quarta-feira, 9 de abril de 2025

POEMA PORTUGUÊS 6 - FERREIRA GULLAR

 



POEMA PORTUGUÊS 6

FERREIRA GULLAR



 

Calco sob os pés sórdidos o mito

que os céus segura – e sobre um caos me assento.

Piso a manhã tombada no cimento

como flor violentada. Anjo maldito,


(pretendi devassar o nascimento

da terrível magia) agora hesito,

e queimo - e tudo é o desmoronamento

do mistério que sofro e necessito.


Hesito, é certo, mas aguardo o assombro

com que verei descer de céus remotos

o raio que me fenderá no ombro.


Vinda a paz, rosa - após dos terremotos,

eu mesmo ajuntarei a estrela ou a pedra

que de mim reste sob os meus escombros.



(LIVRO GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA, PÁGINA 209)

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