Abril, no nostálgico bairro do
Brás, onde “dormia, escrevia e lia incessantemente,” conforme Enéas Athanázio,
citando Edgard Cavalheiro “Monteiro Lobato – Vida e Obra.”
O livro é interessantíssimo e traz preciosas informações sobre o
escritor mineiro, aborda a correspondência com Monteiro Lobato, o trabalho
assoberbado do Juiz em conflito com o talento literário. Faz uma rápida análise
das obras de Godofredo Rangel, resgatando a memória do escritor.
O Dicionarista Mário Ribeiro Martins, no livro DICIONÁRIO
BIOBIBLIOGRÁFICO DO TOCANTINS, faz referência ao livro “FAZER O PIAUI-CRÔNICAS
DO MEU NORTE”, onde Enéas Athanázio no capítulo “Veredas do Tocantins” faz uma
análise criteriosa do livro de contos “VEREDÃO,” do escritor tocantinense Moura
Lima.
Atualizado, politizado e culto, o escritor catarinense foi um crítico
ferrenho do governo de Fernando Henrique Cardoso, bem assim dos governos
petistas. Hoje, não sei, mas pelo rumo que tomou o atual governo, creio que
Enéas Athanázio continua sendo um crítico “sem papas na língua”.
Seus trabalhos literários estão publicados em vários jornais, revistas e
antologias do Brasil e exterior, como, por exemplo: ANTOLOGIA DEL’SECCHI, de
Roberto de Castro Del’Secchi, NOSSA MENSAGEM, do saudoso Aparício Fernandes,
1977 – página 117, LITERATURA – Revista do Escritor Brasileiro, nº 10, páginas
32 a 34 - junho de 1996.
Presente no “DICIONÁRIO BIOBIBLIOGRÁFICO DO TOCANTINS”, página 842, do
sociólogo Mário Ribeiro Martins, Procurador de Justiça aposentado. É verbete da
ENCICLOPÉDIA DE LITERATURA BRASILEIRA, de Afrânio Coutinho, edição do MEC,
1990, com revisão de Graça Coutinho e Rita Moutinho, edição revista e
atualizada, em 2001.

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