sexta-feira, 31 de maio de 2024

AMOR - FILEMON MARTINS

 






AMOR 
Filemon Martins
 
MOTE 
Vou confessar-te, querida, 
porque tu és minha flor: 
por ti eu dou minha vida, 
por ti eu morro de amor. 


GLOSA



VOU CONFESSAR-TE, QUERIDA, 
já não tenho outro desejo. 
Só quero ver-te esculpida 
na moldura do meu beijo. 

Quero sentir teu carinho, 
PORQUE TU ÉS MINHA FLOR 
perfumando o meu caminho 
sem mágoas e sem rancor. 

Quero a Terra Prometida 
que vejo nos olhos teus, 
POR TI EU DOU MINHA VIDA 
sem nunca dizer adeus. 

E vivendo intensamente 
zombando da própria dor, 
posso jurar docemente: 
POR TI EU MORRO DE AMOR. 

UM GRANDE AMOR - FILEMON MARTINS

 



UM GRANDE AMOR

Filemon Martins




Acordo cedo e a saudação começa,
um pássaro cantando na ramada,
não para de pular, trinando à beça,
talvez para acordar a sua amada.

Emplumado a trinar, mesmo sem pressa,
ele quer conquistar a namorada.
Um grande amor em seu cantar confessa
sem demonstrar cansaço na empreitada.

Igual a mim, amigo passarinho,
que espero receber algum carinho
de quem o coração nunca esqueceu...

E igual a ti, também acordo cedo,
e professo em meus versos sem segredo,
o grande amor que a vida não me deu!

SONETO DO AMOR TOTAL - VINICÍUS DE MORAEES


                                             (FOTO DA PRIMA LALINHA, IPUPIARA, BAHIA)


SONETO DO AMOR TOTAL

Amo-te tanto, meu amor... Não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

A FLOR DO MARACUJÁ - FAGUNDES VARELA

 

(

FOTO DE LALINHA, IPUPIARA, BAHIA)


A FLOR DO MARACUJÁ
Luis Nicolau Fagundes Varela
(Rio Claro-RJ-1841-Niterói-RJ-1875)



Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!

Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas do sereno
Nas folhas de gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá!

Pelas tranças da mãe-d'água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá!

Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!

Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá!
Pelas florestas imensas
Que falam de Jeová!
Pela lança ensanguentada
Da flor do maracujá!

Por tudo o que o céu revela!
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh'alma
De tua alma escrava está!...
Guarda contigo esse emblema
Da flor do maracujá!

Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em — a —
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!


TROVAS DO FILEMON


 



TROVAS DO FILEMON


 
A trova é simples, pequena,
flor que vem do coração.
Brota no peito, serena,
- são gotas de inspiração.


São quatro linhas somente
para dizer o que sinto,
pois te quero loucamente,
essa é a verdade, não minto.


Gosto da vida pacata,
homens simples dos Sertões,
pois vejo usando gravata
por aqui muitos ladrões.


Corre, entre o povo, um ditado,
lição para ser lembrada:
“boi manso” – tome cuidado,
“nunca perde uma chifrada”.



(ANTOLOGIA 15, PÁGINA 47, POSTAL CLUBE)

OS IDOS - MÁRIO RIBEIRO MARTINS

 



OS IDOS

Mário Ribeiro Martins


Quando, nos tempos idos, mas lembrados, 
meu coração fervia nas paixões, 
os meus versos riquíssimos, amados, 
eram versos de amor, de corações.
 
Mas hoje são meus versos repassados 
de tristezas, misérias, ilusões. 
Meus dias de velhice, desfibrados, 
não me trazem senão recordações.
 
A musa me fugiu do coração 
e a dor se apoderou da minha vida: 
só faço versos tristes nesta lida.

Muitos lerão meus versos e dirão, 
e dirão para todos com certeza: 
ESTE VATE FOI FILHO DA TRISTEZA.

PARADOXO - FILEMON MARTINS


 


PARADOXO 

 FILEMON MARTINS

Quase sempre erramos
porque queremos ser fortes e poderosos
na jornada da vida.
Esquecemos que é a brisa leve e suave
que produz música ao balançar as folhas das árvores
e não a tempestade que fere, mata e destrói.

NEVER MORE - MÁRIO RIBEIRO MARTINS

 




NEVER MORE

MÁRIO RIBEIRO MARTINS


Lembro-me bem. Faz hoje um ano apenas...
Ela tocava... Tinha a cor de opala...
Às vezes parecia as açucenas
Exalando perfume em grande escala.

Inolvidáveis mãos... Leves quais penas...
O som do seu piano inda me abala...
Notas suaves... Notas bem serenas
Eram toda a beleza lá na sala.

Hoje! Não sei... Talvez mais forte e linda,
Toque melhor e muito mais ainda,
Toque a mesma canção, mas não me alcança...

Lar... Jovem... O piano recostado...
Sala... Beleza... Foram sonho alado,
Pois apenas ficaram na lembrança!

(LETRAS ANAPOLINAS, POESIA E PROSA, PÁGINA 400)

GALÉ DA DOR - JOAQUIM BONIFÁCIO G. SIQUEIRA

 



GALÉ DA DOR
Joaquim Bonifácio Gomes de Siqueira

Noite. No céu trevoso, inquieto e vaga,
Vésper somente, a pelejar cintila...
E lágrimas de luz a luz destila,
Enquanto a treva as solidões alaga...

Ó noite triste, plácida e tranquila!
Por tua paz na terra se propaga
A voz das cousas mortas, voz pressaga,
Que tremo eu próprio, ao entendê-la e ouvi-la...

E enquanto dorme tudo – homens e cousas,
Enquanto, ó minha amada, tu repousas
Na paz das almas sãs, imaculadas,

Como um galé que sombra atroz persegue,
Sinto que a dor, na treva, a espiar-me segue
Seus passos pelas urzes das estradas.


(LETRAS ANAPOLINAS, ANTOLOGIA, PÁGINA 258)

quinta-feira, 30 de maio de 2024

GRANDE VOO - VANDA FAGUNDES QUEIROZ

 




             GRANDE VOO


                    VANDA FAGUNDES QUEIROZ



Ao contemplar na plácida amplidão

a ave pequena em leve trajetória,

penso em mim mesma e na limitação

da vida humana confinada e inglória.



Neste cotejo, mostra-me a ilusão

desigualdade autêntica e notória.

E tanto amarga tal comparação,

que sinto aflita esta alma merencória.



- Eu bem quisera da ave ter a sorte

e dominar,  liberta, a imensidade!...

Talvez, porém, não seja assim tão forte



ou tão segura – eis que me volta o tino:

Embora alcance plena liberdade,

retorna sempre ao ninho pequenino.



(Do livro “Conversa Calada”, página 35)


DESCOBERTA - THÉO DRUMMOND

 

                                                (FOTO DE SANDRO, IPUPIARA, BAHIA)



DESCOBERTA              

THÉO DRUMMOND 

 

 

A nuvem foi passando em disparada, 

e sumindo, saiu da minha vida. 

Não ficou um pedaço dela, nada, 

e eu senti que era como despedida. 

 

Talvez adiante fosse, inesperada, 

uma chuva que fosse recebida 

pela terra, que há tanto esturricada 

nem dava a serventia da comida. 

 

Aquela nuvem me deixou pensando 

como a gente se engana imaginando 

que a morte é a vida apenas acabada. 

 

Mas não é. Como a nuvem que sumiu, 

transformada na chuva que caiu, 

a morte é uma outra vida, transformada. 

 

(Do livro “Porta do Coração”, página 58)