SONETO
Antero de Quental
Não busco nesta vida glória e fama
das turbas que me importa o vão ruído?
Hoje, deus... e amanhã, já esquecido
como esquece o clarão de extinta chama!
Foco incerto, que a luz já mal derrama,
tal é essa ventura: eco perdido,
quanto mais se chamou, mais escondido
ficou inerte e mudo à voz que o chama.
Dessa coroa é cada flor um engano,
é miragem em nuvem ilusória,
é morte vão de fabuloso arcano.
Mas coroa-me tu, na fronte inglória
cinge-me tu o louro soberano...
Verás, verás então se amo essa glória!
(LIVRO "TUDO, RESUMIDAMENTE, SOBRE POESIA", ABEL B. PEREIRA, PÁGINA 41)

Nenhum comentário:
Postar um comentário