segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

MUNICÍPIO DE BARRA DO MENDES - PARTE I

 



MUNICÍPIOS DA CHAPADA DIAMANTINA

MUNICÍPIO  DE  BARRA DO MENDES (Parte I)

Saul Ribeiro dos Santos

📧saul.ribeiro1945@gmail.com

 

INTRODUÇÃO

 

     Barra do Mendes é um importante Município do Estado da Bahia. Está encravado na parte Norte da Chapada Diamantina. Seu território se estende por uma área de 1.563,47 km² e a população em 2016 foi estimada em 14.570 habitantes. (1) A bandeira deste Município ostenta um preceito, onde se lê “A Ordem é Crescer”. Conforme informativo/2017 da ALBA – Assembleia Legislativa da Bahia, a distância entre Barra do Mendes e Salvador  é de 520 km. Ao percorrer as terras deste Município é possível encontrar umbuzeiros, juazeiros, jatobazeiro, pau d’arco, bosques de juremas e outras árvores e arbustos. Na parte rural, a Oeste do Município encontram-se muitas árvores que produzem frutos silvestres. A fauna ainda apresenta, mesmo em pleno século XXI, várias espécies de tatús, teiús (grande lagarto), muitas espécies de cobras, gaviões e muitas outras espécies de animais.

        Conta-se que no final da primeira metade do século XIX chegaram a esta parte das Lavras Diamantinas algumas famílias de pessoas aventureiras e corajosas, cujo chefe era o Sr. Phelipe Mendes. Estavam dispostas a trabalhar e prosperar. Perceberam que o lugar era muito bom e formaram uma fazenda, que deram o nome Barra. Este nome foi adotado em função da localização da propriedade rural, pois estava situada nas terras que margeiam a confluência de dois córregos. Anos mais tarde foi acrescentada a palavra Mendes, indicando o nome do chefe da principal família do lugar, proprietária da fazenda Barra. A partir daí deram ao local o nome “Barra do Mendes”. 

      Mas há outra versão, narrada e documentada pelo professor e escritor barramendense Edízio Mendonça, em seu livro Barra do Mendes - Uma História de Lutas. O Conde da Ponte, Saldanha da Gama e Melo Guedes de Brito e sua esposa eram os proprietários de uma grande extensão de terras que se estendia dos limites de Jacobina até onde hoje está o Município de Bom Jesus da Lapa. As terras foram registradas no Tabelionato em Salvador, em dezembro de 1811. Foram eles os primeiros donos das terras que hoje pertencem a Barra do Mendes. O capitão Phelipe Mendes de Vasconcelos, de origem portuguesa, comprou as terras da fazenda Barra e registrou a escritura no cartório de registros em Santo Antônio do Urubu (atual Paratinga), em 5 de março de 1818. Assim percebe-se que o início da história do povoamento destas terras começou entre 1811 e 1818. Anos mais tarde o capitão Phelipe Mendes, já idoso, resolveu voltar para Portugal. No vilarejo de Pintada, distante 79 km. a Oeste da Fazenda Barra, morava outro fazendeiro, o Sr. Matias Sodré, natural da Província do Minho, em Portugal. O Capitão foi encontrar-se com seu patrício em Pintada. Lá eles conversaram, negociaram e o Capitão vendeu as terras da sua fazenda para o Sr. Matias.

       Conforme conta o professor e escritor Edízio, o pioneiro, o primeiro a chegar e construiu a sua casa nesta boa terra foi o Sr. Joaquim Sodré, que era filho de Matias Sodré. Em 1848 ele chegou trazendo um reduzido número de parentes, escravos e agregados. Ele construiu a sua casa de residência, construiu casa para os agregados, para os escravos, um curral, uma casa de farinha e um engenho. Quem colocou o nome Barra do Mendes foi o Sr. Joaquim Sodré. Ele era natural do vilarejo Pintada, que naquele tempo pertencia ao antigo Município de Macaúbas. Mais tarde, em 1878, com a emancipação política, o vilarejo passou a pertencer ao Município de Brotas de Macaúbas. Hoje Pintada pertence ao Município de Ipupiara.

   Vizinhas a esta fazenda Barra do Mendes foram surgindo outras propriedades rurais com as suas respectivas casas. Assim, foi-se formando um pequeno arraial, que mostrou inclinação ou vocação para o desenvolvimento.

       O Município de Barra do Mendes possui uma vasta área de terras férteis, de cor avermelhada, boa para o plantio de pastos e cereais, principalmente milho, feijão e outras lavouras como algodão e mamona. O grande problema para a agricultura local é a seca, com prolongada escassez de chuvas. Nos últimos anos esse problema tem-se agravado, da mesma forma como tem acontecido em todo o sertão. Em alguns anos as chuvas se concentram com maior frequência e intensidade num mês, como aconteceu em janeiro de 2016, quando houve excesso de chuvas, fazendo transbordar os riachos, açudes e tanques. Naquele mês a enchente do Rio Guaribas (divisa entre Barra do Mendes e Ipupiara) foi tão forte que arrastou uma ponte de concreto, obrigando e levando as autoridades para o trabalho de abrir um desvio. Barra do Mendes possui uma bela barragem com o nome Barragem Eujácio Simões, tendo em uma das suas margens um impressionante lajeado natural.

      É interessante observar que dentro do território deste Município está situado o garimpo do Marrão, localizado à beira da estrada que liga Barra do Mendes a Ipupiara (antigo Jordão). Entre os anos de 1940 e 1950 este garimpo produziu muito cristal. Após a descida da Serra do Marrão encontra-se o Vale das Guaribas.

     No território do Município encontram-se conjuntos de grutas, riachos e rios, destacando-se o Rio Vereda do Jacaré. Os geógrafos não esquecem de mencionar o Rio Guaribas, que é um rio sinuoso e atravessa várias vezes (em formato zigue-zague) a estrada que vai da cidade de Barra do Mendes até cidade de Ipupiara. É um rio temporário por onde desce muita água na temporada das chuvas. No passado, no período chuvoso, em dias de muitas chuvas, os tropeiros com seus animais carregados cruzavam esse rio por duas ou três passagens com pés enxutos. No cruzamento seguinte a água já chegava na canela dos animais e atravessavam com certa dificuldade. Ao chegar na quinta ou sexta passagem não era mais possível prosseguir nem voltar, pois o nível da água já estava muito alto. Tinham que ficar acampados entre uma passagem e outra (1 a 2 km. de distância), até a água baixar. O meu pai, Nizan Ribeiro, era tropeiro entre 1946 a 1953. Ele contava que passou por essas aventuras várias vezes.

       Esta parte da Chapada Diamantina apresenta histórias de lutas políticas, batalhas travadas entre os coronéis do sertão. Durante muitos anos várias partes do Brasil foram dominadas pelo sistema chamado de coronelismo. (2) Há registros em páginas impressas e na memória dos mais idosos, passadas de pai para filhos, sobre as histórias das lutas do Coronel Militão Rodrigues Coelho com seus homens contra o Coronel Horácio Queiroz de Matos com seus comandados.

       O Coronel Militão Coelho nasceu no povoado de Umbaúba, que naquela época pertencia ao Município de Brotas de Macaúbas. Hoje Umbaúba é um bairro localizado ao sul da cidade de Ipupiara (antigo Jordão e anteriormente Fundão). Aos 18 anos de idade Militão Coelho mudou-se para Barra do Mendes, onde fixou residência. (3) O Coronel Horácio de Matos nasceu no povoado Capim Duro, que na época, também pertencia ao Município de Brotas de Macaúbas. Horácio de Matos, mais novo de idade, esteve em outros lugares e depois fixou residência em Lençóis. (3)

       Publicações e registros históricos dão conta de que aqui o povo desta terra enfrentou e combateu a Coluna Prestes quando estes “revoltosos” (revolucionários) penetraram nas terras que hoje pertencem a este Município. A viúva, Da. Maria Romana Farias é considerada heroína pelo fato de enfrentar e dialogar com o comandante dos revoltosos que acamparam-se por dias nesta parte da Chapada Diamantina.

      Alguns revoltosos integrantes do Destacamento Djalma Dutra, ao entrar no povoado, invadiram a casa de negócios que pertencia a Da. Maria Romana. Ela, muito corajosa, foi pessoalmente ao comandante e em diálogo solicitou que não maltratasse a população. Foi logo atendida pelo comandante do 4° Destacamento. Conforme conta o Prof. e Jornalista Renato Luis Bandeira, sobre esse episódio. Assim se expressou o escriba da Coluna Prestes:

“O gesto de Da. Maria Romana, permanecendo no povoado e intercedendo a favor de seus habitantes, foi incontestavelmente de uma grande nobreza e coragem, e nos cativou, por demonstrar que ela confiava no cavalheirismo das nossas tropas, não se tendo deixado impressionar com as calúnias que o bernardismo espalhava a nosso respeito” (4).

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    (1)  Relatório IBGE/Cidades/Bahia/Barra do Mendes. Acesso em 25/12/2017.

   (2)  O termo coronelismo refere-se aos coronéis do sertão, homens de grande influência na política regional brasileira. Os Coronéis foram assim chamados em função da patente concedida pela Guarda Nacional, criada em 1831. Eram, normalmente, fazendeiros de grande carisma, que tinham o dom da iniciativa, poder econômico, prestígio e grande notoriedade entre os habitantes da região. Ao receber a patente o Coronel recebia também a farda, a espada e as insígnias, que simbolizavam poderes, privilégios e responsabilidades legais. O coronelismo foi extinto após 1930, no governo do Presidente Getúlio Vargas. Enciclopédia Barsa, vol.  6, pág. 3 Encyclopaedia Britânica do Brasil Public. 1995, Rio de Janeiro - RJ.

                                                                                                                   

(3)   Mário Ribeiro Martins, em seu livro Coronelismo no Antigo Fundão de Brotas, 5ª. edição, pág. 82. Edit. Kelps – 2010.    


   (4)         Renato Luis Bandeira, em seu livro: A Coluna Prestes na Bahia – 90 anos, 3ª. edição. Editora Vozes Ltda.– Petrópolis, RJ.

 

 SOBRE O AUTOR

SAUL RIBEIRO DOS SANTOS é casado com a Drª Agripina 

Alves Ribeiro, com quem tem os filhos Raquel Ribeiro dos 

Santos, Esther Ribeiro dos Santos e Arão Wagner Ribeiro.

Autor do livro DECISÕES & DECISÕES, publicado em 2013 pela 

Gráfica e Editora Clínica dos Livros, de Feira de Santana, Bahia.

Colaborador assíduo do Blog Literário do Filemon e trabalha 

no projeto do livro CHAPADA DIAMANTINA, em elaboração.


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