A IGREJA EVANGÉLICA
NO BRASIL HOLANDÊS (I).
Mário Ribeiro Martins*
(REPRODUÇÃO PERMITIDA, DESDE QUE CITADOS ESTE AUTOR E O TÍTULO, ALÉM DA FONTE).
É possível que a expressão Brasil Holandês tenha de ser melhor esclarecida para uma boa compreensão da presença evangélica naquele período. A duração foi de 1630 a 1654, aproximadamente.
Tudo começou, no entanto, quando em 1621, foi organizada a Companhia das Índias Ocidentais e a navegação comercial entre Brasil e Europa em poder dos holandeses, que dela possuíam cerca de dois terços. Nos anos de 1624 e 1625 houve a invasão da Bahia, sem maiores sucessos, marcando, porém, a presença holandesa, seu interesse e destemor.
Pode-se, pois, dividir a História do Brasil Holandês, nas seguintes fases:
I - Início. Com a ajuda do índio Pedro Poty, do mulato Malabar, de oficiais poloneses e alemães, e de um cristão novo (judeu convertido) ocorreu, em 1630, a conquista de Olinda (PE). Somente quatro anos depois foi possível a tomada da Paraíba, com a promessa da liberdade de consciência para os habitantes, manutenção das igrejas e cultos. Esta primeira fase estendeu-se até 1636.
II - Apogeu. Com a chegada do príncipe João Maurício de Nassau, em 1637, acompanhado de cientistas e artistas, entre os quais, respectivamente, o médico Guilherme Piso e o pintor Frans Post, além de militares, religiosos e outras pessoas, iniciou-se a segunda fase que foi até 1644.
A glória deste período foi marcada pela conquista do Ceará, no Norte, em 1637 e no Sul, a conquista do Rio São Francisco (Penedo), no mesmo ano. Este avanço holandês implicou em sérias preocupações:
a) Políticas. Apesar do tratado entre Portugal e Holanda, logo que aquele se libertou da Espanha, houve a tomada do Maranhão e Luanda (Angola), em 1641. No ano seguinte aconteceu a revolta maranhense.
b) Religiosas. Por parte dos jesuítas ocorreu a Organização da Assembleia, primeiro órgão representativo no Novo Mundo. Por parte dos invasores vários templos foram reformulados e outros construídos.
c) Culturais. Formaram-se orquestras e foi montado um observatório astrológico, além de outras expressões artísticas, como pintura, corais etc.
d) Administrativas. Foi construída a Mauriceia (nome do Recife durante algum tempo), primeira cidade planejada no Brasil, que incluía palácios, jardins, pontes, canais, hospitais, templos.
e) Econômicas. Dívidas dos senhores de engenho que não tinham possibilidade de pagar à Companhia das Índias Ocidentais os escravos comprados.
III - Declínio. Esta terceira fase começou com o retorno de Nassau à Holanda. Ele, que era o "Santo Antônio" para os católicos ou o "irmão" para os índios e uma esperança para os judeus que lhe ofereciam 3000,00 f por cada ano de permanência no Brasil Holandês, voltou a sua terra, quando aqui se preparavam muitas ciladas.
Assim é que em 1645 quando se iniciou esta última fase, houve a revolta liderada por Fernandes Vieira. Em 1648, aconteceu a famosa batalha dos Guararapes. Em 1654, tudo chegou ao fim, com a vitória de Barreto e o prazo de três meses para liquidar tudo.
Com este fundo histórico é possível entender a presença evangélica no Brasil Holandês. As igrejas nasceram, neste período, do que se chama transplante e semente. Esta é uma referência às conversões e aquele se refere às mudanças ou mudas transplantadas.
As igrejas surgiram, portanto, acompanhando o crescimento das conquistas. Quando, por exemplo, o Ceará foi conquistado em dezembro de 1637, já em janeiro do ano seguinte se procurava um obreiro para Fortaleza. O mesmo aconteceu com a região do Rio São Francisco para o qual se buscava um missionário em 1644.
As derrotas, no entanto, impostas por André Vidal no ano seguinte causaram o desaparecimento das Igrejas Evangélicas da região sul de Pernambuco, entre as quais Cabo e Serinhaém.
De modo geral, as Igrejas Evangélicas deste período passavam por algumas fases:
Fase militar, em que a igreja começava dentro das fortalezas. Fase colonial, que incluía os colonos cada vez mais numerosos, funcionários e comerciantes. Fase missionária, cuja preocupação maior era a evangelização dos índios.
Um exemplo destas etapas, foi a Igreja Evangélica da Paraíba que começou em 1634 puramente militar, depois tornou-se colonial em 1636, sob a orientação de Dooreslaer, e posteriormente missionária, em 1638, ainda com Dooreslaer.
Algumas igrejas não passaram por todas estas fases, entre as quais a Igreja Evangélica de Goiana, que nunca foi militar, embora houvesse militares, mas foi logo organizada como igreja colonial por evangélicos que adquiriram propriedades na região. (JORNAL BATISTA. Rio de Janeiro, 19.05.1974).
MÁRIO RIBEIRO MARTINS - ERA PROCURADOR DE JUSTIÇA E ESCRITOR.

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