terça-feira, 30 de setembro de 2025

TROVAS DE OLINDO DE LUCA

 



TROVAS DE OLINDO DE LUCA 
Limeira (1915 – 1997)


A cicatriz nesta idade,
que trago dentro do peito,
foi feita pela saudade
de um bem-querer já desfeito.

Bem sei que me correspondes,
e vives dentro de mim...
Se te procuro te escondes,
não entendo coisa assim!

Como é bom ter amizades,
e por tantos ser amado,
e ter de muitos saudades...
Querer bem não é pecado!

Ela diz que vem me ver,
não creio nisso, jamais!
Meu coração a bater
já me disse “NUNCA MAIS!”

CANTANDO O AMOR - FILEMON MARTINS

 



CANTANDO O AMOR
Filemon Martins

É belo o amor sublime do meu sonho
que em minha vida já se fez real.
Não há razão para viver tristonho,
se estás comigo eu venço o vendaval.

O céu está mais lindo e mais risonho,
saudando a nossa paz transcendental.
O tempo passará, mas - pressuponho,
nosso amor subirá ao pedestal.

Viver este momento tão singelo
sempre foi meu desejo e meu anelo
sentindo o teu carinho e teu calor.

Querer-te assim numa expressão sincera,
Verão, Outono, Inverno ou Primavera,
hei de te amar com todo o meu amor.

ETERNO TEMA - MÁRIO BARRETO FRANÇA

 



ETERNO TEMA

Mário Barreto França


Quantas vezes a gente, triste, exclama:

- "Ah! se eu tivesse ouvido o coração!"

É a eterna desculpa de quem ama

Quando pranteia uma desilusão.


Há saudades que queimam como flama...

Nem sempre é doce uma recordação...

Mas... um contínuo pranto se derrama

para o martírio aliviar, em vão...


E a gente luta, e sofre, e desespera,

Na esperança de nova primavera,

Sem pressentir que o inverno vai chegar...


Não vale a pena maldizer a sorte,

Que a vida sempre exige até à morte

O eterno sacrifício de se amar...


(LIVRO "DE JOELHOS", PÁGINA 139) 

À IMORTALIDADE DO SONETO - J. G. DE ARAÚJO JORGE

 


                              (FOTO DE SANDRO, CARRANCA, IPUPIARA, BAHIA)



Apesar da modernidade, o soneto continua imbatível:

À IMORTALIDADE DO SONETO
J. G. DE ARAÚJO JORGE

Soneto: como a fênix renascida
- mitológico pássaro da lenda –
no coração do poeta, a morte e a vida
ressurges em onírica legenda.

A tua forma ideal foi concebida
para servir de preito ou de oferenda;
- flor de graça e mistério, recolhida
em que “jardins suspensos”? – canto e prenda.

Permaneces de pé, imorredouro,
como uma fênix, mas de penas de ouro
que num milagre eterno se recria,

sempre cantando, sempre renascendo,
queimada, - mas os séculos vencendo –
para a glória do amor e da poesia!


(OS MAIS BELOS SONETOS QUE O AMOR INSPIROU)

SER - JOSÉ FELDMAN

 





SER

José Feldman



Feche os olhos
Acredite no impossível
Sonhe um infinito de sonhos
Galgue os mistérios do passado
Não procure saídas
Mas... apenas entradas.
Por mais impossíveis que possam ser
Não faça perguntas,
Não quebre o instante de encanto,
Não evite as tempestades violentas.
Deixe-se apenas levar...
Fantasias incontroláveis.
Procure o segredo nas profundezas do ser
E descubra em cada momento
Um novo gosto de vida,
Um definitivo gosto de prazer.
Emerja do mergulho do medo
Destrua os mitos
Siga sempre em frente.
Onde acaba a ilusão
Comece a procura de outras verdades
Pois o momento está por um fio,
Entre a tempestade e a calmaria,
E este fio é que comanda nossos sonhos…


(ALMANAQUE CHUVA DE VERSOS Nº 434, JOSÉ FELDMAN)

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

TROVAS DE VANDA F. QUEIROZ


 


TROVAS DE VANDA F. QUEIROZ


Quem sou? Andava cismando...
Afinal me definistes:
- uma sombra carregando
um feixe de rimas tristes.

Um cortejo dobra a esquina...
Dobra um sino tristemente...
Eu – deixo de ser menina
passo a ser órfã somente.

Passa uma pobre menina,
vê numa loja, um brinquedo,
cola o nariz à vitrina,
depois sai... chupando o dedo.

Muita vez tenho cismado
que, ao invés do coração,
muita gente traz guardado
dentro do peito, um cifrão.


(ANUÁRIO COLETÂNEA DE TROVAS BRASILEIRAS, 1981, PÁGINA 10, ORGANIZAÇÃO DE FERNANDES VIANNA)

TROVAS DE ALOISIO ALVES DA COSTA

 



TROVAS DE ALOISIO ALVES DA COSTA

MESMO NOS DIAS TRISTONHOS
CHEIOS DE ANGÚSTIAS E ANSEIOS,
EU BUSCO À LUZ DOS MEUS SONHOS
DAR VIDA AOS SONHOS ALHEIOS.

AO VER O LEITO DAS ÁGUAS
E TANTA GENTE SEM LEITO,
TRANSBORDA O RIO DAS MÁGOAS,
QUE ENCHE DE MÁGOAS MEU PEITO.

TROVAS DO FILEMON

 



TROVAS DO FILEMON


NO LIVRO DA NATUREZA
AS LIÇÕES SÃO SEM IGUAIS.
TENHO, POR ISTO, CERTEZA
QUE É ONDE SE APRENDE MAIS.

QUANDO A DOR INVADE O PEITO,
CASTIGANDO O CORAÇÃO,
AMIGO É AQUELE SUJEITO
QUE NOS LEVANTA DO CHÃO.

QUASE SEMPRE FICO MUDO
QUANDO A RAZÃO PERDE A COR.
CALAR, ÀS VEZES, DIZ TUDO

PARA UM BOM ENTENDEDOR.

GRANDES TROVADORES

 



GRANDES TROVADORES


Brigar com gente de saia,
foi coisa que eu nunca fiz,
é puro rabo de arraia,
padre, mulher e juiz.
Arlindo Nóbrega

Duas vidas todos temos,
- muitas vezes, sem saber...
- a vida que nós vivemos
E a que sonhamos viver...
Luiz Otávio

Quando eu morrer, levo à cova
Dentro do meu coração,
O suspiro de uma trova,
E o gemer de um violão.
Adelmar Tavares

Estudo trovas a fundo,
Mas persisto na suspeita,
Que a trova melhor do mundo
Até hoje não foi feita.
Miguel Russowsky

TROVAS BRASILEIRAS

 



TROVAS BRASILEIRAS


Afirmam que a vida cansa,

não é verdade, negamos:

somos nós, sem esperança,

que da vida nos cansamos.

ASCENDINO ALMEIDA


Faz vergonha aos Presidentes

ver meninos nas vielas,

com as bocas cheias de dentes

e sem nada nas panelas...

CARLOS RIBEIRO ROCHA


Não me fascina o sucesso,

nada tenho para dar.

Quero apenas, eu confesso

o amor no mundo espalhar.

FILEMON MARTINS


Oh, linda trova perfeita,

que nos dá tanto prazer!

Tão fácil, depois de feita,

tão difícil de fazer!

ADELMAR TAVARES

A DECISÃO QUE LIVROU 156 PESSOAS DA MORTE - SAUL RIBEIRO DOS SANTOS

 

A DECISÃO QUE LIVROU 156 PESSOAS DA MORTE

 



Ao perceber os tempos modernos tomamos conhecimento que historiadores, sociólogos e políticos com suas sugestões prometem resolver os problemas pelos quais passa a nossa sociedade. Mas percebemos que na prática andam tateando e mudando as teorias constantemente. Uns falam sobre que o fator econômico não equilibrado causa desajustes entre o povo. Falam que a melhor distribuição de renda resolveria os problemas.  Outros dizem que o crescimento econômico muito rápido causa desajustes próprios do desenvolvimento. Outros atribuem os desequilíbrios sociais à falta de cultura e afirmam que as massas precisam de manifestações culturais e que o governo precisa investir recursos financeiros nos movimentos culturais. 

Será que as sugestões apresentadas resolverão os problemas? Há tempos, me parece que foi em 2023, escrevi aqui um artigo com o título O Brasil Precisa de Uma Injeção de Honestidade. Pois é isso que as autoridades percebem, convocam os suspeitos para explicações, mas enquanto perguntam e fazem relatórios, surgem denúncias em outras partes. Nota-se que é preciso um programa de educação aperfeiçoada e de longo prazo, somente atendo-se aos fatos.

Ao ler a História do Brasil encontramos registros de fatos importantes realizados no passado por pessoas corajosas. Percebe-se que nos últimos tempos o Brasil está precisando de pessoas de ação, pessoas corajosas, diante dos perigos.

A história a seguir foi contada pelo professor S. Júlio Schwantes, em seu livro “Colunas do Caráter”. É um excelente e recomendável livro com temas atuais para todos os leitores e especialmente para os jovens.

“Corria o ano de 1848 e o capitão de fragata Marques Lisboa, futuro Almirante Tamandaré estava a bordo do navio D. Afonso, um dos primeiros navios a vapor da esquadra brasileira, que foi construído nos estaleiros de Liverpool. Terminadas as experiências com as máquinas, a bela fragata fez-se ao largo no Canal Inglês. Na costa de Lancastershire, os vigias avistaram um barco preso às chamas. O capitão Marques Lisboa mandou aumentar a velocidade e aproximou-se do navio sinistrado. Era o navio americano, Ocean Monarch, que viajava de Liverpool com destino a Boston, levando 396 emigrantes”.

Apesar do grave perigo representado pelos paióis de pólvora, o navio D. Afonso aproxima-se do navio que estava com forte incêndio e apresta-se para levar-lhe socorro. A situação era difícil. A operação de salvamento é descrita de modo palpitante por Gustavo Barroso. No Ocean Monarch, marujos e passageiros estavam agitados. Os escales (pequenas embarcações) não podiam se aproximar daquela fogueira flutuante, da qual surgiam rápidas, explosivas, línguas de fogo. Era necessário prender um espia às amarras do navio, pela qual os náufragos pudessem alcançar as pequenas embarcações. Só um marinheiro ótimo nadador e corajoso poderia vencer as ondas e o calor. O marujo Jerônimo tomou o cabo e precipitou-se n’água conseguindo atingir as correntes do Ocean Monarch. Estabeleceu-se logo um vai e vem e, assim, retiraram-se de bordo cento e cinquenta e seis pessoas. Salvaram-se no mar mais sessenta pessoas. De trezentas e noventa passageiros morreram cento e quarenta. Todas as vítimas do incêndio receberam do navio brasileiro D. Afonso, os mais carinhosos auxílios …

Dois dias mais tarde, nosso ministro em Londres, enviava ao comandante, em nome do imperador do Brasil, cem libras esterlinas para serem distribuídas pela tripulação. O capitão de fragata, Marques Lisboa, comandante do navio brasileiro mandou formá-la na cobertura, leu o ofício que acompanhava a gratificação e lembrou aos seus comandados a situação de miséria em que se viam aqueles que haviam salvado. E concluiu:

- Cedam-lhes por caridade esse dinheiro.

-Cedemos! Cedemos! Responderam em coro os marujos comovidos.

Este gesto de denodo e altruísmo honra ao bravo comandante e aos seus comandados. Espontaneamente tiramos o chapéu diante deste ato de nobreza que lembra aos seres humanos a sua origem divina. O autor lembrou a todos o que está escrito em São Mateus capítulo 20 e versículo 28, que diz o seguinte: 

O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos”.





 Saul Ribeiro dos Santos

Contador e economista aposentado.

Natural de Ipupiara - BA.

domingo, 28 de setembro de 2025

REVISITANDO CASTRO ALVES

 



REVISITANDO CASTRO ALVES (1847-1871)

 

¨E existe um povo que a bandeira empresta

Pra cobrir tanta infâmia e cobardia!...

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria!...

Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta, que impudente na gávea tripudia?...

Silêncio!... Musa! Chora, chora tanto

Que o pavilhão se lave no teu pranto...

 

Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra

Às promessas divinas da esperança...

Tu, que da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança,

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha!...¨

 


Considero estes versos do poeta baiano como um dos mais belos e significativos da Língua Portuguesa. 

EM SENDO ASSIM... - CLEIDE CANTON

 



EM SENDO ASSIM...

Cleide Canton

 

Em sendo assim, deponho minha espada.

Recolho meus tropeços mas não choro.

Meus ais não se ouvirão nem eu imploro

por chuvas de verão na minha estrada.

 

A lenda que criei foi apagada

e o canto que eu não canto é mais sonoro.

Os versos que inda faço e não decoro

valseiam numa página virada.

 

Minhas mãos que aplaudiam sem cessar

cada nuvem que pairava sobre o mar,

descansam nesta fase vespertina.

 

Mas o olhar ainda brilha de esperança

ao ouvir um sorriso de criança

em meio à multidão que desafina.

 

O PERDÃO - FILEMON MARTINS

 




O PERDÃO

Filemon Martins


MOTE

Soubesse perdoar mais
Um gesto nobre e cristão.
Um mundo cheio de paz
Nasceria do Perdão.
GLOSA

SOUBESSE PERDOAR MAIS
Melhor a vida seria
Que só o amor é capaz
De nos trazer alegria.

Enquanto houver neste mundo 
UM GESTO NOBRE E CRISTÃO
O amor duradouro e fundo
Fará bem ao coração.

Bondade nunca é demais
Quando se vive em amor.
UM MUNDO CHEIO DE PAZ
Longe da guerra e da dor.

Seria o mundo decente
Vivendo sem ambição.
A nossa paz, certamente,

NASCERIA DO PERDÃO.