segunda-feira, 27 de maio de 2024

MUNICÍPIO DE LENÇÓIS - PARTE I

 


                                    (ESTÁTUA EM HOMENAGEM AOS GARIMPEIROS)


(PREF. MUNICIPAL DE LENÇÓIS - PARTE DE CIMA E CÂMARA DE VEREADORES NA PARTE DE BAIXO)



 

MUNICÍPIOS DA CHAPADA DIAMANTINA

MUNICÍPIO DE LENÇÓIS (Parte I)

Saul Ribeiro dos Santos

📧saul.ribeiro1945@gmail.com       

 

 

INTRODUÇÃO

 

       Lençóis é um importante Município do Estado da Bahia. Faz parte do grupo dos Municípios Históricos. Está situado na parte Leste da Chapada Diamantina. Seu território se estende por uma área de 1.283,32 km² e a população em 2016 foi estimada em 11.544 habitantes. (1) Conforme informativo/2017 da ALBA – Assembleia Legislativa da Bahia, a distância entre Lençóis e Salvador é de 413 km. Ostenta montanhas, matas exuberantes – vegetação nativa do tipo Mata Atlântica, vales e pequenos rios com corredeiras, cachoeiras, algo singular dentro do sertão.

Nota-se ainda belezas naturais encantadores com riachos, pequenas lagoas e bosques  que serviam de habitat para os animais selvagens. Os primeiros moradores chegaram a este rincão nos primeiros anos do século XIX. Mas antes alguns aventureiros passaram por esta parte das Lavras Diamantinas. Naquele tempo imperava a lei da selva – índios e muitos animais ferozes habitavam estas partes.

Quem visita Lençóis tem um belo encontro com a natureza e com a História – uma sequência de eventos que marcaram quase dois séculos da civilização nesta bela e importante parte da Chapada Diamantina.

Conta-se que nesta parte montanhosa era grande a produção de mel de abelhas. Eram abelhas silvestres de bom teor melífero das raças mandaçaia, jataí, uruçú (Enciclop. Barsa e Dic. Caldas Aulete) e outras espécies, todas muito dóceis (mansas), cujo mel de sabor agradável sempre foi, e até hoje é muito apreciado.

No período de 1941 a 1960 o Sr. Adelino P. Novais (avô materno do autor destas linhas), tinha como uma das suas atividades a apicultura (criação de abelhas), tendo em vista apenas o consumo familiar e local. Ele mantinha cortiços (troncos de árvores, trabalhados de forma especial para servir de casa das abelhas) em sua propriedade rural na Vila Jordão (atual Ipupiara). A preferência era pela criação das abelhas “mandaçaia”. Naquele tempo a região não estava infestada por abelhas do tipo africanas, que possuem hábitos migratórios e são dominadoras. Esta espécie de abelhas começou a invadir esta parte após 1970, de modo que a partir daquele ano até 1990 destruíram quase a totalidade das abelhas dóceis da região.

O Município de Lençóis está dentro do PNCD - Parque Nacional de Chapada Diamantina, aprovado pelo Dec. Federal nº 91.655 de 17/09/1985. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, que esta parte da Chapada Diamantina foi, e continua sendo, um verdadeiro paraíso. Desde os primórdios e até 1950, era grande a produção de frutas silvestres. Além de tudo, esta parte ostenta um cenário natural maravilhoso.

Lençóis é uma cidade de muitas histórias. Mas, por que o nome Lençóis? Existem diversas versões ou explicações. Alguns dizem que o nome da cidade tem origem nos terrenos lajeados nos trechos por onde o rio passa formando espuma branca. Entretanto a explicação mais convincente e aceita pelos observadores é a que descreve a formação de um pequeno povoado em função dos garimpos. A notícia da existência de diamantes e carbonados (2) em abundância fez com que muitas pessoas se dirigissem em direção ao povoado em formação. O afluxo de garimpeiros e compradores de pedras preciosas que atravessavam as montanhas em direção ao pequeno povoado era crescente e constante. Pelas estradas antigas, a partir do alto da serra, ao começar a descida eles olhavam e conseguiam enxergar lá em baixo os tetos feitos de pano de cor clara, que formavam a cobertura da imensa quantidade de barracas. Eram os alojamentos dos garimpeiros. Dava a impressão de muitos lençóis estendidos.

Após fortes chuvas nas serras próximas, é impressionante o volume e a forte correnteza das águas que descem pelo Rio Lençóis, que margeia o Mercado de Artes e Cultura. Estive em Lençóis e presenciei esse espetáculo.

São de grande interesse as histórias dos garimpos e garimpeiros do final no século XIX. Em Lençóis os interessados encontram muitos casarões, símbolos diversos e até calçamentos de ruas que fazem lembrar os bons tempos da mineração. Tudo ao estilo da época. Foi um período de grande opulência, ostentação de riqueza e abundância.

                                                   

A vila Lençóis tornou-se muito conhecida no Brasil e na Europa, principalmente na França. Este País europeu chegou a instalar e inaugurar um sub-consulado francês na cidade, tendo em vista facilitar os negócios relativos a compra, financiamento e exportação de diamantes e carbonados (2) para a Europa. Não se sabe exatamente como era o controle fiscal alfandegário desses produtos de grande valor que eram exportados.

Lençóis possui e conserva grandes casarões faustosos, com arquitetura impressionante, exibindo arte e bom gosto. Essa riqueza patrimonial foi tombada (declarada de interesse histórico e artístico) pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1973.

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(1) Relatório  IBGE/Cidades/Bahia/Lençóis. Acesso em 30/12/2016.

(2)   Carbonado, uma espécie de diamante negro, de dureza excepcional, de grande proveito no uso industrial e na perfuração de túneis. (Dic.  Caldas Aulete vol. I, Editora Delta - 1958).


EMANCIPAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

                                                      

Os primeiros habitantes desta terra com paisagens serranas magníficas foram os índios das tribos tapuias. Naquele tempo a fauna e a flora estavam praticamente intactas. Os índios não degradavam florestas e rios. Vivendo desta maneira a natureza garantia-lhes os meios de sobrevivência.

Há informações mostrando que a primeira pessoa a fixar residência e desenvolver propriedades nesta parte de montanhas foi o tenente Manoel Lourenço Pinto. As informações dão conta de que na primeira metade do século XIX, lá pelos anos 1820/1825, criadores de gado iniciaram a construção de algumas casas nas proximidades das margens do riacho São João, afluente do Rio Santo Antônio. Ao pequeno arraial deram o nome de Campos de São João. Naquele tempo os rebanhos não eram numerosos, de modo que o pasto dos campos abertos era considerado mais do que suficiente. Conforme contam, os criadores de gado adquiriram terras do tenente-mor Francisco da Rocha Medrado.

A ocupação rápida e progressiva destas terras pelos povos “civilizados” está intimamente ligada à exploração dos garimpos de pedras preciosas, principalmente diamantes. Nos anos da segunda metade do século XIX a garimpagem (exploração e lavra de jazidas minerais) passou a ser a atividade principal desta parte do território das “Lavras Diamantinas”, pois esse era o nome da região naquele tempo. A vila e depois no entorno da cidade de Lençóis era considerada a capital das “Lavras Diamantinas”. Toda a região produzia diamantes, carbonados e cristal-de-rocha. O nome do mineral mais falado e que despertava maior interesse era diamante. Foram muitos anos de riquezas e muito luxo.

Segundo a visão de grandes historiadores, o povoamento cresceu rapidamente entre 1845 e 1895 com a descoberta de garimpos de diamantes nos riachos da região. Na época houve falta de moradia (mesmo com aposentos rústicos) para tanta gente. Diamantes e carbonados existiam com grande fartura e não era difícil nem demorava muito tempo para um garimpeiro encher o picuá (pequeno reservatório onde se guardavam diamantes e outras pequenas pedras preciosas). Foi uma época em que correu muito dinheiro na região. Os negócios eram vultosos.

As notícias da existência das pedras preciosas atingiram toda a região e todas as partes do Brasil. Propagou-se rapidamente em toda a província da Bahia, de forma que foram chegando garimpeiros, compradores, atravessadores (compradores intermediários), mascates (vendedores ambulantes) e outros aventureiros. O povoado viveu grande afluxo de pessoas, todas movidas pelo interesse de ganhar dinheiro produzido pelos diamantes. A partir do último decênio do século XIX e nos primeiros anos do século seguinte, que foram anos de grande produção, surgiram as construções suntuosas de grande luxo.

A riqueza criou condições favoráveis para os poderosos erguerem casarões e grandes sobrados.

Muitos dos que chegavam e aumentavam a lista de moradores eram pessoas abastadas, com grandes recursos – os bem de vida. Na verdade, todas as pessoas que chegavam ao povoado, garimpeiros ou compradores de pedras, tinham os mesmos objetivos: enriquecimento rápido. Eram realizadas muitas festas. Lençóis era uma Vila formada por garimpeiros, muitos aventureiros e muitas mulheres dançarinas - pessoas vindas de diversas partes da Bahia e de outras partes do Brasil. Havia também pessoas que saiam de suas terras na Europa para entrar nos garimpos com o desejo do enriquecimento. Eram pessoas de diversas culturas e temperamentos. Dentre as pessoas que se destacaram na formação da Vila e posteriormente Município, está o Comendador Antônio Botelho de Andrade, natural das Minas Gerais.

Como acontece com todos os povoamentos formados naquelas condições (com muitos garimpos e garimpeiros), eram consumidas muitas bebidas, haviam muitos cabarés (casas noturnas com festas, bebidas e mulheres) e muitas casas de jogos. Por esses motivos todas as noites surgiam muitas encrencas. Os coronéis do sertão autorizados pelo governo imperial, estavam ali com seus comandados para equilibrar a situação e evitar o pior, tudo na medida do possível.

SOBRE O AUTOR:

SAUL RIBEIRO DOS SANTOS nasceu na Lagoa do Barro, Ipupiara, Bahia. Filho de Nisan Ribeiro dos Santos e Carolina Pereira de Novais. É casado com a Drª Agripina Alves Ribeiro, com quem tem os filhos Raquel Ribeiro dos Santos, Esther Ribeiro dos Santos e Arão Wagner Ribeiro. Formado em Economia, Adm. de Empresas e em Ciências Contábeis pela Unigranrio, Rio de Janeiro. Trabalhou durante vinte anos num grande banco comercial.

Sempre gostou de escrever. Apaixonado por assuntos das  Regiões da Chapada Diamantina e do Médio Vale do São Francisco. Gosta e costuma conversar com pessoas idosas com o objetivo de aprender e conhecer melhor a história regional.

Autor do livro DECISÕES & DECISÕES, publicado em 2013 pela Gráfica e Editora Clínica dos Livros, de Feira de Santana, Bahia.

 

 

  

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