segunda-feira, 24 de julho de 2023

MUNICÍPIOS DA CHAPADA DIAMANTINA - ECONOMIA PARTE II

 


MUNICÍPIOS DA CHAPADA DIAMANTINA
ECONOMIA (Parte II)

Saul Ribeiro dos Santos
📧saul.ribeiro1945@gmail.com

A política brasileira no período de transição Império/República não foi fácil. Em 15/11/1890 foi aprovado o grupo do Congresso Constituinte, o qual tinha a função de elaborar a Constituição Federal. Rui Barbosa foi nomeado Ministro da Fazenda. O ilustre baiano, ao exercer função de Ministro da Fazenda, muito contribuiu para o desenvolvimento de uma política industrial consistente apoiada pela classe média. Ele adotou medidas fazendárias que facilitaram a criação de indústrias. Infelizmente não conseguiu evitar os especuladores.
Entre os interessados na industrialização não faltou especuladores. A especulação financeira levou muitas pessoas a perderem dinheiro e a emissão de papel-moeda gerou inflação. Rui Barbosa foi pressionado e renunciou ao cargo. No dia 24 de fevereiro de 1891 foi aprovada a Constituição da República do Brasil.
Em 1896, sete anos após o início do Regime Republicano, o governo federal teve que enfrentar a Guerra de Canudos, no interior da Bahia. A guerra começou em novembro de 1896 e terminou no dia 5 de outubro de 1897 após vários combates. Foi uma guerra causada pela extrema pobreza em que viviam os sertanejos. O sertão era uma região quase esquecida pelo governo central, que se preocupava com o Distrito Federal (DF) e com Estados vizinhos - o Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
A população daquela parte da Bahia (o sertão, no interior do Estado) reuniu-se em torno de um líder – Antônio Conselheiro – que acusava o governo por não ajudar os pobres e mesmo assim ainda cobrava altos impostos. Antônio Conselheiro era um líder religioso que incentivava a posse da terra. Ele chegou a reunir cerca de 5 mil homens fanáticos e dispostos a lutar. Foram travadas várias batalhas.
Naquele momento e naquela situação o governo federal sentiu que a República estava ameaçada. Mandou realizar a convocação de “voluntários” para a guerra e enviou grandes contingentes para os combates na Guerra de Canudos. O livro “Os Sertões” do engenheiro militar, jornalista e escritor Euclides da Cunha, conta com detalhes os fatos relativos à Guerra de Canudos. As forças do Governo Federal enfrentaram várias batalhas. Venceram a Guerra no final de 1897.
As forças do governo federal venceram, no entanto, quando entraram no arraial para prender os derrotados, não encontraram nada além de poucas crianças, algumas mulheres e pessoas idosas, todas famintas. Os sertanejos lutaram até o fim, até morrer. Os políticos daquele tempo, em todos níveis, perceberam as necessidades dos sertanejos, mas pouca coisa mudou. A história da Bahia e do Brasil mantém o registro dos fatos.
Ficou evidente, desde aqueles tempos, que os sertanejos precisam de apoio, precisam se sentir brasileiros. É como diz o povo da Chapada Diamantina: quem anda montado na razão não precisa de esporas.
Vamos abrir aqui uma pequena digressão e fazer alguns relatos sobre a trajetória de um homem importante e grande empreendedor, que foi Delmiro Gouveia. Ele não nasceu na Chapada Diamantina, mas nasceu aqui no Nordeste do Brasil. O Sul e o Sudeste do Brasil receberam muitos imigrantes de posses, mas no Nordeste nasceram e viveram homens com espírito e pensamentos voltados para o progresso. Foram homens que encontraram dificuldades e perseguições econômicas, assim como muitos nordestinos se encontram ainda hoje. Por meio de professores, leitura de jornais, reportagens em televisão, internet, etc., temos rápidas informações sobre a trajetória deste homem corajoso, um pioneiro de grande visão industrial e comercial.
Eis alguns relatos da trajetória de um sertanejo corajoso e com grande visão industrial e comercial. Delmiro Gouveia, cujo nome completo é Delmiro Augusto da Cruz Gouveia. Nasceu no Ceará em 1863, conforme fac-símile da Secretaria do Bispado da Diocese de Sobral, no livro de Cláudio Said. Ainda bem novo foi para a cidade do Recife. No princípio ele negociava com peles de animais. Mais tarde implantou uma grande usina de açúcar.
Anos mais tarde Delmiro Gouveia resolveu mudar de ramo e montou uma indústria de linhas e tecidos no Estado de Alagoas. Ele mesmo, com capital brasileiro, importou geradores e outros maquinários da Alemanha e junto com seus técnicos e outros auxiliares instalaram os equipamentos em um dos pontos da Cachoeira de Paulo Afonso. Instalaram de forma rudimentar, mas tudo funcionou e produziu energia elétrica. Em 1914, com energia elétrica disponível, ele deu impulso e construiu a vila da Pedra. Montou uma indústria têxtil no então povoado por nome Pedra e começou a produzir especialmente linhas de boa qualidade, que eram utilizadas pelas costureiras e outros profissionais do Brasil. A fábrica chegou a ter mais de 500 empregados.
Antes da fábrica por nome Pedra, as linhas de boa qualidade eram importadas. Todavia, em muitas partes do Brasil as donas de casa, cada mãe de família confeccionava as linhas de modo artesanal. Utilizavam o algodão produzido ali nas roças e a roda de fiar.
Em conversa com Daniel, Delmiro Gouveia sorriu e disse: Sou de fato muito amigo das noções gerais de higiene. Fiz de Pedra uma cidade limpa em todos os sentidos. Não gosto de ver meus operários na cachaça, nem descalços.(5)
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(5) Paulo Dantas, em seu livro Delmiro Gouveia e Outros, pag. 119. Edições Populares e Símbolo S/A - Ind. Gráficas – São Paulo, SP. 1976.


SOBRE O AUTOR:

SAUL RIBEIRO DOS SANTOS nasceu na Lagoa do Barro, Ipupiara, Bahia. Filho de Nisan Ribeiro dos Santos e Carolina Pereira de Novais. É casado com a Drª Agripina Alves Ribeiro, com quem tem os filhos Raquel Ribeiro dos Santos, Esther Ribeiro dos Santos e Arão Wagner Ribeiro. Formado em Economia, Adm. de Empresas e em Ciências Contábeis pela Unigranrio, Rio de Janeiro. Trabalhou durante vinte anos num grande banco comercial.
Sempre gostou de escrever. Apaixonado por assuntos das  Regiões da Chapada Diamantina e do Médio Vale do São Francisco. Gosta e costuma conversar com pessoas idosas com o objetivo de aprender e conhecer melhor a história regional.
Autor do livro DECISÕES & DECISÕES, publicado em 2013 pela Gráfica e Editora Clínica dos Livros, de Feira de Santana, Bahia.



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