sexta-feira, 20 de outubro de 2023

SONETO II - SÁ DE MIRANDA

 



SONETO II

Sá de Miranda


Em tormentos cruéis, tal sofrimento,

em tão contínua dor, que nunca ativa

chamar a morte sempre, e que ela, altiva,

se ria dos meus rogos, no tormento!


E ver no mal que todo entendimento

naturalmente foge, e quanto aviva

a dor mais o vagar da alma cativa,

a quem não fará crer que é tudo um vento?


Bem sei uns olhos, que tem toda a culpa,

e são os meus, que a toda parte vêm

após o que veem sempre e os desculpa.


Ó minhas visões altas, meu só bem,

quem vos a vós não vê, esse me culpa,

e eu sou o só que as vejo, outrem ninguém!


(LIVRO GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA, PÁGINA 25  - EDIÇÃO 1987)

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