O MISTÉRIO DE DORA
Filemon Martins
Era noite quando a família de
Dora chegou em casa. As luzes se acenderam e houve muita satisfação com o
retorno de todos.
Dora era uma menina de 9 anos
numa família composta por quatro pessoas: o pai Tertuliano, a mãe Jacira, o
irmão Júlio e Dora, a mais nova.
Dora sempre foi uma menina
levada, mas inteligente e estudiosa. Sonhava até demais. Quase sempre tinha
sonhos estranhos e exóticos que pareciam reais. A família sabia e se
preocupava, mas achavam que eram coisas da idade.
Moravam numa região interiorana. Dora
adormecia um pouco e já sonhava: andava um pouco e descobria um pomar repleto
de fruteiras, como pés de manga, caju, mangaba, puçá, romãs, bananeiras e mais
adiante uma pequena porta enigmática e fechada. E quando estava diante dela, atônita
acordava. Nunca conseguia penetrar ali. Com isso sua curiosidade só aumentava.
Naquele pomar, até onde ela pôde observar,
havia muitos pássaros de tonalidades diferentes: beija-flor, garças brancas e
vermelhas, fogo apagou, sabiá-laranjeira, canário, tucano, papagaio, periquito,
pica-pau e coruja, entre outros.
Tudo isto a deixava mais curiosa.
Mas, o que fazer, se não conseguia entrar ali?
O dia amanheceu claro, com um sol
inebriante e um brilho descomunal se descortinou para Dora, que fora a escola
naquela manhã esplendorosa e convidativa. Depois da aula, aproveitou para
conversar e brincar com suas amigas. Nenhuma delas sabia dos anseios e segredos
de Dora e as brincadeiras das meninas eram: pular corda, amarelinha,
pique-esconde, chicotinho queimado, cantigas de roda, casinha, entre outras.
Voltou para casa, almoçou,
descansou, fez deveres escolares e se divertiu um pouco mais com as amigas da
rua, onde morava. A noite chegou trazendo uma brisa suave que balançava as
flores do jardim, esparzindo um perfume estonteante para quem passasse próximo
dali. Depois do jantar, sempre acompanhado pelos olhos da mãe, chegou o momento
de ir para a cama.
Deitou e dormiu a sono solto, mas
voltou a sonhar: “passou pelo pomar, observou as fruteiras, admirou-se da
beleza e do cantar dos pássaros e ficou diante da misteriosa porta, que, para
sua surpresa e alegria se abriu. Ela entrou devagar, pé ante pé, com um certo
receio, e ficou extasiada diante de algumas árvores frondosas que ela não
conhecia e mais à frente um lago, onde patos, gansos, cisnes nadavam
tranquilamente. Sentiu um calafrio e misteriosamente transformou-se numa garça vermelha.
Abriu as asas e voou em direção ao lago, onde já havia algumas garças
alimentando-se de peixes, répteis, pequenos insetos, anfíbios e larvas.
Juntou-se ao grupo e
instintivamente começou a fazer o mesmo: pescando pequenos peixes e insetos.
Enquanto isso, caminhava devagar e tranquila naquelas águas rasas. De repente o
grupo alçou voo e partiu em direção à beira do lago com árvores grandes e cheias
de ninhos. Era preciso construir seu ninho, escolheu o galho e partiu buscando
e dobrando gravetos. Depois de algum tempo, seu ninho estava pronto. O ninho da
garça vermelha. Quando tudo parecia pronto, acabado e verdadeiro, escutou um
barulho e acordou sorrindo... E nunca mais voltou a sonhar...
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