QUEM FOI CRUZ E SOUSA?
Filemon Martins
João da Cruz e Sousa nasceu em 24/11/1861 em Desterro,
atual Florianópolis, Santa Catarina. Nessa época, seu pai era pedreiro e ainda
escravo, pertencente ao militar de nome Guilherme Xavier de Sousa (1818/1870),
mas sua mãe já era alforriada e trabalhava como lavadeira. Desta maneira, a
criança acabou recebendo o sobrenome do militar. A esposa do militar começou a
ensinar a ler e escrever, como se fosse seu filho. Algum tempo depois, ele
passou a estudar na escola do irmão dela e em 1872 ingressou no Colégio da
Conceição, na época dirigido por Rozalina Paes Leme. Em 1874 foi aceito no
Liceu Provincial de Santa Catarina.
Em 1877 tornou-se professor particular e publicou seus
primeiros poemas em periódicos da época. Foi um dos fundadores do semanário
Colombo, em 1881. Exerceu a função de ponto (pessoa que lembra as falas dos
atores), na Companhia Dramática Julieta Santos.
Em 1883 tornou-se amigo do médico Francisco Luís da
Gama Rosa (1851/1918), na época presidente da província de Santa Catarina, que,
no ano seguinte fez do escritor o promotor público de Laguna. Não tardou muito,
sua nomeação foi anulada. Cruz e Sousa, envolvido na causa abolicionista,
decidiu conhecer a Bahia.
Em 1885, em Desterro, SC, dirigiu o jornal
abolicionista O MOLEQUE. Em 1888 foi para o Rio de Janeiro, onde publicou
poesias no periódico NOVIDADES.
No ano seguinte retornou a sua terra natal. A partir
de 1890 fixou residência no Rio de Janeiro e passou a escrever para a Revista
Ilustrada. Em seguida publicou textos na Folha Popular e em O Tempo. Em 1892
conheceu sua futura esposa Gavita Rosa Gonçalves. Em 1893 publicou seus livros:
MISSAL E BROQUÉIS. Casou-se também com Gavita, tendo conseguido um emprego na
Central do Brasil.
Muito doente, o poeta chegou a buscar tratamento para
a tuberculose, na atual cidade de Antônio Carlos, em Minas Gerais, mas acabou
falecendo em 18/03/1898.
Foi o poeta mais importante do Simbolismo brasileiro.
Sua obra apresenta aspectos singulares, como o pessimismo, a predominância da
cor branca, a temática social da época, e, como os parnasianos, o rigor formal,
além de ter sido um abolicionista convicto.
Seus livros mais conhecidos são: Missal (1893),
Broquéis (1893) e Evocações (1898).
Posteriormente foram publicados:
Faróis (1900);
Últimos sonetos (1905);
Poemas inéditos (1996)
Últimos inéditos (2013)
O poeta Cruz e Sousa teve uma vida atribulada, não só
em razão do preconceito existente, mas por motivos de doença na família: seus
filhos morreram prematuramente e sua esposa acabou ficando louca.
Mas a obra do poeta permaneceu, como estes sonetos:
TRIUNFO SUPREMO
Quem anda pelas lágrimas perdido,
Sonâmbulo dos trágicos flagelos,
É quem deixou para sempre esquecido
O mundo e os fúteis ouropéis mais belos.
É quem ficou do mundo redimido,
Expurgado dos vícios mais singelos
E disse a tudo o adeus indefinido
E desprendeu-se dos carnais anelos!
É quem entrou por todas as batalhas
As mãos e os pés e o flanco ensanguentando,
Amortalhado em todas as mortalhas.
Quem florestas e mares foi rasgando
E entre raios, pedradas e metralhas,
Ficou gemendo, mas ficou sonhando!
Ou ainda: INVULNERÁVEL
Quando dos carnavais da raça humana
Forem caindo as máscaras grotescas
E as atitudes mais funambulescas
Se desfizerem no feroz Nirvana;
Quando tudo ruir na febre insana,
Nas vertigens bizarras, pitorescas
De um mundo de emoções carnavalescas
Que ri da Fé profunda e soberana;
Vendo passar a lúgubre, funérea
Galeria sinistra da Miséria,
Com as máscaras do rosto descoladas;
Tu que és o deus, o deus invulnerável,
Resiste a tudo e fica formidável,
No silêncio das noites estreladas!
Mais: VIDA OBSCURA
Ninguém
sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste num silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.
Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!
Como se vê,
Cruz e Sousa foi o maior representante da Escola Simbolista, no Brasil. Letras
iniciais maiúsculas, conservou o rigor formal, como a Escola Parnasiana, além
dos temas abordados em seus sonetos, entre outros, o preconceito e o
misticismo. Infelizmente, pouco se fala sobre o grande poeta de Santa Catarina,
foi o que constatei em minhas pesquisas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário