domingo, 20 de agosto de 2023

SONETO

 



SONETO

Guimarães Passos (Maceió, Al. 1867 - 1909, Paris/França)


À terra torna o que da terra veio;

A água que sai do vasto mar, um dia

Mais pura do que quando ao céu subia

Torna de novo ao primitivo seio.


Assim, todo o momento de alegria

Que feliz de ilusões eu via cheio;

As horas de ventura e de receio,

Tudo eu te entrego, como te pedia.


De ti, nem quero a pálida lembrança,

Viverei sem uma única esperança,

Sem o mínimo amor de uma mulher.


Mas no teu peito, que viveu mentindo,

Põe uma cruz – ao mundo prevenindo.

Que és o sepulcro do teu próprio ser.


(ALMANAQUE CHUVA DE VERSOS, 473, JOSÉ FELDMAN)



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