segunda-feira, 4 de setembro de 2023

A UM POETA

 


A UM POETA

Guilherme de Almeida (1890 a 1969)


Poeta da rua, vais... E, à tua frente,

teus sonhos, tuas ilusões douradas

vão como as folhas mortas tristemente,

sobre o dorso veloz das enxurradas.


Quando sobe, redonda e transparente,

a lua subterrânea das baladas,

tua sombra te segue mudamente,

conspirando contigo nas calçadas...


Se, erguendo os braços, o teu vulto atira

um gesto à glória, na ânsia de alcançá-la,

teu corpo toma à forma de uma lira!


Se a glória desce e, bêbedo de luz,

abres os braços, na ânsia de abraçá-la,

teu corpo toma a forma de uma cruz!


(MEUS VERSOS MAIS QUERIDOS, PÁGINAS 35/36) 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário