NOSSA ALMA
Adélia Prado
Querendo ou não, iremos todos envelhecer.
As pernas irão pesar, a coluna doer,
o colesterol aumentar. A imagem no
espelho irá se alterar gradativamente e
perderemos estatura, lábios e cabelos.
A boa notícia é que a alma pode permanecer
com o humor dos dez, o viço dos vinte e
o erotismo dos trinta anos. O segredo
não é reformar por fora.
É, acima de tudo, renovar a mobília
interior: tirar o pó, dar brilho, trocar
o estofado, abrir as janelas, arejar
o ambiente. Porque o tempo,
invariavelmente, irá corroer o exterior.
E, quando ocorrer, o alicerce precisa
estar forte para suportar.
Erótica é a alma que se diverte, que se
perdoa, que ri de si mesma e faz as
pazes com sua história. Que usa a
espontaneidade para ser sensual, que
se despe de preconceitos, intolerâncias,
desafetos.
Erótica é a alma que aceita a passagem
do tempo com leveza e conserva o bom
humor apesar dos vincos em torno dos
olhos e o código de barras acima
dos lábios.
Erótica é a alma que não esconde seus
defeitos, que não se culpa pela
passagem do tempo.
Erótica é a alma que aceita suas dores,
atravessa seu deserto e ama sem pudores.
Aprenda: bisturi algum vai dar conta do
buraco de uma alma negligenciada
anos a fio.
SOBRE A AUTORA:
Adélia Prado nasceu em Divinópolis, Minas Gerais (1935). Filha de João do Prado Filho e de Ana Clotilde Correa. Fez seus primeiros estudos no Grupo Escolar Padre Matias Lobato. Escritora e poetisa brasileira. Escreveu seus primeiros versos aos 15 anos de idade, após a morte de sua mãe.
Fez Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis.
Recebeu da Câmara Brasileira do Livro, o Prêmio Jabuti de Literatura, com o livro "Coração Disparado", escrito em 1978. Consagrou-se como a voz mais feminina da poesia brasileira
Sua estreia literária veio em 1975, quando remeteu os originais de seus poemas para o poeta e crítico literário Affonso Romano de Sant’Anna, que entregou a Carlos Drummond de Andrade para apreciação.
Impressionado com suas poesias, Drummond as enviou para a Editora Imago e no mesmo ano, os poemas de Adélia foram publicados no livro "Bagagem", lançado em 1976 no Rio de Janeiro com a presença de vários intelectuais, como Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Affonso Romano de Santana, Nélida Piñon, entre outros.
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