(FOTO DE SANDRO, CARRANCA, BAHIA)
As mãos de Pilatos
Eugénio de Sá
Há dois mil anos houve quem quisesse
Libertar do remorso a consciência
Deixando que uma horda, por demência
Um Inocente em Mártir transformasse.
Julgou então Pilatos que lavar
Com água pura as mãos lhe bastaria
Pra que a alma sentisse casta e pia
Sem mais razões pra se auto-censurar.
Não bastaram então nem hoje bastam
Que rios d’água corram sobre quem
Concentre em si as faltas e o desdém
Dos que se omitem d’outros que maltratam.
Que culpa tem quem não é entendido
Nas suas intenções, sendo as melhores,
Porque há de ser assim tão ofendido?
Podem lavar-se mãos, corpos e rostos
Com águas límpidas, até perfumadas
Que as roupas ficarão só encharcadas
Mas fétidos persistem os gestos decompostos!

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