(ESTÁTUA EM HOMENAGEM AOS GARIMPEIROS)
(PREF. MUNICIPAL DE LENÇÓIS - PARTE DE CIMA E CÂMARA DE VEREADORES NA PARTE DE BAIXO)
MUNICÍPIOS
DA CHAPADA DIAMANTINA
MUNICÍPIO
DE LENÇÓIS (Parte I)
Saul
Ribeiro dos Santos
INTRODUÇÃO
Lençóis é um importante Município
do Estado da Bahia. Faz parte do grupo dos Municípios Históricos. Está situado
na parte Leste da Chapada Diamantina. Seu território se estende por uma área
de 1.283,32 km² e a população em 2016 foi estimada em 11.544 habitantes.
(1) Conforme informativo/2017 da ALBA – Assembleia Legislativa da Bahia, a
distância entre Lençóis e Salvador é de 413 km. Ostenta montanhas, matas
exuberantes – vegetação nativa do tipo Mata Atlântica, vales e pequenos rios
com corredeiras, cachoeiras, algo singular dentro do sertão.
Nota-se ainda belezas naturais encantadores
com riachos, pequenas lagoas e bosques
que serviam de habitat para os animais selvagens. Os primeiros moradores
chegaram a este rincão nos primeiros anos do século XIX. Mas antes alguns
aventureiros passaram por esta parte das Lavras Diamantinas. Naquele tempo
imperava a lei da selva – índios e muitos animais ferozes habitavam estas
partes.
Quem visita Lençóis tem um belo
encontro com a natureza e com a História – uma sequência de eventos que
marcaram quase dois séculos da civilização nesta bela e importante parte da
Chapada Diamantina.
Conta-se que nesta parte montanhosa era
grande a produção de mel de abelhas. Eram abelhas silvestres de bom teor
melífero das raças mandaçaia, jataí, uruçú (Enciclop. Barsa e Dic. Caldas
Aulete) e outras espécies, todas muito dóceis (mansas), cujo mel de sabor
agradável sempre foi, e até hoje é muito apreciado.
No período de 1941 a 1960 o Sr. Adelino
P. Novais (avô materno do autor destas linhas), tinha como uma das suas
atividades a apicultura (criação de abelhas), tendo em vista apenas o consumo
familiar e local. Ele mantinha cortiços (troncos de árvores, trabalhados de
forma especial para servir de casa das abelhas) em sua propriedade rural na
Vila Jordão (atual Ipupiara). A preferência era pela criação das abelhas
“mandaçaia”. Naquele tempo a região não estava infestada por abelhas do tipo
africanas, que possuem hábitos migratórios e são dominadoras. Esta espécie de
abelhas começou a invadir esta parte após 1970, de modo que a partir daquele
ano até 1990 destruíram quase a totalidade das abelhas dóceis da região.
O Município de Lençóis está dentro do PNCD
- Parque Nacional de Chapada Diamantina, aprovado pelo Dec. Federal nº 91.655
de 17/09/1985. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, que esta parte da
Chapada Diamantina foi, e continua sendo, um verdadeiro paraíso. Desde os
primórdios e até 1950, era grande a produção de frutas silvestres. Além de
tudo, esta parte ostenta um cenário natural maravilhoso.
Lençóis é uma cidade de muitas histórias.
Mas, por que o nome Lençóis? Existem diversas versões ou explicações. Alguns
dizem que o nome da cidade tem origem nos terrenos lajeados nos trechos por
onde o rio passa formando espuma branca. Entretanto a explicação mais
convincente e aceita pelos observadores é a que descreve a formação de um
pequeno povoado em função dos garimpos. A notícia da existência de diamantes e
carbonados (2) em abundância fez com que muitas pessoas se dirigissem em
direção ao povoado em formação. O afluxo de garimpeiros e compradores de pedras
preciosas que atravessavam as montanhas em direção ao pequeno povoado era
crescente e constante. Pelas estradas antigas, a partir do alto da serra, ao
começar a descida eles olhavam e conseguiam enxergar lá em baixo os tetos
feitos de pano de cor clara, que formavam a cobertura da imensa quantidade de
barracas. Eram os alojamentos dos garimpeiros. Dava a impressão de muitos
lençóis estendidos.
Após fortes chuvas nas serras próximas,
é impressionante o volume e a forte correnteza das águas que descem pelo Rio
Lençóis, que margeia o Mercado de Artes e Cultura. Estive em Lençóis e
presenciei esse espetáculo.
São de grande interesse as histórias dos
garimpos e garimpeiros do final no século XIX. Em Lençóis os interessados
encontram muitos casarões, símbolos diversos e até calçamentos de ruas que
fazem lembrar os bons tempos da mineração. Tudo ao estilo da época. Foi um
período de grande opulência, ostentação de riqueza e abundância.
A vila Lençóis tornou-se muito conhecida
no Brasil e na Europa, principalmente na França. Este País europeu chegou a
instalar e inaugurar um sub-consulado francês na cidade, tendo em vista
facilitar os negócios relativos a compra, financiamento e exportação de
diamantes e carbonados (2) para a Europa. Não se sabe exatamente como era o
controle fiscal alfandegário desses produtos de grande valor que eram
exportados.
Lençóis possui e conserva grandes casarões
faustosos, com arquitetura impressionante, exibindo arte e bom gosto. Essa
riqueza patrimonial foi tombada (declarada de interesse histórico e artístico)
pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1973.
__________________
(1) Relatório IBGE/Cidades/Bahia/Lençóis. Acesso em 30/12/2016.
(2) Carbonado, uma espécie de diamante negro, de dureza excepcional, de grande proveito no uso industrial e na perfuração de túneis. (Dic. Caldas Aulete vol. I, Editora Delta - 1958).
EMANCIPAÇÃO
POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
Os primeiros habitantes desta
terra com paisagens serranas magníficas foram os índios das tribos tapuias.
Naquele tempo a fauna e a flora estavam praticamente intactas. Os índios não
degradavam florestas e rios. Vivendo desta maneira a natureza garantia-lhes os
meios de sobrevivência.
Há informações mostrando que a primeira
pessoa a fixar residência e desenvolver propriedades nesta parte de montanhas
foi o tenente Manoel Lourenço Pinto. As informações dão conta de que na
primeira metade do século XIX, lá pelos anos 1820/1825, criadores de gado
iniciaram a construção de algumas casas nas proximidades das margens do riacho
São João, afluente do Rio Santo Antônio. Ao pequeno arraial deram o nome de
Campos de São João. Naquele tempo os rebanhos não eram numerosos, de modo que o
pasto dos campos abertos era considerado mais do que suficiente. Conforme
contam, os criadores de gado adquiriram terras do tenente-mor Francisco da
Rocha Medrado.
A ocupação rápida e progressiva destas
terras pelos povos “civilizados” está intimamente ligada à exploração dos
garimpos de pedras preciosas, principalmente diamantes. Nos anos da segunda
metade do século XIX a garimpagem (exploração e lavra de jazidas minerais)
passou a ser a atividade principal desta parte do território das “Lavras
Diamantinas”, pois esse era o nome da região naquele tempo. A vila e depois no
entorno da cidade de Lençóis era considerada a capital das “Lavras
Diamantinas”. Toda a região produzia diamantes, carbonados e cristal-de-rocha.
O nome do mineral mais falado e que despertava maior interesse era diamante.
Foram muitos anos de riquezas e muito luxo.
Segundo a visão de grandes historiadores,
o povoamento cresceu rapidamente entre 1845 e 1895 com a descoberta de garimpos
de diamantes nos riachos da região. Na época houve falta de moradia (mesmo com
aposentos rústicos) para tanta gente. Diamantes e carbonados existiam com
grande fartura e não era difícil nem demorava muito tempo para um garimpeiro
encher o picuá (pequeno reservatório onde se guardavam diamantes e outras
pequenas pedras preciosas). Foi uma época em que correu muito dinheiro na
região. Os negócios eram vultosos.
As notícias da existência das pedras
preciosas atingiram toda a região e todas as partes do Brasil. Propagou-se
rapidamente em toda a província da Bahia, de forma que foram chegando
garimpeiros, compradores, atravessadores (compradores intermediários), mascates
(vendedores ambulantes) e outros aventureiros. O povoado viveu grande afluxo de
pessoas, todas movidas pelo interesse de ganhar dinheiro produzido pelos
diamantes. A partir do último decênio do século XIX e nos primeiros anos do
século seguinte, que foram anos de grande produção, surgiram as construções
suntuosas de grande luxo.
A riqueza
criou condições favoráveis para os poderosos erguerem casarões e grandes
sobrados.
Muitos dos que chegavam e aumentavam a
lista de moradores eram pessoas abastadas, com grandes recursos – os “bem
de vida”. Na verdade, todas as pessoas que chegavam ao povoado,
garimpeiros ou compradores de pedras, tinham os mesmos objetivos: enriquecimento
rápido. Eram realizadas muitas festas. Lençóis era uma Vila formada por
garimpeiros, muitos aventureiros e muitas mulheres dançarinas - pessoas vindas
de diversas partes da Bahia e de outras partes do Brasil. Havia também pessoas
que saiam de suas terras na Europa para entrar nos garimpos com o desejo do
enriquecimento. Eram pessoas de diversas culturas e temperamentos. Dentre as
pessoas que se destacaram na formação da Vila e posteriormente Município, está
o Comendador Antônio Botelho de Andrade, natural das Minas Gerais.
Como
acontece com todos os povoamentos formados naquelas condições (com muitos
garimpos e garimpeiros), eram consumidas muitas bebidas, haviam muitos cabarés
(casas noturnas com festas, bebidas e mulheres) e muitas casas de jogos. Por
esses motivos todas as noites surgiam muitas encrencas. Os coronéis do sertão autorizados
pelo governo imperial, estavam ali com seus comandados para equilibrar a
situação e evitar o pior, tudo na medida do possível.
SOBRE O AUTOR:
SAUL RIBEIRO DOS SANTOS nasceu na Lagoa do Barro,
Ipupiara, Bahia. Filho de Nisan Ribeiro dos Santos e Carolina Pereira de
Novais. É casado com a Drª Agripina Alves Ribeiro, com quem tem os filhos
Raquel Ribeiro dos Santos, Esther Ribeiro dos Santos e Arão Wagner Ribeiro.
Formado em Economia, Adm. de Empresas e em Ciências Contábeis pela Unigranrio,
Rio de Janeiro. Trabalhou durante vinte anos num grande banco comercial.
Sempre gostou de escrever. Apaixonado por assuntos
das Regiões da Chapada Diamantina e do
Médio Vale do São Francisco. Gosta e costuma conversar com pessoas idosas com o
objetivo de aprender e conhecer melhor a história regional.
Autor do livro DECISÕES & DECISÕES, publicado em
2013 pela Gráfica e Editora Clínica dos Livros, de Feira de Santana, Bahia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário