quarta-feira, 5 de junho de 2024

MUNICÍPIO DE LENÇÓIS - PARTE II

 



 

MUNICÍPIOS DA CHAPADA DIAMANTINA

MUNICÍPIO DE LENÇÓIS (Parte II)

Saul Ribeiro dos Santos

📧saul.ribeiro1945@gmail.com      

 

 

Em 1925 o Tenente Ângelo Novais, sobrinho do avô materno do autor destas linhas, foi escolhido pelo Batalhão - PM da Bahia sediado em Feira de Santana, para colocar ordem na cidade de Lençóis. Em 1926 esse tenente escreveu uma carta para o meu avô materno e mandou uma fotografia pessoal vestido com o uniforme da PM-BA daquela época.

       O povoado elevado para a categoria de Vila ficou administrando uma grande área territorial. Ao longo da sua história, por Atos e Leis Estaduais, o extenso Município de Lençóis teve parte do seu território desmembrado, cedendo terras para formar outros Municípios, a saber: Seabra (1889), Palmeiras (1890) e Wagner (1962).

      Eis a marcha dos acontecimentos sociais e políticos ao longo dos anos deste Município, parte integrante da Chapada Diamantina:

·O Povoado foi promovido para a categoria de Vila por força da Lei Provincial nº 604 de 18/12/1856, em plena atividade da prospecção e extração de diamantes. No ato da designação como vila recebeu o nome oficial de Lençóis, constituído do Distrito-sede. Suas terras foram desmembradas da Freguesia de Santa Isabel do Paraguaçu (atual Município de Mucugê).

·A cidade de Lençóis teve os seus dias de glória. Muita riqueza pela produção de diamantes. Pela Lei Provincial nº 899 de 1863 foi criado o Distrito de Vila Agrícola de Campestre e anexado ao Município de Lençóis.

·Pela Lei Provincial nº 2.652 de 14/05/1889 foi desmembrado de Lençóis o Distrito de Campestre (ex-Vila Agrícola Campestre, atual Município de Seabra).

·Por Ato Oficial do Governador do Estado da Bahia, de 23 de dezembro de 1890, foi criada a Villa Bella das Palmeiras com terras desmembradas do Município de Lençóis.

·No Mapa da Divisão Administrativa de 1911 o Município ficou constituído de dois distritos: Lençóis (Distrito-sede) e Cravada. O recenseamento de 1920 informa que o Município está constituído de dois Distritos: Lençóis (a sede) e Cravada ou St° Antônio da Cravada.

·Em maio de 1923, por Lei Municipal foi criado o Distrito de Afrânio Peixoto.

·Pelo Decreto Estadual nº 7.479 de 08/07/1931, Ponte Nova (atual Município de Wagner) passou a pertencer a Lençóis.

·Em divisão administrativa de 1933 o Município aparece constituído de três Distritos, a saber: Lençóis (a sede), Afrânio Peixoto e Ponte Nova.

·Pelo Decreto Estadual nº 12.978 de 01/06/1944 o Distrito de Ponte Nova teve o nome mudado para Itacira.

·Em mapa da divisão territorial de 01/07/1950 o Município continuou com três Distritos, cuja composição era a seguinte: Lençóis (a sede), Afrânio Peixoto e Itacira (ex-Ponte Nova).

·Pela Lei Estadual nº 1.739 de 20/07/1962 foi desmembrado do Município de Lençóis o Distrito de Itacira, que em conjunto com alguns povoados formou o Município de Wagner (ex-Itacira, ex-Ponte Nova). O Município de Lençóis ficou constituído de dois Distritos, a saber: Lençóis (a sede) e Afrânio Peixoto. Mais tarde foi anexado ao Município de Lençóis o Distrito de Coronel Otaviano Alves e arredores.

·Em mapa da divisão territorial de 2003 o Município aparece constituído de três Distritos, a saber: Lençóis (a sede), Afrânio Peixoto e Coronel Otaviano Alves. Em 2007 esta continuou sendo a divisão territorial do Município de Lençóis.

      Em todos os Municípios da Chapada Diamantina daquele tempo, desde 1831 até a 1ª metade do século XX (até o início da Era Vargas), existiam os coronéis do sertão. (1) Normalmente eram homens que gozavam de grande prestígio na política e na economia, os quais eram nomeados e recebiam a patente autorizada pela Guarda Nacional (mais informações sobre os coronéis estão em páginas anteriores, na parte intitulada A Saga dos Coronéis).

      Um dos homens de maior prestígio que ostentava a patente fornecida pela Guarda Nacional foi o Coronel Horácio de Matos. Eis que Horácio de Matos era descendente do Alferes José Pereira de Matos – de origem portuguesa, que em 1842 fixou residência na Vila de Santo Inácio (hoje no Município de Gentio do Ouro) dedicando-se aos garimpos de ouro e diamantes existentes naquela parte. O pai do Horácio, Quintiliano Pereira de Matos, estabeleceu residência no então Município de Brotas de Macaúbas. Anos mais tarde Horácio continuou subindo as montanhas e foi para Lençóis.

     Os domínios do Coronel Horácio de Matos estendiam-se do Município de Lençóis, Campestre, Wagner (ex-Itacira), e seguiam em direção ao Oeste, indo até as margens do Rio São Francisco, na parte que pertencia ao Município de Brotas de Macaúbas. Era uma grande extensão territorial.

      Horácio de Matos foi um homem de grande prestígio também perante o governo da República. Ele foi contratado, com o apoio do Exército, para combater a “Coluna Prestes”. O Dr. Mário Ribeiro Martins, (2) no seu importante livro Coronelismo no Antigo Fundão de Brotas, 5ª. edição – Editora Kelps (2010), escreveu entre outras informações, a seguinte:

“Em 1926, sob a orientação do Gen. Mariante, representante do Ministério da Guerra, o Coronel Horácio de Matos, com 560 homens bem armados lança-se para combater a Coluna Prestes, comandando o Batalhão Patriótico Lavras Diamantinas, ao lado de outros comandantes, entre os quais, o Coronel Abílio Wolney  (do Norte de Goiás), que estava se deslocando com 300 homens de Cabrobó (Pernambuco) para Leopoldina (Minas Gerais), além de Franklin de Albuquerque (de Pilão Arcado-BA.)”.

      A Coluna Prestes era conhecida entre os sertanejos pelo nome de: “Os Revoltosos”. O Sr. Manoel Quirino Matos, foi convidado pelo Coronel Horácio de Matos, seu primo, para ajudar a combater a Coluna Prestes. Manoel Quirino Matos, acompanhado de seus homens já tinha feito vários ataques e causado baixas em grupos da Coluna, quando passavam na região de Morro do Chapéu e de Barra do Mendes. Ele desenvolveu o trabalho de recrutar voluntários para substituir as baixas em combates enfrentados pelo Batalhão Patriótico Lavras Diamantinos. Este e outros batalhões perseguiram a Coluna Prestes ou seu pessoal de apoio até o final de 1926, quando a Coluna entrou no Mato Grosso, alcançando a divisa com a Bolívia. Após o cumprimento da missão os combatentes voltaram para seus lugares de origem.

       É importante citar que em 1973 a cidade de Lençóis conseguiu o reconhecimento como cidade histórica e assim foi tombada (declarada de interesse histórico) pelo IPHAB (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico da Bahia) e pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A cidade de Lençóis conserva viva a memória dos anos áureos de glória e muita riqueza proporcionada pela exploração dos garimpos de diamantes da região. A cidade mostra ainda os casarões e a cultura das últimas décadas do período imperial sob o comando do imperador D. Pedro II. Mostra também construções das primeiras décadas do período após a proclamação da República em 1889, revelando assim uma parte importante da História do Brasil.

      O adjetivo gentílico para as pessoas que nascem neste Município é lençoense. Lençóis tem um povo bom, hospitaleiro e trabalhador. Os limites do Município são os seguintes: ao Norte: Bonito e Wagner; ao Sul: Andaraí; ao Leste: Andaraí e Lajedinho; ao Oeste: Iraquara  e Palmeiras.

 

 Este texto é parte integrante do livro Chapada Diamantina, em elaboração.

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SOBRE O AUTOR:

SAUL RIBEIRO DOS SANTOS nasceu na Lagoa do Barro, Ipupiara, Bahia. Filho de Nisan Ribeiro dos Santos e Carolina Pereira de Novais. É casado com a Drª Agripina Alves Ribeiro, com quem tem os filhos Raquel Ribeiro dos Santos, Esther Ribeiro dos Santos e Arão Wagner Ribeiro. Formado em Economia, Adm. de Empresas e em Ciências Contábeis pela Unigranrio, Rio de Janeiro. Trabalhou durante vinte anos num grande banco comercial.

Sempre gostou de escrever. Apaixonado por assuntos das  Regiões da Chapada Diamantina e do Médio Vale do São Francisco. Gosta e costuma conversar com pessoas idosas com o objetivo de aprender e conhecer melhor a história regional.

Autor do livro DECISÕES & DECISÕES, publicado em 2013 pela Gráfica e Editora Clínica dos Livros, de Feira de Santana, Bahia.

 


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