segunda-feira, 30 de outubro de 2023

SONETO (ANTES DO TEMPORAL)

 



SONETO (ANTES DO TEMPORAL)

Miguel Russowsky


Olhei para o papel sem pauta, de soslaio...

Roubei do céu cinzento uma nuvem suspensa...

(Uma só, para o céu, não fará diferença,

murmurei ao seguir compondo o meu ensaio.)


Mas o céu se zangou, fez explodir o raio

como espada de luz, brandindo uma sentença:

- "Toda cobiça é crime! (E o crime não compensa)"

E o trovão blasfemou com furor: - " Castigai-o!"


A caneta estancou. Tremi. Pela vidraça,

querendo provocar-me, o tempo, por pirraça,

parecia imitar Mefisto no apogeu.


" - Nunca mais vou roubar uma nuvem, prometo,

nem se for necessário usá-la num soneto!..."

Pronto. Tudo acalmou. Choveu... choveu... choveu...


Nenhum comentário:

Postar um comentário