terça-feira, 30 de abril de 2024

ALMANAQUE BAÚ DE TROVAS 2

                              (FOTO DO PRIMO GASPARINO, IPUPIARA, BAHIA)
 


ALMANAQUE BAÚ DE TROVAS 2 - ABRIL/2024


As rosas do amor, colhi-as,

rosas de vários matizes...

Tenho hoje nas mãos vazias

saudades e cicatrizes.

Anderson Braga Horta


Maria, só por maldade,

deixou-me a casa vazia:

dentro da casa, a Saudade

e na Saudade, Maria!

Anis Murad


O Pinheiro mais parece

lá no fundo do sertão

um colono em triste prece

pedindo a Deus proteção.

Anita Thomaz Folman


O dia em que não te vejo

é noite em meu coração;

e eu velo com o meu desejo

enquanto as horas se vão...

Antônio Francisco da C. e Silva


Mata a revolta em teu peito,

não a deixes florescer:

rio com pedras no leito

não pode alegre correr!...

Antônio Juraci Siqueira


Não te aflijas, inda que

o agora em dor se resuma.

O homem sensato entrevê

a luz na mais densa bruma.

Antônio Oliveira Pena


Meu amor, minha alegria,

perguntas o que é sofrer!

Sofrer é passar um dia

inteirinho sem te ver.

Antônio Ribeiro


Eis um médico fardado

- que perfeito matador! -

quem escapar do soldado,

não escapa do doutor...

Antônio Sales

TROVAS DE MÁRIO BARRETO FRANÇA

 



 

TROVAS DE MÁRIO BARRETO FRANÇA



Quem se esforça na escalada

da Política, na vida

- ou é vendido na entrada,

- ou é roubado à saída.



Ser feliz não é ser nobre,

não é ser rico também,

mas é saber, rico ou pobre,

conformar-se com o que tem.



Se queres vencer na vida,

não faças degraus de alguém;

a vitória merecida

tem alicerces no bem.



Você que sobe, cuidado!

Na queda, as honras se vão...

Quem vive muito elevado,

se esquece que existe o chão.



(SITE FALANDO DE TROVA)

 

CAPRICHO

 



CAPRICHO

Filemon Martins


                 

Quis o destino, caprichoso, um dia,

que eu sofresse, na terra, grande dor.

Conspiração dos astros da poesia

que me fizeram crer no teu amor.


Ingênuo, acreditei na fantasia

que me ofertou teu lábio sedutor,

e vi morrendo, aos poucos, a alegria

quando partias como o beija-flor.


Eras a estrela vésper do meu sonho

povoavas meu céu sempre risonho

em noites de fulgor e de luar...


Mas me deixaste assim, cama vazia,

sem ter ninguém na madrugada fria,

um condenado à morte por amar.

O MELHOR LIVRO DO MUNDO

 



 

O MELHOR LIVRO DO MUNDO

Jonathas Braga

 

 

Se alguém me perguntasse, porventura,

qual o melhor dos livros deste mundo,

eu lhe responderia num segundo

que é, sem nenhuma dúvida, a Escritura.

 

É nesse grande livro que a criatura

encontra a paz do coração jacundo

e, pela fé no amor de Deus profundo,

vence o pecado e alcança a vida pura.

 

Bendito livro, a Bíblia! Todo dia

tenho-o ao meu lado, cheio de alegria

porque livro melhor não há, enfim!

 

Sua mensagem me conforta e anima

e me transporta às plagas lá de cima,

onde há melhores coisas pra mim.

 

(Extraído da Revista a Bíblia no Brasil da Sociedade Bíblica 

do Brasil)


NÃO TEMAS


 


 

NÃO TEMAS

Jerry Filho

 

Quando o pesar surgir à tua porta

fazendo desabar os sonhos teus,

o próprio sofrimento te conforta

se a tua confiança está em Deus.

 

Mesmo que a tua estrada seja torta

e os anigos até digam adeus,

não temas! Nada nesta vida importa!

Deus Pai não abandona os filhos seus.

 

Se virem os pesares e a discórdia,

quando acoites cercarem teu viver,

tua esperança é Deus-Misericórdia!

 

Nesta vida repleta de sofrer

quando nem sempre alguém quer nos valer,

Deus Pai Onipotente traz concórdia!

 

(LIVRO "CENTELHAS DO ALÉM", PÁGINA 10)

(CLUBE DOS ESCRITORES PIRACICABA-SP)


MINHAS BARBAS

 


                              (FOTO DO PRIMO GASPARINO, IPUPIARA, BAHIA)

 

MINHAS BARBAS

Eno Teodoro Wanke

 

Minhas barbas, crescendo devagar,

me levam à ilusão de ser adulto.

Mas, felizmente para mim, o vulto

do poeta sobrevive, a me salvar...

 

E sou de novo o príncipe, a sonhar

com leves borralheiras, neste culto

ardente dos meus versos, onde exulto

em juventude haurindo luz solar...

 

Na minha nobre vida de engenheiro

cultivo com cuidado o meu canteiro

de música, expressada em voz maior,

 

e, graças à Poesia, continuo

a ser menino grande, e ainda atuo

e saboreio a vida ao meu redor!

 

(ANUÁRIO DE POETAS DO BRASIL, 1980 - 1ª VOLUME, 

PÁGINA 136)

 

(FOCALIZADO EM MEU LIVRO "FAGULHAS", PÁGINAS 

159/165)


VIAGENS II

 

          
(NA FOTO, APARECEM EU, MÁRIO, DEME, TOTINHA E FÁBIO)


 

 

VIAGENS II

Filemon Martins

 

Sempre visitei minha cidade natal, quando solteiro e depois de casado. Em companhia de minha esposa fomos algumas vezes visitar Ipupiara, na Bahia. Minha mãe, antes de nos deixar, deu-me de presente um terreno no perímetro urbano da cidade, na praça Eugênio de Araújo.

Consultei a esposa e entendi que minha mãe queria que eu construísse uma casa naquele pedaço de terra. Foi o que fiz. Aos poucos fui construindo a casa com a supervisão do primo Silas Barbosa Ribeiro. Morando e trabalhando em São Paulo, todo móvel que era trocado, seguia para a nova casa em Ipupiara. Assim, praticamente mobiliamos a casa. O que faltou compramos lá mesmo.

Dessa forma, quando viajávamos para lá podíamos ficar 15 dias ou um mês batendo pernas pela cidade e visitando parentes e amigos pelos arrabaldes. Certa vez, em companhia de dona Nilza, mãe do primo Silas, visitamos o tio Lula, Antonio Martins Ribeiro e tia Maria, depois fomos ver o tio Zuza, José Martins Santos e tia Loura, Presilina Rodrigues Machado. Casinha antiga, simples, mas sempre simpática. No meio da sala e bem no alto havia uma linha de madeira que se estendia de uma parede à outra. Curiosa, minha mulher perguntou para que servia aquela madeira no alto e no meio da sala. E o tio começou a explicar e emendou com uma história, dizendo: ¨aqui criamos cabras, galinhas, porcos, algum gado e alguns cachorros. Ocorre que há nas serras muitas cobras e onças que atacam nossos rebanhos e de quando em quando os cachorros acuam uma onça e nós, os moradores vamos caçá-la. Uma vez morta, trazemos para cá, onde tiramos o couro¨. E começou a mostrar alguns couros de onça, provando que a história era verídica. Quando partimos dali em direção à casa de outro parente, minha esposa saiu assustada olhando para todos os lados. Vai que aparece uma onça...

Agora, nossa visita era no Riacho Grande, ao casal Ariademe Martins (Deme) e Antonio Martins dos Santos (Totinha). Chegando lá, dona Nilza já saiu para a roça, anexa à casa para buscar ovos de galinha escondidos no meio do mato. Enquanto isso, eu e minha mulher ficamos ouvindo as histórias do primo Totinha. Contava ele que quando chegou por aquelas bandas e como criador de cabras, galinhas e gado, o prejuízo era enorme. As cobras, especialmente, as cascavéis que possuem um chocalho na cauda, habitavam a região pedregosa e com cercas de pedra, matavam muita criação. Ele, então, saía à caça dessas cobras e quando algum bezerro sumia, ele se punha atrás do animal sumido e quase sempre se deparava com as cobras. Disse ele que, cansado de andar, sentou-se numa pedra, retirou da capanga uma cabaça com água e começou a beber. Mas, olhando para o lado avistou uma cascavel enorme, enrolada e pronta para o bote. Ficou imóvel e foi pegando bem devagar sua espingarda. Segundo ele, um movimento brusco e ela ataca. Mas ele pulou com a espingarda já engatilhada e atirou. Tiro certeiro sem chance para a cobra. E, levantando-se entrou num depósito existente na casa e voltou exibindo alguns chocalhos. Nesse dia, almoçamos aí, descansamos um pouco e quando partimos de volta para casa, minha mulher não se cansou de observar o caminho com medo de que alguma cobra pudesse aparecer.

 

 

(LIVRO "CAMINHOS DO JORDÃO DA BAHIA”)

 

 


segunda-feira, 29 de abril de 2024

UM DIA NA PRAIA...

 


 (PRAIA DO CIBRATEL, ITANHAÉM, SP)

 

UM DIA NA PRAIA...
Filemon Martins

 
Manhã na praia
o ouro do sol ilumina a imensidão.
Os pescadores, no barco, saem para o alto mar.
Gaivotas fazem festa no ar,
uma brisa leve e fria passeia pelo céu.
Meu coração ouve a voz do mar sereno e lindo,
eternizando seus segredos,
avançando e quebrando nos rochedos.

Ninguém pode avaliar o que o indômito mar sente
e quer dizer. A tarde cai e a noite chega.
É céu, é mar, é água, é chuva, é tempestade,
é sol, é calor, é vento, é noite, é lua cheia, é maré alta.
O mar suspira e o meu coração acompanha.
Vestida de brisa a saudade chega
e a solidão também marca presença.
Ambas não arredam o pé.


PERDOA-NOS...

 



 

PERDOA-NOS...
Filemon Martins
                   
                                    
Perdoa-nos, Senhor,
porque entramos no Século Vinte e Um,
mas nada sabemos do Amor e da Bondade.
Perdoa-nos, Senhor,
pela prepotência dos homens,
pela frieza da informática, com seus números e códigos de barras.

Perdoa-nos, Senhor,
porque entramos no Século Vinte e Um
e continuamos a destruir a natureza.
Perdoa-nos, Senhor,
porque somos fracos e egoístas,
agressivos e intolerantes
para com o nosso próximo.

Perdoa-nos, Senhor,
porque entramos no Século Vinte e Um,
mas continuamos insensíveis
aos problemas  humanos.

Perdoa-nos, Senhor,
porque entramos no Século Vinte e Um,
mas a desigualdade continua,
a miséria cresce, o medo aumenta,
a corrupção se agiganta,
a guerra e a violência
se espalham pelo mundo.

Perdoa-nos, Senhor,
porque fomos à lua, hasteamos bandeiras,
mas não conseguimos saciar a fome
dos que habitam na Terra.

Perdoa-nos, Senhor,
porque temos um  País rico,
um povo humilde e bom,
trabalhador e honesto,
mas continuamos pobres.

Contudo, ensina-nos, Senhor,
no sofrimento, a buscar a fé,
a buscar o Amor, mesmo na guerra,
semeando a Paz e a Esperança
nos caminhos do Planeta Terra.

 

 


ANDO ASSIM

 


(PASSARELA DE ANCHIETA-ITANHAÉM-SP)


ANDO ASSIM

Adriana Skamvetsakis

 

Ando assim

Cabeça e corpo

Meio desencontrados

Não perdi o jeito

Nem deixou de se afetar meu peito

Somente estou assim

O que sou está no etéreo

O que me conduz está no eterno

Ando assim

Me reconectando ao mundano

Quando desejo o impalpável

o inenarrável

o que dispensa(ria) explicação...

 

Devo voltar

Sair de mim

E redefinir o chão

Onde estou a pisar...

 

Ando assim

Nesse descompasso

Alma e mente

Reaprendendo a dialogar...

 

(BROTA NA POESIA, com anuência da autora) 



TRISTEZA DA ALMA - MÁRIO BARRETO FRANÇA

 




TRISTEZA DA ALMA

Mário Barreto França

 

Tristeza da alma – um ideal desfeito,

Uma saudade amargurada,

Pungindo o coração silenciosamente.

 

Peito

Que se fez catedral abandonada

Onde, às vezes, somente,

Um alquebrado monge – o coração –

Na ternura da tarde evocativa,

Reza uma prece de recordação.

 

Tristeza da alma – íntima descrença

Do coração que pensa

No desprezo que a sorte lhe votou...

Desejo miserável que incentiva

A gente a se tornar sempre cativa

Da mágoa que o destino lhe ofertou...

 

(DE JOELHOS- 1966)

DOR DE POETA - VERSOS DA MOCIDADE

 


                        (FOTO ENVIADA PELO PRIMO GASPARINO, IPUPIARA, BAHIA)


 


DOR DE POETA - VERSOS DA MOCIDADE

Filemon Martins


Sinto uma dor profunda no meu peito

E amargurado está meu coração,

Meu sonho de verdade foi desfeito

E nunca mais eu tive outra ilusão.


Eu que sonhara tanto em minha vida

Conquistar esse amor só para mim,

Não encontrei aquela prometida

Para ancorar meu coração, enfim.


Sou como a juriti cantando triste,

A saudade traduzo em meu cantar,

Carrego ainda a mágoa que persiste

E me faz, neste mundo, suspirar.


Às vezes, penso em desistir da luta,

- Não seria melhor chegar ao fim?

Mas depois a minha alma resoluta

Prefere continuar vivendo assim.


E como Casimiro em seus cantares

Chorando apaixonado em Portugal,

Nestes versos eu choro os meus pesares,

Pesares desse amor monumental.


Em vão procuro paz a cada dia,

Um novo brilho para o meu olhar

E a tristeza eu transformo em alegria,

Mas o meu coração vive a chorar.


E me perguntam por que sou tão triste,

- “Será que nunca teve um grande amor?”

E eu disfarço, dizendo: - “nada existe,”

E o coração oculta a minha dor.