MUNICÍPIOS
DA CHAPADA DIAMANTINA
MUNICÍPIO DE BARRA DO MENDES (Parte I)
Saul
Ribeiro dos Santos
INTRODUÇÃO
Barra do Mendes é um importante Município do Estado da
Bahia. Está encravado na parte Norte da Chapada Diamantina. Seu território
se estende por uma área de 1.563,47 km² e a população em 2016 foi estimada em
14.570 habitantes. (1) A bandeira deste Município ostenta um preceito, onde
se lê “A Ordem é Crescer”. Conforme informativo/2017 da ALBA – Assembleia
Legislativa da Bahia, a distância entre Barra do Mendes e Salvador é de 520 km. Ao percorrer as terras deste
Município é possível encontrar umbuzeiros, juazeiros, jatobazeiro, pau d’arco,
bosques de juremas e outras árvores e arbustos. Na parte rural, a Oeste do
Município encontram-se muitas árvores que produzem frutos silvestres. A fauna
ainda apresenta, mesmo em pleno século XXI, várias espécies de tatús, teiús
(grande lagarto), muitas espécies de cobras, gaviões e muitas outras espécies
de animais.
Conta-se que no final da primeira
metade do século XIX chegaram a esta parte das Lavras Diamantinas algumas
famílias de pessoas aventureiras e corajosas, cujo chefe era o Sr. Phelipe
Mendes. Estavam dispostas a trabalhar e prosperar. Perceberam que o lugar era
muito bom e formaram uma fazenda, que deram o nome Barra. Este nome foi adotado
em função da localização da propriedade rural, pois estava situada nas terras
que margeiam a confluência de dois córregos. Anos mais tarde foi acrescentada a
palavra Mendes, indicando o nome do chefe da principal família do lugar,
proprietária da fazenda Barra. A partir daí deram ao local o nome “Barra
do Mendes”.
Mas há outra versão, narrada e
documentada pelo professor e escritor barramendense Edízio Mendonça, em seu
livro Barra do Mendes - Uma História de Lutas. O Conde da Ponte, Saldanha da
Gama e Melo Guedes de Brito e sua esposa eram os proprietários de uma grande
extensão de terras que se estendia dos limites de Jacobina até onde hoje está o
Município de Bom Jesus da Lapa. As terras foram registradas no Tabelionato em
Salvador, em dezembro de 1811. Foram eles os primeiros donos das terras que
hoje pertencem a Barra do Mendes. O capitão Phelipe Mendes de Vasconcelos, de
origem portuguesa, comprou as terras da fazenda Barra e registrou a escritura
no cartório de registros em Santo Antônio do Urubu (atual Paratinga), em 5 de
março de 1818. Assim percebe-se que o início da história do povoamento destas
terras começou entre 1811 e 1818. Anos mais tarde o capitão Phelipe Mendes, já
idoso, resolveu voltar para Portugal. No vilarejo de Pintada, distante 79 km. a
Oeste da Fazenda Barra, morava outro fazendeiro, o Sr. Matias Sodré, natural da
Província do Minho, em Portugal. O Capitão foi encontrar-se com seu patrício em
Pintada. Lá eles conversaram, negociaram e o Capitão vendeu as terras da sua
fazenda para o Sr. Matias.
Conforme conta o professor e escritor
Edízio, o pioneiro, o primeiro a chegar e construiu a sua casa nesta boa terra
foi o Sr. Joaquim Sodré, que era filho de Matias Sodré. Em 1848 ele chegou
trazendo um reduzido número de parentes, escravos e agregados. Ele construiu a
sua casa de residência, construiu casa para os agregados, para os escravos, um
curral, uma casa de farinha e um engenho. Quem colocou o nome Barra do Mendes
foi o Sr. Joaquim Sodré. Ele era natural do vilarejo Pintada, que naquele tempo
pertencia ao antigo Município de Macaúbas. Mais tarde, em 1878, com a
emancipação política, o vilarejo passou a pertencer ao Município de Brotas de
Macaúbas. Hoje Pintada pertence ao Município de Ipupiara.
Vizinhas a esta fazenda Barra do Mendes
foram surgindo outras propriedades rurais com as suas respectivas casas. Assim,
foi-se formando um pequeno arraial, que mostrou inclinação ou vocação para o
desenvolvimento.
O Município de Barra do Mendes possui
uma vasta área de terras férteis, de cor avermelhada, boa para o plantio de
pastos e cereais, principalmente milho, feijão e outras lavouras como algodão e
mamona. O grande problema para a agricultura local é a seca, com prolongada
escassez de chuvas. Nos últimos anos esse problema tem-se agravado, da mesma
forma como tem acontecido em todo o sertão. Em alguns anos as chuvas se
concentram com maior frequência e intensidade num mês, como aconteceu em
janeiro de 2016, quando houve excesso de chuvas, fazendo transbordar os
riachos, açudes e tanques. Naquele mês a enchente do Rio Guaribas (divisa entre
Barra do Mendes e Ipupiara) foi tão forte que arrastou uma ponte de concreto,
obrigando e levando as autoridades para o trabalho de abrir um desvio. Barra do
Mendes possui uma bela barragem com o nome Barragem Eujácio Simões, tendo em
uma das suas margens um impressionante lajeado natural.
É interessante observar que dentro do
território deste Município está situado o garimpo do Marrão, localizado à beira
da estrada que liga Barra do Mendes a Ipupiara (antigo Jordão). Entre os anos
de 1940 e 1950 este garimpo produziu muito cristal. Após a descida da Serra do
Marrão encontra-se o Vale das Guaribas.
No território do Município encontram-se
conjuntos de grutas, riachos e rios, destacando-se o Rio Vereda do Jacaré. Os
geógrafos não esquecem de mencionar o Rio Guaribas, que é um rio sinuoso e
atravessa várias vezes (em formato zigue-zague) a estrada que vai da cidade de
Barra do Mendes até cidade de Ipupiara. É um rio temporário por onde desce
muita água na temporada das chuvas. No passado, no período chuvoso, em dias de
muitas chuvas, os tropeiros com seus animais carregados cruzavam esse rio por
duas ou três passagens com pés enxutos. No cruzamento seguinte a água já
chegava na canela dos animais e atravessavam com certa dificuldade. Ao chegar
na quinta ou sexta passagem não era mais possível prosseguir nem voltar, pois o
nível da água já estava muito alto. Tinham que ficar acampados entre uma
passagem e outra (1 a 2 km. de distância), até a água baixar. O meu pai, Nizan
Ribeiro, era tropeiro entre 1946 a 1953. Ele contava que passou por essas
aventuras várias vezes.
Esta parte da Chapada Diamantina
apresenta histórias de lutas políticas, batalhas travadas entre os coronéis do
sertão. Durante muitos anos várias partes do Brasil foram dominadas pelo
sistema chamado de coronelismo. (2) Há registros em páginas impressas e na
memória dos mais idosos, passadas de pai para filhos, sobre as histórias das
lutas do Coronel Militão Rodrigues Coelho com seus homens contra o Coronel
Horácio Queiroz de Matos com seus comandados.
O Coronel Militão Coelho nasceu no
povoado de Umbaúba, que naquela época pertencia ao Município de Brotas de
Macaúbas. Hoje Umbaúba é um bairro localizado ao sul da cidade de Ipupiara
(antigo Jordão e anteriormente Fundão). Aos 18 anos de idade Militão Coelho
mudou-se para Barra do Mendes, onde fixou residência. (3) O Coronel Horácio
de Matos nasceu no povoado Capim Duro, que na época, também pertencia ao
Município de Brotas de Macaúbas. Horácio de Matos, mais novo de idade,
esteve em outros lugares e depois fixou residência em Lençóis. (3)
Publicações e registros históricos dão conta de que
aqui o povo desta terra enfrentou e combateu a Coluna Prestes quando estes
“revoltosos” (revolucionários) penetraram nas terras que hoje pertencem a este
Município. A viúva, Da. Maria Romana Farias é considerada heroína pelo fato de
enfrentar e dialogar com o comandante dos revoltosos que acamparam-se por dias
nesta parte da Chapada Diamantina.
Alguns revoltosos integrantes do
Destacamento Djalma Dutra, ao entrar no povoado, invadiram a casa de negócios
que pertencia a Da. Maria Romana. Ela, muito corajosa, foi pessoalmente ao
comandante e em diálogo solicitou que não maltratasse a população. Foi logo
atendida pelo comandante do 4° Destacamento. Conforme conta o Prof. e
Jornalista Renato Luis Bandeira, sobre esse episódio. Assim se expressou o
escriba da Coluna Prestes:
“O
gesto de Da. Maria Romana, permanecendo no povoado e intercedendo a favor de
seus habitantes, foi incontestavelmente de uma grande nobreza e coragem,
e nos cativou, por demonstrar que ela confiava no cavalheirismo das nossas
tropas, não se tendo deixado impressionar com as calúnias que o bernardismo
espalhava a nosso respeito” (4).
_______________
(1)
Relatório IBGE/Cidades/Bahia/Barra do Mendes. Acesso em 25/12/2017.
(3) Mário Ribeiro Martins, em seu livro Coronelismo no Antigo Fundão de Brotas, 5ª. edição, pág. 82. Edit. Kelps – 2010.
(4) Renato Luis Bandeira, em seu livro: A Coluna Prestes na Bahia – 90 anos, 3ª. edição. Editora Vozes Ltda.– Petrópolis, RJ.
SAUL RIBEIRO DOS SANTOS é casado com a Drª Agripina
Alves Ribeiro, com quem tem os filhos Raquel Ribeiro dos
Santos, Esther Ribeiro
dos Santos e Arão Wagner Ribeiro.
Autor do livro DECISÕES & DECISÕES, publicado em 2013 pela
Gráfica e Editora Clínica dos Livros, de Feira de Santana, Bahia.
Colaborador assíduo do Blog Literário do Filemon e trabalha
no projeto do livro CHAPADA DIAMANTINA, em elaboração.
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