quinta-feira, 28 de setembro de 2023

NOSSA ALMA

 


NOSSA ALMA

 Adélia Prado


Querendo ou não, iremos todos envelhecer.

As pernas irão pesar, a coluna doer,

o colesterol aumentar.  A imagem no

espelho irá se alterar gradativamente e

perderemos estatura, lábios e cabelos.


A boa notícia é que a alma pode permanecer

com o humor dos dez, o viço dos vinte e

o erotismo dos trinta anos.  O segredo

não é reformar por fora. 

É, acima de tudo, renovar a mobília

interior: tirar o pó, dar brilho, trocar

o estofado, abrir as janelas, arejar

o ambiente.  Porque o tempo,

invariavelmente, irá corroer o exterior.

E, quando ocorrer, o alicerce precisa

estar forte para suportar.


Erótica é a alma que se diverte, que se

perdoa, que ri de si mesma e faz as

pazes com sua história.  Que usa a

espontaneidade para ser sensual, que

se despe de preconceitos, intolerâncias,

desafetos.


Erótica é a alma que aceita a passagem

do tempo com leveza e conserva o bom

humor apesar dos vincos em torno dos 

olhos e o código de barras acima

dos lábios.


Erótica é a alma que não esconde seus

defeitos, que não se culpa pela

passagem do tempo.


Erótica é a alma que aceita suas dores,

atravessa seu deserto e ama sem pudores.


Aprenda: bisturi algum vai dar conta do

buraco de uma alma negligenciada

anos a fio.


SOBRE A AUTORA:

Adélia Prado nasceu  em Divinópolis, Minas Gerais (1935). Filha de João do Prado Filho e de Ana Clotilde Correa. Fez seus primeiros estudos no Grupo Escolar Padre Matias Lobato. Escritora e poetisa brasileira. Escreveu seus primeiros versos aos 15 anos de idade, após a morte de sua mãe. 

Fez Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis.

Recebeu da Câmara Brasileira do Livro, o Prêmio Jabuti de Literatura, com o livro "Coração Disparado", escrito em 1978. Consagrou-se como a voz mais feminina da poesia brasileira

Sua estreia literária veio em 1975, quando remeteu os originais de seus poemas para o poeta e crítico literário Affonso Romano de Sant’Anna, que entregou a Carlos Drummond de Andrade para apreciação.

Impressionado com suas poesias, Drummond as enviou para a Editora Imago e no mesmo ano, os poemas de Adélia foram publicados no livro "Bagagem", lançado em 1976 no Rio de Janeiro com a presença de vários intelectuais, como Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Affonso Romano de Santana, Nélida Piñon, entre outros. 



 

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