sexta-feira, 1 de setembro de 2023

TUDO E NADA


 

TUDO E NADA

Espínola de Mendonça (Açores)



Cantei o amor, o sol que acalentou

as ilusões da minha mocidade.

E não tive ambições nem a vaidade

de me julgar aquilo que não sou.


Cantar foi um prazer, uma ansiedade

de enaltecer o amor que nos juntou.

Mas veio a noite; e o sol que me encantou

escondeu-se nas sombras da saudade.


Alongo o olhar. A cerração é densa,

Não vejo nada. A voz ficou suspensa,

bem sei que para sempre me perdi.


Resta-me apenas o prazer profundo

de não ter sido nada para o mundo,

mas de ter sido tudo para ti.


(OS MAIS BELOS SONETOS QUE O AMOR INSPIROU, PÁGINA 223, VOLUME II, 1966 - J. G. DE ARAÚJO JORGE)

Nenhum comentário:

Postar um comentário