A UM POETA
Guilherme de Almeida (1890 a 1969)
Poeta da rua, vais... E, à tua frente,
teus sonhos, tuas ilusões douradas
vão como as folhas mortas tristemente,
sobre o dorso veloz das enxurradas.
Quando sobe, redonda e transparente,
a lua subterrânea das baladas,
tua sombra te segue mudamente,
conspirando contigo nas calçadas...
Se, erguendo os braços, o teu vulto atira
um gesto à glória, na ânsia de alcançá-la,
teu corpo toma à forma de uma lira!
Se a glória desce e, bêbedo de luz,
abres os braços, na ânsia de abraçá-la,
teu corpo toma a forma de uma cruz!
(MEUS VERSOS MAIS QUERIDOS, PÁGINAS 35/36)

Nenhum comentário:
Postar um comentário