SONETO (ANTES DO TEMPORAL)
Miguel Russowsky
Olhei para o papel sem pauta, de soslaio...
Roubei do céu cinzento uma nuvem suspensa...
(Uma só, para o céu, não fará diferença,
murmurei ao seguir compondo o meu ensaio.)
Mas o céu se zangou, fez explodir o raio
como espada de luz, brandindo uma sentença:
- "Toda cobiça é crime! (E o crime não compensa)"
E o trovão blasfemou com furor: - " Castigai-o!"
A caneta estancou. Tremi. Pela vidraça,
querendo provocar-me, o tempo, por pirraça,
parecia imitar Mefisto no apogeu.
" - Nunca mais vou roubar uma nuvem, prometo,
nem se for necessário usá-la num soneto!..."
Pronto. Tudo acalmou. Choveu... choveu... choveu...
Nenhum comentário:
Postar um comentário