segunda-feira, 8 de julho de 2024

MUNICÍPIO DE SEABRA - PARTE II

 



 

MUNICÍPIOS DA CHAPADA DIAMANTINA

MUNICÍPIO DE SEABRA (Parte II)

Saul Ribeiro dos Santos

📧saul.ribeiro1945@gmail.com

 

     A partir do ano de 1549, com a chegada do Governador Geral do Brasil, Tomé de Sousa e seus auxiliares, todos perceberam que a região de São Salvador e adjacências eram compostas de terras boas e estavam apresentando boa produção agrícola. Perceberam também que todas as terras do Brasil precisavam ser inseridas no contexto histórico da colônia portuguesa. Os portugueses verificaram que o solo do interior da Bahia era rico em minérios, principalmente ouro e diamante (de fácil sondagem e prospecção) e possuía trechos com terras boas para as lavouras e pastos para a criação de animais.

      Toda a produção agrícola do entorno de São Salvador (esse era o nome oficial da cidade) era exportada. Após os anos de 1553 e 1557 com a chegada de Duarte da Costa e Mem de Sá, respectivamente 2° e 3° governadores, as capitanias de São Salvador, Porto Seguro e São Jorge dos Ilhéus estavam produzindo a contento. Até o início do século XVIII  São Salvador e as proximidades da cidade era a parte mais desenvolvida do Brasil. Era considerada como a “menina dos olhos” do rei de Portugal.

       O interior precisava ser povoado para produzir mais riquezas para os nobres -  pessoas importantes da Corte Portuguesa em Lisboa. Os portugueses tinham muito interesse nas pedras preciosas desta parte da colônia. Para a Família Real, para os nobres e fidalgos do Império português, a Bahia estava indo muito bem. Entre os anos de 1650 e 1750 a cidade de São Salvador em conjunto com toda aquela região próxima no entorno da sede da colônia apresentava excelente produção agrícola destinada à exportação, cujo dinheiro apurado era enviado para a sede do Império, em Lisboa. As lavouras eram desenvolvidas a custo zero pela mão de obra dos escravos.

       Naquele tempo prosperava uma economia de exportação e tudo era produzido com base na mão de obra escrava (com custo zero ou quase zero). A Enciclopédia Barsa informa que André João Antonil (2) na obra Cultura e Opulência do Brasil, de 1711, declara que “naquele período a Bahia exibia forte produção agrícola (3). Cita-se a quantidade de 14.500 caixas de açúcar, possuía 157 engenhos que fabricavam 300 mil arrobas de açúcar”. A cada ano construíam-se mais engenhos. As lavouras de fumo produziam 25 mil rolos de tabaco (fumo) por ano. O povoamento e civilização foram incentivados com maior empenho após o Rei de Portugal marcar uma reunião para conversar com seus representantes da sede da Colônia. Na reunião o Rei tomou a decisão política de povoar o interior da Bahia.

     Depois da chegada de D. João VI ao Brasil em 1808, dias após o desembarque do mandatário e sua comitiva na Bahia, foram criadas várias instituições e aconteceram muitas mudanças na administração da política brasileira. As mudanças influenciaram   positivamente todo o Brasil.

     Mais tarde, a contar do ano 1822 até o ano de 1932, foi um período de agitações e mudanças significativas no Brasil. Ocorreram fatos que influenciaram a política e o comércio de todas as cidades, inclusive os povoados do interior, aqui no sertão. Nesta região das Lavras Diamantinas, naquele tempo, as cidades que sentiram maior impacto foram Rio de Contas, Mucugê, Piatã, Lençóis, Andaraí, Palmeiras, Macaúbas e Brotas de Macaúbas. Outras pequenas localidades também sentiram os impactos das mudanças, ainda que de maneira sutil. Entre os fatos históricos mais importantes que aconteceram nas cidades grandes e refletiram nas pequenas e nos povoados, selecionamos os seguintes. Vejamos:

· 1822 - No dia 18 de fevereiro de 1822 começam na Bahia as lutas pela independência da  Bahia e do Brasil, com os primeiros combates entre baianos e portugueses.

· 1822 – No dia 7 de setembro foi proclamada a independência do Brasil por D. Pedro I, quando proferiu as famosas palavras Independência ou Morte, às margens do Riacho Ipiranga, em SP.

· 1823 – No dia 28 de janeiro foi travado um forte combate naval entre as tropas portuguesas e o Batalhão dos Patriotas Baianos junto à foz do Rio Paraguaçu. Depois de outros combates, no dia 2 de julho retiram-se da cidade de S. Salvador as tropas da Marinha Portuguesa. Nesse dia foi realizado o desfile, a marcha triunfal das tropas da Bahia pelas ruas da cidade.

· 1837 – No dia 7 de novembro eclode em Salvador a revolução denominada Sabinada, chefiada pelo médico Francisco Sabino Alves da Rocha Vieira. Os revolucionários pretendiam estabelecer um sistema republicano durante a minoridade de D. Pedro II.

· 1853 – Foi assinada a concessão para a construção da Estrada de Ferro Bahia-São Francisco Railway, inaugurada em 1860.

· 1888 – No dia 13 de maio – libertação dos escravos. A lei n° 3.353/88 é composta de dois artigos bem diretos, a saber:

      Art. 1°: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.

Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário.

· 1889 – No dia 15 de novembro de 1889 foi proclamada a República. O imperador D. Pedro II foi destronado e no dia seguinte embarcou para Portugal.

· 1891 – No dia 24 de fevereiro foi promulgada a 1ª. Constituição Republicana do Brasil

· 1896 – Eclode a Revolução de Canudos, no sertão da Bahia. Em 1908 o mentor do movimento, Antônio Conselheiro, foi morto em combates, pondo fim ao movimento da Revolução que serviu para revelar o grau de abandono em que viviam os sertanejos, fazendo as autoridades pensar diferente.

· 1912 – No dia 10 de janeiro ocorreu o bombardeio da cidade do Salvador por tropas federais. Canhões do Forte S. Marcelo foram direcionados e dispararam contra a cidade à qual deveriam proteger. Foi um episódio que marcou as lutas políticas entre as oligarquias provincianas nos primeiros anos da República. O fato deixou a cidade perplexa e teve repercussão nacional. Culminou com a ascensão ao governo do Estado a figura do então Ministro da Viação e Obras Públicas, José Joaquim Seabra, significando a derrota dos antigos líderes.

· 1929 – Quebra da Bolsa de Nova York (24 de agosto de 1929, o dia ficou conhecido como “quinta feira negra”). Foi uma grave crise que prejudicou todos os países, inclusive o Brasil.

· Revolução de 1930 – Getúlio Vargas assume o poder. O Congresso Nacional foi dissolvido. Governadores foram depostos e interventores federais foram nomeados.

· A crise internacional trouxe dificuldades para o Brasil. Em 1930/31 o café e o cacau, principais produtos de exportação, começaram sofrer as consequências. A crise atingiu também os Municípios do interior. Ainda os mais idosos falam da crise (falam: crise de 32).

· 1932 – No dia 9 de julho aconteceu em São Paulo um levante chamado de Revolução Constitucionalista, que influenciou toda a política brasileira, influenciando os Municípios do interior.

    Vamos retornar aos comentários sobre Seabra. A formação dos primeiros povoados nesta parte da Chapada Diamantina ocorreu durante o século XVIII e início do século XIX. A formação ocorreu principalmente em função de maior produção das minas de ouro existentes em Jacobina e Rio de Contas. (4) O Rei de Portugal aprovou o projeto da abertura de uma estrada para ligar as duas regiões produtoras do metal valioso. A estrada (para a passagem de cavaleiros, tropeiros e carros de bois) foi batizada com o nome de Estrada Real do Sertão. (5) Essa via pública de longa extensão passava por terras que hoje pertencem ao Município de Seabra. A Estrada Real do Sertão tinha ramificações de acesso para muitos povoados.

        Com as minas de ouro e a estrada, muitos portugueses se interessaram pela região. Toda a produção das minas era controlada e repassada para o funcionário que cuidava dos interesses tributários do governo imperial. O governo, através dos fiscais, controlava e cobrava altos impostos. Percebendo que não tinham muita liberdade para negociar, vários garimpeiros e compradores de ouro e diamantes mudaram de atividade e foram para a produção agrícola nos vales e grotões férteis.

 

(2)  João André Antonil (Giovanni), nasceu em Lucca, na Itália em 08/11/1649 e faleceu em Salvador - Bahia, em 13/11/1716.

     Formado em Direito Civil pela Universidade de Perúgia. Veio ao Brasil trazido pelo Pe. Antônio Vieira. Foi um grande historiador. Foi reitor do Colégio da Bahia. Seu livro Cultura e Opulência do Brasil tornou-se uma obra fundamental da Historiografia brasileira. A 1a. edição foi confiscada pelas  autoridades por temerem despertar a cobiça das cortes europeias. (Enciclop. Barsa, vol. 2 pag. 472).

(3)  Enciclopédia Barsa, vol. 3. pág. 402. Encyclopaedia Britannica Publicações Ltda., SP.  - 1995.

(4)  As minas de ouro em Rio de Contas exerceram influência na formação de muitos povoados. Os povoados foram crescendo, promovidos a Distritos e mais tarde em sede do atual Município. Muitas datas citadas na introdução ou na emancipação dos Municípios foram conseguidas por meio de acesso a Publicações dos Municípios da Bahia, outras fontes.

 (5)  Nome dado aos caminhos abertos no Brasil, nos séculos XII e XIII pelo Rei de Portugal.

 

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Este texto é parte integrante do esboço do livro Chapada Diamantina, em elaboração.

 

 SOBRE O AUTOR

SAUL RIBEIRO DOS SANTOS é casado com a Drª Agripina Alves Ribeiro, com quem tem os filhos Raquel Ribeiro dos Santos, Esther Ribeiro dos Santos e Arão Wagner Ribeiro.

Autor do livro DECISÕES & DECISÕES, publicado em 2013 pela Gráfica e Editora Clínica dos Livros, de Feira de Santana, Bahia.

Colaborador assíduo do Blog Literário do Filemon e trabalha no projeto do livro CHAPADA DIAMANTINA, em elaboração.

 

 


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